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o que é shotacon?

ショタコン, shotakon, abreviação de Shōtarō complex (正太郎コンプレックス, shōtarō konpurekkusu), é, na cultura japonesa, a atração por personagens garotos (ou garotos na aparência) e, conseguintemente, aponta também – como termo guarda-chuva – para os artigos de mídia que exploram essa tendência. Resumidamente, trata dos mangás e animes em que garotos (homens pubescentes ou pré-pubescentes) aparecem em tintura sugestiva ou abertamente erótica, no papel mais ou menos evidente de objeto de atração para outros personagens ou centro das atenções, podendo ainda ser o protagonista de um shotakon o sujeito ativo da estória, aquele que persegue seus próprios interesses, sendo, no entanto, objeto de interesse estético ele mesmo por parte do consumidor.

Em alguns enredos, o protagonista shotakon é colocado em dupla com outro personagem masculino, compondo um romance homoerótico, mais comumente chamado yaoi ou Boys’ Love (BL). A demografia do subgênero era inicialmente o sexo feminino, mas algumas obras mais recentes miram também no espectro masculino e gay ou mesmo heterossexual, como Boku no Pico. Em outra vertente a contraparte é feminina, daí a designação “straight shota” (shota hetero). Em alguns desses trabalhos a personagem feminina é mais velha, caracterizando os oneshota (おねショタ), mistura de onē-san (お姉さん, irmã mais velha) e shota. A linha divisória entre shotacon e BL parece ter sido definida como sendo 15 anos, aproximadamente. O nome Shōtarō (正太郎) vem do mangá Tetsujin 28-go (Gigantor no Ocidente).

O uso do termo, do Ocidente ao Oriente, engloba desde material explicitamente pornográfico a romântico, leve, contendo no máximo sugestões. Há ainda quem defenda a inclusão no termo shotakon de estórias nada sexualizadas ou erotizadas em seu mais mínimo, só pela presença de protagonistas jovens que têm uma estética agradável segundo os leitores, fenômeno que intersecciona com o moe e o lolicon. Elementos esparsos do shotacon são comuns em shōjo, como por exemplo Loveless, que contém uma relação erotizada (porém assexualizada) entre um garoto de 12 anos e um adulto de 20. Um segundo exemplo é Honey de Ouran High School Host Club, que parece um menino, mas é na verdade um  adulto. Seinen manga também podem conter shotakon characters, como é o caso de Yoshinori “Yuki” Ikeda, um cross-dresser de 14 anos de Yubisaki Milk Tea e da publicação antológica Shōnen Ai no Bigaku.

Quanto ao personagem que batizou o gênero, Shōtarō é um detetive assertivo e arrogante que mostra uma astúcia superior a seus oponentes para resolver casos. Ao longo da jornada Shoutaro faz vários amigos. Seu design bishōnen foi decisivo para gerar o ramo que a ele faz referência, uma vez que fez enorme sucesso entre as mulheres. A palavra shotacon apareceu pela primeira vez na revista Fan Road em 1981. Outro exemplo de personagem como Shoutaro (adulto e considerado unanimemente belo pelos leitores e leitoras, o que não o subscreve nos pré-requisitos necessários para estar num shotacon, bem-entendido), conhecido no Ocidente, seria o youkai Sesshoumaru, de Inuyasha, para termos uma referência.

Podemos remeter o DNA do shotacon, ainda, às histórias detetivescas de Edogawa Rampo, célebre autor nipônico de thriller e mistério detetivesco, que, através de sua literatura, influenciou mangás como aquele em que Shoutaro aparece. Um dos personagens-protótipos para a figura do shotacon protagonist poderia ser Yoshio Kobayashi de Shōnentanteidan (Boy Detectives Club em inglês, mais ou menos a versão oriental dos Baker Street Irregulars, grupo ficcional de jovens detetives dos livros do próprio autor de Sherlock Holmes, Conan Doyle), quem entra em relações de interdependência afetiva com o protagonista maduro Kogoro Akechi, “o Shoutaro da estória”. Kobayashi age como penetra nos casos de seu mentor, e acaba indo morar com ele, um secluso solteirão. É uma história sem traço de eroge nem romance, mas cuja dinâmica foi seminal para o universo shotakon, por mostrar um casal de homens, por assim dizer, em relação de intimidade, como irmãos muito próximos ou pai e filho adotivos.

Considera-se em geral que o movimento shota nos quadrinhos foi uma reação aos dojinshii lolicon. A primeira leva de autoras desenhando yaoi foi decisiva para firmar o gênero, outrossim. Em 1995 a antologia de mangás U.C. BOYS: Under Cover Boys iniciou o boom comercial do gênero. Nesse período é que finalmente as demografias feminina e masculina começaram a se fundir nas mesmas publicações pela primeira vez, embora sempre haja opções segmentadas.

Não é raro que, como no caso acima, estórias shotacon/shotakon apareçam em antologias quinzenais, havendo muitas one-chapter stories, i.e., mangás muito curtos que não são episódicos. Shotaket (ショタケット), a convenção mais famosa para promover o gênero, também surgiu em 1995. Edições no final da década 2000 já recebiam mais de 1000 consumidores e apresentavam cerca de 200 mesas (evento de porte médio no Japão, mas que seria de grande porte no Brasil ou Estados Unidos).

Shotacon para mulheres é mesmo majoritariamente yaoi, estando muito presente nas revistas de compilação desse gênero, vd. Shōnen Romance. Devido a repercussões legais, yaoi que vêm a ser traduzido para o inglês nunca contêm personagens menores de idade. Em 2006, a editora Juné lançou no Ocidente um mangá de Mako Takahashi, Naichaisouyo (泣いちゃいそうよ), como Almost Crying, um shotacon não-erótico, em forma de livro.

Os japoneses são conhecidos por sua falta de imaginação no tocante a pares amorosos: normalmente não estabelecem uma conexão afetiva entre duas pessoas completamente estranhas entre si antes do início do próprio enredo. O mais das vezes, o par é constituído por irmão-irmã, professor(a)-aluno(a), chefe-empregado(a), tio(a)-sobrinho(a), às vezes mesmo pai/mãe-filho(a). Fora desses tropos bizarros, entretanto, a aparição mais comum é de romances entre colegas de escola, ambiente também altamente fetichizado pela tradição japonesa.

Em 2006 surgiu o anime shotacon Boku no Pico (My Pico na cômica tradução, ao menos para falantes do português ou espanhol…), cujo produtor afirmou ser a sua “a primeira animação shotacon da história”. O anime teve 2 continuações e depois um jogo. Mas as declarações não são verdadeiras, pois o OVA da saga eroge Enzai já havia sido exibido em 2004, sendo talvez a primeira produção com sexo homossexual masculino na TV japonesa, afora um terceiro OVA que citamos, A Forbidden Time, menos explícito, mas do precoce ano 2000, que é, portanto, o anime precursor do gênero shota. Propaganda enganosa é a alma do negócio, porque apesar da falsidade da declaração acima My Pico segue sendo o mais popular dos três!

Este artigo é parte de uma série de traduções da Wikipédia inglesa sobre animes ou tópicos tangentes, mas acrescento ou removo detalhes ou conteúdos conforme minha predileção – a ponto de o artigo final se tornar quase irreconhecível se cotejado ao artigo da Wikipedia, tantas modificações e inserções eu faço. De fato, se tornou meu artigo em vez de apenas mera tradução. Meus hiper-links não conduzem ao próprio site wikia, mas a outros artigos do rafazardly ou do seclusão (meus blogs), quando presentes.

próximo da série “anime & mangá”: O QUE É BURIKO?

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