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muv-luv (pc & al.)

review 0ldbutg8ld #1114

este jogo é recomendado apenas para maiores de 18 anos

obs: nós não seguimos o acordo ortográfico lusitano de 2009!

Por Rafael “Cila” Aguiar

PC

+ PlayStation3, Switch, VITA & X360.

Muv-Luv

F I C H A    T É C N I C A
Developer(s)
âge, 5pb (360, PS3, VITA, SWI)
Publisher(s)
âge, Degica (Steam), 5pb (360, PS3, VITA-JP), PQube (VITA-Ocidente), aNCHOR (SWI)
Estilo(s)
Visual Novel > Ficção científica
DATA(S) E REGIÃO(ÕES) DE LANÇAMENTO
PC
28/02/03 (JP), 30/04/04 (JP, DVD), 22/09/06 (JP, All-Ages Edition), 13/01/08 (JP, DVD Renewal Package), 29/06/12 (JP, Windows 7 Edition), 14/07/16 (EUA, Steam)
360
27/10/11 (JP)
PS3
25/10/12 (Ásia | JP, edições normal e limitada)
VITA
21/01/16 (JP), 08/06/18 (EUR, OCE), 12/06/18 (EUA, digital), 10/07/18 (EUA, física)
SWI
28/03/24 (JP)

Também incluso na(s) compilação(ões):

N.A.

Quem jogar este também poderá gostar de:

(Em vermelho, os jogos que já revisamos – se não estiver linkado, ainda não foi “upado” no novo blog.)

Doki Doki Literature Club Plus! (PC/PS4/PS5/SWI/XONE/XSX)

Muv-Luv Alternative (PC/PS3/SWI/VITA/360)

Muv-Luv Alternative: Total Eclipse (PC/PS3/360)

Nurse Love Addiction (PC/SWI/VIT)

Yumeutsutsu Re:Master (PC/PS4/SWI/VITA)

NOTA(S)

(Cada escore é uma média dos principais portais de games na web e revistas antigas quando for o caso, e também engloba a opinião dos gamers visitantes, além da crítica especializada; não necessariamente reflete meu ponto de vista sobre o jogo.)

7.6

ESTE JOGO É PRA…
(X) passar longe(X) dar uma jogadinha de leve
(X) dar uma boa jogada(  ) jogar freneticamente
(  ) chamar a rua toda pra jogar(X) uma incógnita
(X) tipos específicos de jogador. Quais? 
  • Fãs de um contraste poderoso entre dating sim bobo e ficção científica pós-apocalíptica/cyber-thriller;
  • Quem já experimentou e gostou de outras visual novels de renome como Steins;Gate e Doki Doki (como se diz na gringa, será, então, seu cup of tea).
FAIXA DE VIDA ÚTIL ESTIMADADe 30h a 50h.

Um pé em território comfy, outro no terror psicológico…

Como sempre acontece quando começamos a nos aventurar por um subgênero de jogo, preferimos dar passadas seguras, enveredando pelos nomes mais consagrados à disposição. É meu caso, de um ano pra cá, com as visual novels, gênero tão japonês em suas origens quanto os Role Playing Games – discutivelmente, até mais, já que o mundo ocidental sempre teve sua própria tradição em RPGs, derivada de obras escritas como Dungeons & Dragons e dos primeiros jogos eletrônicos de texto, até a chegada de Ultima ao mercado. Já novelas gráficas nós realmente importamos 100% do Japão, assim como nosso amor pelos mangás e animes. Ora, sucede que Muv-Luv é reputado por um bom naco de especialistas como o “início” da “maior VN de todos os tempos”. Para entender essa afirmação, sigamos com a resenha!

A primeira confusão que deve ser esclarecida, para variar nesses casos de importação, é a seguinte: Muv-Luv é em tese uma trilogia, mas existem apenas dois jogos. Tudo fica menos complicado quando a estrutura dual de Muv-Luv, o 1º jogo, é apresentada: o leitor-jogador terá acesso a dois capítulos da assim-chamada trilogia no mesmo disco/cópia digital: Muv Luv Extra & Muv-Luv Unlimited. O fecho, este sim, Muv-Luv Alternative, é uma entidade toda própria (uma continuação, um jogo separado, que excede o âmbito deste review). Muv-Luv Alternative é conhecido como um dos roteiros mais brilhantes no reino das graphic novels, e para ser adequadamente apreciado é exigido do jogador experimentar o primeiro Muv-Luv, que não é tão elogiado assim, embora seja uma boa visual novel, em sua integralidade. O papo costuma ser que o fecho, Alternative, é tão excepcional que, ele sozinho, para seu desfrute adequado, merece o maciço investimento de pelo menos 30 horas prévias, tempo de jogo estimado para completar os dois módulos de ML… Merece, novamente, com uma restrição: como em toda resenha de visual novel, precisamos sempre pontuar que só valerá a pena para aqueles que se interessam pelo esquema de jogo paradão, mais narrativo que gráfico e mais abstrato que motor do gênero aqui tratado, embora haja bastantes colírios visuais adornando os verbos, a quem interessar possa.

A primeira impressão não é muito promissora e nem infreqüente no mundo das visual novels: mais um dating sim (simulador de namoro) com colegiais?! O segmento “Extra” realmente não excede essa proposta bem restrita. Ironicamente, não traz nada extra ou além do básico ao écran do ocidental. Rigorosamente falando, é até menos “vanguardista” (para não dizer outra coisa) que Muv-Luv fôra em 2003 no Japão: Muv-Luv era um jogo com cenas eróticas explícitas! Na localização, que demorou mais de década (e cujo processo é explicado como um todo mais abaixo, na primeira CURIOSIDADE), todo elemento pornográfico foi removido, tornando o produto seguro do ponto de vista visual, ainda que recomendado somente para o público maduro devido aos innuendos sexuais e temas de conversação nada infantis (a parte do fan service, naturalmente boboca e infantilóide, pode ser descontada da afirmação), além de, numa parte mais avançada, a presença de tópicos sensíveis relacionados a violência física e psicológica.

Retomando a apresentação mais elementar, Muv-Luv é obra de uma developer pouco conhecida no Ocidente, a âge, com este acento circunflexo e letra minúscula mesmo. Como de praxe, o jogo saiu primeiro para PC. A VN ganhou ports para Xbox 360 e PlayStation3 8 e 9 anos depois, respectivamente, mas seguiu exclusividade de usuários da língua japonesa até um projeto de crowdfunding trazer a experiência oficialmente para os falantes da língua inglesa, nas seguintes plataformas: PC (exclusividade Steam), PlayStation VITA e Nintendo Switch, nessa ordem cronológica, com a ressalva de que a versão Switch americano-européia ainda não saiu até a data desse artigo (março de 2024). No Japão o jogo continuou sendo relançado incontáveis vezes, como vemos nos dados de lançamento da versão computador: trocando o CD pelo DVD, suprimindo as cenas eróticas, adaptando-se para novos Windows ou simplesmente repondo o estoque, já que Muv-Luv é um best-seller por lá (e cada vez mais vendido e reconhecido também por estas bandas).

Um review de visual novel não começa propriamente enquanto não entramos no enredo, tanto quanto podemos entrar sem estragar a experiência para um não-jogador, potencialmente um jogador num futuro próximo… Eis como é delicada a arte de resenhar esse subgênero – sempre se corre o risco de não falar o suficiente do produto ou de falar até demais! Chamemos o arco “Extra” de “metade Comédia” de Muv-Luv. Você é o típico machinho de ensino médio, Takeru Shirogane, inexplicavelmente sortudo com garotas. Primeiramente, ele é vizinho da “amiga de infância” (tropo exaurido) Sumika Kagami, a menina do cabelo rosa (tendente ao ruivo, para não confundir com outra personagem secundária de cabelo rosa shock!). Mas o marco zero da storyline vem a ser uma manhã em que Takeru acorda ao lado de uma desconhecida na cama (ambos estão vestidos, e ele realmente nunca a viu na vida, não é nada do que você está pensando…). Tudo se esclarece não se esclarecendo, pois Takeru não recebe respostas lógicas sobre a identidade da criatura: Meiya Mitsurugi, a menina do cabelo azul escuro, só revela que é uma multimilionária cujo destino é “se casar” com o protagonista. Ela enviou os pais de Takeru de férias por tempo indeterminado como primeiro passo de seu “plano”! Takeru mal sabe como reagir. Sumika, no entanto, sabe muito bem: com ciúmes, pois, não surpreendentemente, sempre teve uma queda por seu coleguinha de infância.

O que tampouco surpreende é que Muv-Luv Extra não se resume a um triângulo amoroso: é evidente que na sala de aula e no ambiente escolar há outras garotas, sempre nada estranhamente (estamos falando da estrutura de quase toda romcom – comédia romântica – aqui) atraídas por Takeru. Seja como for, é o mistério que circunda Meiya que ajudará a propelir a narrativa nesse tímido início – e com tímido início queremos dizer que o departamento criativo ainda não é o destaque neste módulo de Muv-Luv, embora as situações entre os personagens costumem não ser “tímidas”, para seguirmos fiéis ao tropo das romcoms.

É nesse ponto que o jogador começa a “jogar”: ele poderá direcionar Takeru mais para uma que para as outras garotas. Até aí, apenas “mais do mesmo” num mercado saturado de jogos similares. Check. Temos Mikoto, a nerd e representante de classe, figura que não pode faltar nas representações escolares nipônicas, e a professora gata, embora ela não seja um “significante outro” elegível pelo protagonista, agindo apenas como amor platônico ou embelezamento adicional e periférico ao “harém”, catalisador das disputas e interações entre os personagens que contam.

A primeira qualidade acima-do-medíocre perceptível em Muv-Luv é que a tradução incorpora elementos originais na medida certa: a transposição dos termos é informal como seria natural para um ambiente adolescente, as expressões não são tiradas do japonês sem medida ou reflexão, chistes são vertidos para o contexto ocidental, e “biriri, barará” (e assim por diante, etc.)…

O segredo para aqueles ansiosos pela parte realmente excepcional de Muv-Luv, a que merece ser incensada e justifica, para começo de conversa, esse review, é não esperar muito do prólogo ou segmento “Extra” (já é estranho que a introdução aos personagens seja chamada de ‘extra’, mas seria ainda mais estranho que nada, ou que menos do que “quase tudo”, numa visual novel fosse bizarro…), afinal de contas nem Muv-Luv, a essa altura, parece se levar a sério, a não ser no humor, que é bem-executado (e, como dizem, um bom piadista é aquele que leva suas piadas a sério e as conta direito). Meiya, por exemplo, vai transformar a casa de Takeru, sem sua autorização, num palácio por inteiro (meia, inteiro, sacou?!)… Isto é, ela vai modificar o humilde lar do protagonista dos pés à cabeça (meia, pés, sacou?!?) com seu patrimônio exagerado e excessivo sem razão de ser senão agradar àquele que não sabemos ainda por que ela elegeu como seu amo e objeto amoroso (e, ainda assim, “agradar” só na cabeça dela segundo noções a priori, pois Takeru, ou o próprio jogador, pode reagir se assustando e não “cedendo”). Em seguida, muitas referências geek salpicarão a narrativa. Takeru não pára de reclamar da morte prematura de seu console favorito, o Dreamcost; alguém da escola citará como está se entediando com um RPG no seu PlayStallion2… Takeru e Mikoto gostam de ir à loja de fliperamas (artigos muito mais populares no Japão, lembrando que o jogo é de 2003, antes da decadência em definitivo dessa mídia) para tirar um racha no Valgern-On (o Virtual-On deste mundo, mais uma referência à Sega, nada mais cult e old school que isso), lutinha de mechas. Essas coisas nunca deixam de nos proporcionar aquele risinho de canto de boca, sabe como é… Queda da quarta parede, é assim que chamam?

Com o passar do tempo, quem não espera muita coisa acabará nutrindo simpatia pelo roteiro leve e afeição pelos personagens e seus trejeitos. A parte mais vulgar de Extra é nas seções dedicadas ao romance em si, sem as referência jocosas, quando o jogo se propõe a ser um dating sim “purista”. Takeru não é plausível como garanhão; e não sofre uma “jornada de evolução de caráter ou personalidade”, ao menos nesse bloco narrativo, o que dificulta o processo de empatia entre jogador e “eu-lírico”, pelo menos por enquanto… Muv-Luv precisa de paciência até que engate.

E embora haja uma profusão de garotas com quem Takeru pode “sair”, as rotas “canônicas” seriam Meiya e Sumika. Meiya é a típica yandere possessiva, Sumika é a fofinha. Uma vez que o jogador tenha obtido êxito com uma das duas, na versão Steam, poderá ir direto para o segmento “Unlimited” da estória; originalmente, no entanto, era requerido que o jogador obtivesse os dois finais, em dois arquivos de jogo distintos, a fim de continuar a plot. Citemos o nome de outras personagens que, por razões de economia de caracteres, não descreveremos neste ensaio: Tamase, Ayamine, Sakaki. Mais uma vez, a âge propicia ao explorador uma espécie de cardápio ou lista que tem grandes chances de atingir toda a demografia de jogadores, não importa o tipo de gosto mulheril… Há até rotas gag ou completamente destrambelhadas, em tese mais difíceis de obter, pois exigem uma combinação de respostas sutil que não conduza explicitamente a nenhum interesse amoroso…

A quem a essa altura pensou em abandonar de vez o review, decepcionado com os lugares-comuns de Muv-Luv e a “marcha lenta dos acontecimentos”, peço vênia: estamos finalmente chegando à parte interessante! Nada posso fazer se tento replicar, via escrita, o efeito provocado pela própria âge em sua “obra animada” (por falar nisso, para uma VN Muv-Luv possui mais animações que a média, num gênero conhecido pela profusão de telas e avatares estáticos, fora que a equipe de desenhistas investiu em muito mais poses e aparências para cada personagem do que se vê via de regra no estilo, o que decerto ajuda a dar a impressão de que o tempo passa mais rápido em “Extra”…).

Acessar a galeria e a jukebox pós-game é mandatório

Como ligeiramente antecipado alguns parágrafos acima, quando o módulo “Extra” for “superado”, o jogador será arremessado num cenário distópico, Muv-Luv Unlimited, que expande de maneira notável o universo do jogo e, por assim dizer, acaba com sua infância e inocência, situando o jogador numa narrativa dramática – chamemo-la “metade Tragédia” – em que erros podem suprimir vidas, e que apenas episodicamente trará de volta o conteúdo slice of life/light novel da vida do “estudante num harém”. Tudo coerentemente justificável pela plot linear do jogo até os mínimos detalhes e fissuras, pelo menos para quem terminar de experimentar a trilogia completa!

Para sermos sucintos, Takeru acorda em mais um dia e, em vez de se deparar com outra garota desconhecida a seu lado na cama, percebe que seu quarto foi “reformado”: Meiya tinha construído uma porta que dava do quarto dela para seu próprio quarto, mas ela subitamente desapareceu. Acostumado com as excentricidades da riquinha, ele não dá muita bola. Quando sai da casa, efetivamente, outra constatação absurda: um mecha (robô gigante) em pedaços e perto de escombros, no caso o prédio vizinho! Mas Takeru é um jovem inconseqüente, sua ficha ainda não caiu. Ele não entende o entorno como perigoso e hostil; só consegue pensar “uau, que bacana, um robozão! queria pilotar esse bagulho, que pena que ele está destruído!”… Ele prossegue em direção à escola e é rendido por dois guardas com vestes esquisitas… Não é halloween, o que pode ser?! O colégio não é mais um colégio, mas uma instalação militar. Takeru lenta mas irreversivelmente começa a ligar os pontos e fazer a verificação das circunstâncias: nada disso pode ser um sonho… O salto de uma realidade comédica e virtualmente inofensiva para um ambiente confuso e atmosférico, como que potencializando o mero mistério em torno de Meiya no início do primeiro módulo, agora aplicável a todos os pontos geográficos, é bastante brusco e desnorteante.

Após algum tempo numa prisão, Yuuko, a tal da “professora gata”, recebe o protagonista: ela é uma cientista do governo agora, não uma docente. Takeru logo é informado de que o que ele experiencia em Unlimited não está se desenrolando depois dos fatos de Extra, mas em simultâneo, seja lá o que isso queira dizer! Yuuko explica-o com a mais profunda calma, para maior estupefacção de Takeru… E este se vê libertado, se bem que não sem um preço: deve se juntar à resistência, os humanos militarmente organizados que lutam contra uma colonização alienígena! Ele reencontra cada uma de suas “parceiras amorosas” da primeira fase, i.e., Muv-Luv Extra, com as mesmas aparências e traços de personalidade, mas novos nomes e biografias repaginadas, em sintonia com seu ambiente cyberpunk… Ninguém se lembra de Takeru, não é um jogo ou representação teatral, mega-pegadinha do malandro… O decorrer dos dias ensina essa dura lição ao protagonista. O mech que ele testemunhou na manhã do primeiro dia nada mais era que um dos equipamentos usados pelo exército de terráqueos a fim de lutar de forma mais equilibrada com seus poderosos tiranos invasores, chamados BETA. Só os melhores pilotos dos cursos de formação são autorizados a fazer expedições em mechas, e a taxa de mortalidade é altíssima. O antes pueril dating sim acaba de se tornar uma ficção científica à la Dune em que você viverá o cotidiano da sobrevivência no fio da navalha… Até mesmo o personagem tapado que é Takeru, como todo ser humano que precisa se adaptar, na hipótese em que não morre logo de cara, começa a demonstrar paulatinamente, através dos diálogos, sintomas de grande amadurecimento! E é por isso que o número de horas da narrativa, que não é efêmero, tem grande importância: se a diferença fosse marcante em poucas cenas, seria um roteiro forçado, pouco crível; acontece uma evolução morosa e convincente, entretanto, cheia de crises e retrocessos.

Um exemplo banal das atividades de Takeru em seu novo mundo: enquanto todos da instalação já estão cansados de saber desmontar, limpar e remontar suas armas, podendo fazê-lo de olhos fechados, Takeru será, de início, como eu e você, que provavelmente nunca segurou uma arma de fogo na vida. Correr alguns quilômetros nesta tarde ensolarada?! Pode esquecer, Takeru acaba de vir de uma realidade em que era um garoto sedentário viciado em Arcades! Nada que em alguns meses não possa ser revertido… Mas o pior de tudo é que ele veio parar nesse mundo como um bebê recém-nascido, e não conhece quase nada de história e geografia. Enquanto que todos falam dos aliens como se comentassem a Revolução Francesa e a Segunda Guerra, Takeru mal decorou o nome do exército rival, se sente isolado e retalhado por dentro, sem acesso a informações vitais. Em particular as últimas duas horas de Muv-Luv Unlimited já estarão no mesmo nível de primazia narrativa do épico Muv-Luv Alternative.

Ainda que as apostas sejam agora mais altas, em Unlimited, do que jamais foram em Extra, Muv-Luv permanece no corner dos clichês gamísticos: uma invasão alienígena, ok; perigosa para os personagens, mas vulgar e déjà vu para todos nós, do outro lado, devidamente “assepticizado”, da tela. É verdade, não nego. Mas, como num fractal, essa mesma dicotomia ingênua entre aliens e robôs é ainda um novo prólogo para situações ainda mais irreverentes, medonhas e dramáticas a se consumarem… um pouco agora, muito apenas no terceiro episódio canônico, módulo Alternative. Tanto quanto a romcom é apenas Unlimited sem esteróides, Unlimited é apenas Alternative sem o “modo turbo”… Muv-Luv opera num crescendo vertiginoso, em que o passar das horas e o acréscimo de adrenalina funcionam de maneira excepcional e em proporção direta – o choque diante das reviravoltas me lembra um pouco do efeito paródico que foi a aterrissagem de Doki Doki Literature Club! nas prateleiras do gênero visual novel no fim da década de 10…

Considerando-se todas as rotas, Muv-Luv leva até em torno de quarenta ou mais horas para se “atravessar”, de modo a se descobrirem um por um dos exagerados 19 finais, tirante as telas de game over possíveis com escolhas pouco sábias. Se fosse o caso de qualquer um dentre nós jogar uma demo de 20min de Muv-Luv, sobretudo do módulo Extra, soaria como uma péssima opção de jogo. O negócio é mergulhar de cabeça e deixar-se ser sugado, digestão essa demorada. Felizmente, para mim, existe gente que me precedeu nos elogios, aqui no Ocidente; e felizmente para você eu precedi sua experiência com uma resenha em português, e posso incitá-lo a jogar este longo e ótimo “jogo-novela”. O valioso tempo empregado será bem-gasto. Por último, um aviso: a narrativa NÃO termina num cliffhanger e a plot pode ser considerada “independente” e “autônoma”, mesmo para quem decidir não emendar a jogatina com a de Muv-Luv Alternative, embora seja uma grande pena se o “noveleiro” decidir terminar tão precocemente sua jornada, deixando de aproveitar a inércia do clímax e o excelente world building

CURIOSIDADES

1. FORTE TRADIÇÃO, DUPLA TRADUÇÃO

Já no início dos 2010 a MangaGamer.com tentou negociar o lançamento de uma versão em inglês para a dobradinha Muv-Luv e Muv-Luv Alternative, mas as conversas esfriaram pouco depois. A seguir, o coletivo, que é sediado no Japão mas tem o site totalmente em inglês e opera justamente como ponte para o mercado ocidental, acabou recebendo a notícia da publicação de uma tradução pirata, então o projeto de trazer o jogo oficialmente foi engavetado. Em 2015, a âge em parceria com a Degica tentaram mais uma vez, mediante uma campanha de financiamento de fãs pelo Kickstarter. O levantamento de fundos foi um sucesso completo, arrecadando, antes mesmo do fim do ano fiscal, US$1,25 milhão, quando a meta eram módicos 250 mil (quando atingirmos a meta, quintuplicaremos a meta!). Sub-metas como uma versão para o PlayStation Vita também puderam ser contempladas, obviamente, já que o objetivo inicial era tão-só o lançamento na Steam.

2. “MUV-LUV ZERO”

Muv-Luv, que gerou incontáveis spin-offs, é ele mesmo um jogo spin-off de uma VN mais antiga, Kimi ga Nozomu Eien (君が望む永遠, ‘A Eternidade que se Deseja’), Kiminozo no jargão dos fãs. Este capítulo seminal ficou confinado ao Japão e saiu em agosto de 2001 para Windows e posteriormente para Dreamcast e PlayStation 2.

Deu para perceber que Tamase é um personagem bem comic relief da narrativa…

3. MEDALHA DE OURO, PRATA OU BRONZE

Na Visual Novel Database (VNDB), maior referência no gênero e instrumento recomendadíssimo para monitorar visual novels se você pretende se especializar, Muv-Luv Alternative (a continuação do game aqui resenhado, vale lembrar) tem uma média altíssima de 8.99 (qualquer um pode votar, por isso alguns escores são até injustamente baixos), o que a deixa atualmente em terceiro lugar em todo o catálogo (virtualmente todas as visual novels existentes). Mas MVA já ocupou por muitos meses o posto , com média acima de 9. A competição é feroz!

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Lista de agradecimentos pela cessão de imagens e informações:

GAMEFAQS

ImperialScrolls

NettoSaito

NovalisZero

MOBYGAMES

VNDB.ORG/

WIKIPEDIA

https://en.wikipedia.org/wiki/Muv-Luv

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