Arcade, Genesis
+ Master System, NES & Wii.

Strider
F I C H A T É C N I C A
Developers Sega / Capcom
Publisher Sega
Estilos Ação > Plataforma 2D / Adventure
Data de Lançamento 1990 (EUA)
NOTA
7.9
Este jogo é pra…
( ) passar longe ( ) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente ( ) chamar a rua toda pra jogar ( ) um tipo específico de jogador. Qual? ______ ( ) incógnita
Aera 16 bits nos brindou com clássicos memoráveis da fórmula “pular e massacrar”. Havia os que saíam da mesmice e implementavam recursos e matizes que nos permitiam chamar os títulos de “Adventures”, pois eram uma narrativa interativa bem contada, com início, meio, clímax e fim. Do legendário Legendary Axe (que raríssimos brasileiros devem ter jogado, ou no PC Engine ou nos Arcades) aos soturnos Super Castlevania IV e Valis III, podemos dizer que o gênero estava bem-representado, nesse espaço temporal do fim dos anos 80 e começo dos 90 – e a crítica sabia disso, pois sempre os aclamou. Não seria novidade ou surpresa que muitas dessas gemas imprescindíveis para a “socialização de um gamer” voltassem à baila no Virtual Console do Wii, entre outras ressurreições em plataformas mais modernas… Strider, sem dúvida, é uma delas.

O cartucho era ovacionado como revolucionário por mais de um motivo. Mas só o do Genesis, pois as conversões de Master System e Nintendinho, dizem as más línguas, não são lá muito confiáveis. Por que 20 anos depois essa concepção mudaria? Stridernão era produto de uma parceria gratuita e exibicionista entre a Sega e a Capcom para alinhavar novos consumidores: havia conteúdo e genialidade na proposta. Para começo de conversa, essa era uma das primeiras adaptações dos fliperamas em que os produtores não começavam perguntando: “E aí, por onde começamos os cortes?”. Tudo poderia caber tranqüilamente no hardware do Mega Drive, no videogame doméstico de cada um, pelo menos essa era a promessa desse recém-chegado console…
O Grande Mestre, Meio (vamos dar um FIM nele!), destruiu simplesmente 80% da população mundial. Ele estudou o comportamento humano afincadamente, de uma estrela nebulosa, antes de chegar e aterrorizar conosco. Felizmente, para a humanidade, existe uma ilhota nos Mares Meridionais (não vá procurá-la agora!) responsável por abrigar uma safra de “ninja supermodernos” em seu treinamento bastante filtrado: exclusivo para os melhores dentre os melhores. Os soldados egressos dessa intensa seleção são os Striders. O campeão dentre eles é peneirado para partir na missão de destruir Meio, o Grande Mestre maligno: Hiryu (nada de Cóleras do Dragão, aqui!). Isso mesmo: você! Estavam reservando o talentosíssimo Hiryu para algo grande e especial, mas até que “a salvação do planeta Terra” vai dar pro gasto, o que acha?

E então, do que o tão valorizado e mimado rapagão é capaz? Piruetas, sprints, super-rasteiras e golpes no estilo são apenas o repertório básico! Tudo isso em animações fluidas sobre cenários delirantes como as montanhas nevadas da Sibéria ou uma aeronave absolutamente detalhada, num dos melhores usos da paleta de cores nos anos iniciais do Mega. Os chefes são excelentes (tem o gorila gigante, que recebeu atenção especial da equipe, que aliás nem é bem um chefe!). Não há registro de slowdowns e os saltos nos quadros de animação são escassos.
Ah, e Hiryu: ele não seria nem 50% do que é se não fosse sua espada, Falchion. Apenas tente imaginar o Batman dos filmes do Tim Burton sem o Batmóvel – deu para entender melhor a falta que faria? A destruição que essa laminazinha provoca antes de reingressar em sua bainha não está no gibi (até porque está, isso sim, na televisão!). Os golpes podem ser desferidos parado, em movimento, debaixo d’água, pulando, deslizando, dependurado em estruturas… quase não há limites! A espécie de foice que ele usa para se dependurar é outro penduricalho digno de um cinto de utilidades… Telhados e andaimes são alguns dos locais preferidos do exibido ninja Hiryu!
Robozinhos voadores levam e trazem power-ups em contêineres destrutíveis. Entre as funções dos power-ups se incluem: regenerar o HP ou mesmo incrementá-lo; invencibilidade temporária; uma Falchion temporariamente mais poderosa, ficando com raio de alcance e dano ampliados; e os robôs-companheiros especiais. Dedicarei a esses últimos, o que há de mais vibrante em termos de itens, o próximo parágrafo inteiro.

Dipodal Saucer é o robô mais simples que pode auxiliar você. Ele tem esse nome porque se sustenta em duas hastes (pense num R2-D2), e sua premissa é aumentar o poder destrutivo da espada de Hyriu através de anéis misteriosos que ele dispara. Massacrar os inimigos fica duas vezes mais fácil, mas se for atingido o Dipodal o abandona. O Terapodal Robo-Panther (uma pantera que, portanto, se movimenta em quatro patas) é o favorito da legião de stridermaníacos. É o resultado da junção de dois Dipodal Saucers coletados individualmente. Como tudo que é excepcional, tem seu prazo de validade: a pantera provoca um pandemônio na tela, não deixa quase nada escapar! Depois de terminar o tempo, os saucers voltam a se dividir, tendo você direito, ainda, aos serviços dos dois Dipodals. Por último, há o Hawk Robot, em formato de águia, menos ágil mas mais poderoso nos ataques. Malgrado tamanha pujança, seu efeito também é provisório.
Para entender o quão peculiar é a trilha sonora, seria necessário checar presencialmente, ou evocar outros games tão únicos quanto Strider. Dois bons exemplos seriam Darius e Groove Coaster, da Taito. Principalmente o opening e o jungle themes se sobressaem. Apesar de não ser uma opinião unânime, pode-se dizer que Strider apresenta uma das melhores soundtracks do período. Músicas brilhantes e esotéricas – para curtir o embalo das mais estranhas, é inegavelmente preciso entrar no clima, coisa que nem todos conseguem fazer!
A risada maníaca e cheia de eco do Mestre Meio é a deixa para os órgãos do primeiro nível começarem a tocar. Os holofotes giram excitados, o território da União Soviética soa algo familiar, embora um pouco futurista e deslocado desse mundo. O ninja se move com graça nesse cenário, procurando evitar os abismos de tirar o fôlego ao mesmo tempo que combate os amálgamas de homem, máquina e centopéia que são alguns inimigos, como Urobolos e Iron Ruler (este último de posse de lâminas que rivalizam facilmente com as do próprio Hyriu). Nas cutscenes, um clone do Gorbachev que obedece ao Mestre em tudo que lhe é ordenado, enquanto um vampiro à la Boba Fett (de novo Star Wars em cena) aponta o dedo ameaçadoramente para Hyriu. Bestas que lembram tigres dentes-de-sabre perseguem o protagonista. Ei, nada mal! Lembre-se que é o dinheiro da Sega que banca toda essa bem-convertida e amalucada aventura! Mas estamos descrevendo somente o primeiro estágio…

A fuga de uma explosão por uma estrada coberta de neve, num visual espetacular que remete a At The Mountains of Madness, do escritor de terror H.P. Lovecraft, ajuda a completar a sucessão de emoções da aparentemente interminável e indescritível primeira fase! Os matizes de cinza e roxo muito contribuem para o retrato sombrio da Rússia de Strider.
Continuando, que tal encarar um trio de Chun-Lis sanguinárias, cujos chutes são tão potentes quanto uma investida da sua Falchion? Depois de se divertir espancando as três damas, o politica(e criminal)mente incorreto Hiryu solicita com carinho e autoridade simultâneos: leve-me ao seu líder! Quando é avisado de que Meio pretende usar a supernave Ballog em seus FINS escusos, Hiryu retalia com senso de humor: “Vai mandar um brinquedo à guerra?”. Nada como esses diálogos mafiosos e bonachões entre as batalhas – o que você esperaria, de todo jeito, da empresa criadora duma série de fighting chamada Lutador de Rua?
A bordo da dita-cuja (a nave belicosa), corredores em antigravidade com o potencial de enlouquecer os jogadores que mais se deixam levar pelo ambiente hostil! Vertigem será o menor dos problemas… Uma esfera circunscreve Hiryu, bloqueando os efeitos antigravitacionais, tentando devolver um pouco de normalidade à aventura. Mas isso é o que o ninja/strider definitivamente não encontrará, por mais que procure! Enquanto “pilota” a estranha bola, o protagonista tem de rebolar para sobreviver nesse gelado coliseu aéreo, em que ninguém está a fim de brincar, só de devorá-lo vivo.

Há mais pseudo-cameos que Boba Fett, Chun Li, Gorbachev… No fim da terceira fase um sujeito muito parecido com o Capitão Gancho vai revirar suas entranhas, se você deixar. O louco do Grande Mestre Meio continuará se mostrando nas seqüências animadas entre as fases, tentando ganhar seu Oscar no cosplay do Imperador Sith de Retorno de Jedi misturado com Sloth, de Os Goonies! Na selva, um dos desafios derradeiros, nativos selvagens arremessam bumerangues e urram seus hinos canibais, enquanto dinossauros que pesam toneladas, completamente fora de contexto, dão uma ajuda involuntária! Se bem que, mais à frente, o robô baseado no T-Rex, Lago, não será uma companhia tão amistosa quanto os outros dinossauros…
Cansado? Agora falta pouco… O embate final acontece num lugar que nós no século XXI não conhecemos ainda, mas quem sabe os astrônomos o descubram – a Terceira Lua! Uma etapa nostálgica, que parece querer reviver todos os confrontos pelos quais Hiryu acaba de passar, mal e mal, com a pele chamuscada: a esfera gravitacional, as Chun-Lis homicidas (com direito a maquiagem nova), o gorila, Lago e Urobolos. A reutilização de vilões é um expediente típico de um Plataforma clássico, você já devia saber!
Se Strider, o jogo, tem uma fraqueza, que faz com que receba menos que um 8 na nossa avaliação, é na sua jogabilidade. Não entenda mal, ela não oferece falhas críticas, mas seu “desenho” ficou incompleto. Pode-se pular para cima em linha reta e dar piruetas diagonais, mas por que não pular na diagonal ou dar piruetas na vertical? Algumas plataformas, por estarem num meio-termo entre essas duas direções, provocam dores de cabeça desnecessárias ao jogador. Não que ele não possa pegar a manha após alguns lapsos. O mais irônico é que a seqüência de Strider, Strider Returns, resolve o problema dos saltos, mas avacalha com todo o resto (é um título nota 5, não fique curioso sobre ele).

Opa, a censura do jogo não é 18 anos? Pois devia!
Strider é intensamente divertido – isso tem seu lado ruim: passa muito rápido, são poucas fases, a diversão com ineditismos é breve. Os impacientes com a mecânica de pulos e aqueles que gostariam de desfrutar mais horas em frente à telinha com um Adventure poderão titubear. Não é, de fato, uma experiência tão profunda e envolvente quanto Castlevania: Bloodlines. Está mais para o lado da fanfarronice superficial. Mas produzida com excelência. Especialmente indicada para amantes de Mega Man e Out of This World.
Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo
Agradecimentos a Marc Golding do honestgamers
versão 2 – 2012; 2025.