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kana little sister (pc/psp)

CONTEÚDO CONTRA-INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS

REVIEW N° 1008 DO NEWGEN

Por Rafael de Araújo Aguiar

PC & PSP

Kana Little Sister

Kana: Imouto (JP)  
Kana ~Little Sister~ (EUA, alternativo)
Kana –Little Sister– (EUA, alternativo 2)

FICHA TÉCNICA

Developers D.O. Corp., Angel Smile

Publishers G-Collections.com, D.O.

Estilos Adventure > Drama / Filosofia / Nakige¹

DATAS DE LANÇAMENTO:

25/06/99 (JP, Renewal); 10/03/00 (JP, DVD); 15/06/01 (JP, Mouichido Kimi ni Eitai Series, versão iOS); 02/07/02 (EUA)

¹ Conceito oriental para essas outras definições (um misto de drama e filosofia de caráter interativo), geralmente aplicado a jogos famosos por serem capazes de fazer o usuário chorar enquanto os experimentam, devido ao elevado envolvimento emocional proporcionado.

NOTA

8.6

Este jogo é pra…

(X) passar longe  (X) dar uma jogadinha de leve  (X) dar uma boa jogada  (X) jogar freneticamente  (  ) chamar a rua toda pra jogar  (X) um tipo específico de jogador. Qual? Quem gosta de experiências muito emotivas e desestabilizantes; quem gostaria de aprender com a vida jogando videogame (sim, é vida também!).   (X) incógnita

Vida útil estimada: 14h20

Prezado como um dos melhores e mais memoráveis bishoujo games¹ de todos os tempos a sair em inglês, fico contente de poder dizer: Kana ~Little Sister~ merece todo o hype que adquiriu… senão mais! E antes que você se escandalize e saia correndo do jogo ao ler o título ostensivamente incestuoso, deixe-me apenas pontuar: a. Não aprovo nem condeno o incesto; b. uma reviravolta conveniente na trama evita que ocorra um –literalmente falando– incesto entre os protagonistas deste jogo. Não receie repercussões morais, a não ser que decida jogar KLS em seu trabalho ou diante de pessoas da família. Isso antecipado, vamos à resenha!

¹ Embora discorde da classificação: não é um jogo para garotas, nem sequer focado no universo das garotas!

Kana ama ler, é quase seu único passatempo no seu limitado mundo de dor, apatia e incompreensão…

Kana Little Sister é uma visual/graphic novel, como dizem por aí, em que você “controla” Taka Todo, um jovem que tem uma irmã 2 anos mais nova que sofre de um grave problema de insuficiência renal crônica e precisa pernoitar no hospital grande parte dos dias de sua vida, a fim de se submeter à diálise. O jogo mostra a evolução da relação fraternal. Antes dos mais azedinhos já torcerem o nariz pensando no sentido deturpado de “relação fraternal”, mesmo depois do que eu disse no primeiro parágrafo, bem, resta dizer que vindo da D.O., que já produziu várias obras a girar em torno de questões espúrias como “quantos tentáculos ainda cabem num só orifício dessa garota?”, KLS é quase que a santidade bíblica expressa, até porque – e veremos de perto – neste universo ficcional só é retratado o sexo romântico-amoroso, estilo papai-e-mamãe. Falando de maturidade (pessoas adultas que não precisam estar peladas uma na frente da outra para se curtirem, e para entreterem os outros, digo, o público), a enfermidade de Kana, o elenco secundário, o afeto e a idéia de morte são suma e belamente transmitidos pelo roteiro.

mas Kana também possui os amigos da escola.

Kana LS abre com uma cena de hospital. Taka faz mais uma visita a sua caçula de saúde frágil. Depois de um papo leviano, você revive, literalmente, eventos passados da infância, incrustados na memória. No começo, você odiava Kana; sentia ciúme dela com seus pais, faria de tudo para prejudicá-la. Um acontecimento em especial em meio a um piquenique familiar de final-de-semana muda abruptamente seu modo de agir. Você percebe o quanto sua irmã é importante, deve ser querida e é quase que feita de vidro. Geralmente acontece assim em “Kana” (o jogo será doravante citado entre aspas, quando eu só citar a parte do nome próprio, para evitar confusões): um fato do presente engatilha um flashback, e assim o panorama vai enriquecendo, sem confundir nenhum espectador. Mas apesar de estar falando do pretérito, para nós usualmente fechado, em Little Sister ele é até mais interativo que o presente: o jogador será obrigado a escolhas que mudarão o caminho da novela.

APRESENTAÇÃO GRÁFICA E SONORA

Dispensável dizer que estamos diante de um anime/mangá – distinção necessária para contrapor as móveis CGs e as estáticas imagens, que não deixam por isso de conter belos sprites. A arte, o desenho, são maravilhosos e requintados, embora algumas poses dos personagens soem estranhas (o ângulo, a perspectiva, mudam a fisionomia dos sujeitos mais do que num mangá comum). Os vídeos, sempre marcantes, podem ser re-acessados a qualquer momento via uma galeria/modo dedicado(a). Num game que se bifurca muito, essa ferramenta se torna essencial. Os mais tecnicistas notarão que os gráficos de KLS não dispõem de transparência de canal alfa, o que significa contornos dos corpos menos nítidos, sobretudo em contraste com o background.

Kana Little Sister só ocupa 280MB dos 700MB de um CD-ROM. Podiam ter gastado o espaço de sobra com mais músicas…

“Kana” não tem voice acting (falas ou interjeições dos personagens). E mesmo se tivesse, dificilmente teria sido re-dublado para o mercado americano, então você não discerniria uma só palavra não fosse pela legenda. A boa notícia para a banda sonora é que a trilha é uma delícia. As melodias carregam as emoções mais variadas. Kana Little Sister conta ainda com um sound test completo, e existe, ademais, a opção de copiar as músicas que você desejar para o diretório do PC, já que são extensões .mp3. Uma canção vai ser o acompanhamento singular de uma cena na hora aparentemente a mais inapropriada. As notas são felizes, aliás, vai parecer até que anunciam as coisas mais maravilhosas imagináveis; mas essa composição ilegre irá toca justamente num dos momentos mais sombrios da vida de Taka. Olha, boas chances dessa “mancada” não passar, na verdade, de ironia consciente dos produtores. É uma coleção, em suma, de 16 faixas memoráveis – 3 das quais são cantadas, e a cantora é curiosamente chamada Kana também –, que conjugadas com o enredo afrodisíaco integram a fórmula perfeita.

Os controles são bem-organizados. Diferente de outros títulos da G-Collections.com, você opera o painel ao mover a seta do mouse rumo ao topo da tela ao invés de com o botão direito do rato em qualquer parte. Há customizações de volume dos efeitos sonoros e música, separadamente, e da velocidade de rolagem do texto. Outra função permite salvar qualquer in-game screen e transpô-la para wallpaper da sua máquina.

Ainda no tocante aos gráficos, gostaria que observassem que Taka é um personagem, um verdadeiro personagem. Não é só uma desculpa sem-face usada como sua “perversão controlável” para abusar das garotinhas concupiscentes, como na esmagadora maioria dos hentai games. Mas mais do que feições bem-definidas, Taka possui esperanças, sonhos, anseios e receios bem realistas. Muitos dizem que Kana Little Sister gira em torno de Kana, e o título seria o primeiro sinal disso, mas sem o PC (personagem “controlável”), vulgo ator coadjuvante de luxo (estranho dizer isso, porém tão manifesto!), o impacto da narrativa não seria o mesmo. Por isso disse mais acima que não se trata, em minha opinião, de um bishoujo game. A propósito, uma boa dica para descobrir se você está “jogando direito” é se perguntar, enquanto joga, lê e assiste: Kana está feliz? Eu a protegi dos perigos como um bom irmão de uma menina de saúde muito frágil?

NOTA: Alguns reviewers reportaram um problema técnico com o CD/DVD, que consiste no jogo não reproduzir as músicas e rodar no mais absoluto silêncio. Isso aconteceria somente algumas vezes, logo ao ser iniciado; se a trilha não começava a funcionar junto com os gráficos, o único jeito era sair do jogo e abri-lo novamente, até o som engatar. Estranho!

AVALIAÇÃO DO CONCEITO SINGULAR

Minha intenção era fazer uma “colagem” de pontos de vista às vezes concordantes às vezes diametralmente opostos sobre a “engine” de KLS (coloco entre aspas porque não há, estritamente falando, uma gameplay, como de uso; embora ‘Kana” humilhe muitos que deveriam se orgulhar de ser mais “completos” nesse senso, já que neste jogo não tocar no teclado durante horas não significa nada em termos de usufruto da experiência). A idéia cai como uma luva num jogo polêmico como esse, para que eu possa comportar opiniões contraditórias dentro de um mesmo texto ou reportagem. Atente para a inexistência de uma “ordem de importância” entre estes pareceres que seguem abaixo; na realidade, fui inserindo-os conforme lia novas resenhas. Portanto, se você for daqueles que cristalizam as primeiras ou as últimas impressões a respeito de algo numa resenha, acho melhor ler ‘aleatoriamente’ também; e evitar consultar, por exemplo, o parecer 1 e o parecer 18 logo de primeira ou só nos finalmentes, já que são opiniões extremamente positivas e negativas, respectivamente):

De uniforme, ao gosto japonês

* * *

Parecer n. 1

“Gostar” talvez não seja a palavra certa: “Kana” me deixou seco e cru por uma semana. É como uma dose de Bourbon – e das mais envelhecidas – para um homem prestes a morrer de sede: talvez um pouco além do que ele mereça, e pode não fazer tão bem assim! Dos 6 finais possíveis, alcancei 2. Acho que não suportaria continuar e experimentar os próximos: é Bourbon demais para um simples humano sedentário pacato mediano. Nota importante: sou um enfermeiro de casos traumáticos e fui voluntário na linha de frente da guerra, então quando digo que algo é “pesado demais para usufruir numa só sentada (ou gole, para continuar com a metáfora)”, acho que falo com autoridade no assunto! Então, os mais sensíveis estão de sobreaviso sobre os choques possíveis e prováveis de acontecer ao experimentarem Little Sister, conquanto mesmo assim cada segundo valha a pena. Além do mais, de todas as formas com que se pode encarar KLS, aquele que reagir com apatia ao conteúdo e não sentir rigorosamente nada ao chegar ao epílogo é, afora um zumbi, um infeliz que não sabe jogar esse tipo de jogo. Aliás, por falar em zumbi, não tem nenhum aqui; nenhum nazista também, sem Mario, nenhuma beldades mostrando seus “órgãos internos” tampouco – só amor, senso de obrigação e coragem em estado bruto diante da morte. A vida não fica, em lugar nenhum, em tempo algum, muito mais profunda do que isso!

* * *

Parecer n. 2

Computadores não são levados a sério como forma de entretenimento fora do Japão; e para completar ainda temos a doidice de culparem Doom por assassinatos dentre crianças e adolescentes e Soldier of Fortune considerado como um “jogo maduro”. Kana Little Sister sublima toda a maturidade gamística do convencido Ocidente. Já li muitos jornalistas e game developers batendo na mesma tecla: “medo é a única emoção que podemos produzir com sucesso”, e eu acreditei nisso enquanto jogava System Shock 2. Ah, quão inocente eu era! E que triste que a indústria por aqui também tenha chegado a esse consenso e vá demorar a se dar conta da própria ingenuidade…

* * *

Parecer n. 3

Um jogo japonês lançado no mercado americano não pode passar sem que comentemos da adaptação idiomática. Mesmo com o trabalho tendo sido ok, ainda há traduções equivocadas, bolas foras contextuais e até erros de digitação. Os diálogos pecam por parecerem forçados, na versão anglófona, obedecendo a uma fórmula rija, carentes de espontaneidade, ao passo que a versão nipônica de Kana Little Sister soa natural. Em alguns casos, um personagem só repete o nome do interlocutor sem parar porque não sabe como continuar a conversa… quem jogar entenderá o ponto! “Kana” não é um desastre, longe disso: é mais uma boa produção afetada pelo baixo nível das traduções americanas, mas esse é um cenário que com fé um dia vai mudar.

* * *

Parecer n. 4

Só há de 25 a 30 pontos em que você pode fazer escolhas. Muitos gamers não acharão o suficiente. A mim não incomodou.

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Parecer n. 5

Voltar a jogar “Kana” depois de um longo intervalo é como revisitar a infância, na verdade a casa e o quarto em que você cresceu, e revirar cada cantinho atrás de lembranças profundas. Você sente a história no ar e até a memória faz questão de recordar todas as estupidezes e besteiras praticadas. Por um momento você percebe a brevidade do conto de fadas, só perceptível para quem já está fora dele: o quanto dormir naquela cama ou admirar a paisagem daquela janela não são hábitos que iriam durar, por mais que fossem tudo que você conhecia quando tinha pouca idade. Os amiguinhos fugidios… O jardim de infância não é o paraíso, é o paraíso que é um jardim de infância… Mas viver tudo isso pela segunda vez é muito mais proveitoso porque você já sabe como termina e pode curtir mais o momento. Diferente da vida, em que não podemos encontrar esses regressos ao passado na forma pura, Kana Little Sister oferece nostalgia em doses baudelaireanas, quase doentias, assim que procuramos destrancar os finais paralelos ou apenas acompanhar um velho ending mais uma vez…

Você pode duvidar, mas eu acho que “Kana” foi elaborado pensando no homem (macho, mesmo) sensitivo que já chegou pelo menos à idade universitária. Enfim, sujeitos como o próprio Taka Todo. Visual novels, como os bishoujo games, são role playing games decantados ainda mais das partes desnecessárias que só tomam tempo da diversão. A apresentação dos fenômenos aos participantes é mais direta e impactante. Ser transportado para um contexto psicologicamente mais excitante resume o apelo dos RPGs. Quanto mais você se identificar com Taka e estiver preparado para imergir e atuar na estória da sua biografia, mais maravilhas poderá tirar da obra. E mais perto você estará, conseqüentemente, de ter uma irmã de carne e osso, para o caso de não ter uma: vai aprender a amá-la, se acostumar com a presença dela, as mudanças dela, e até com a idéia de que um dia ela pode não estar mais ao seu lado…

Yumi formará parte de um triângulo amoroso dependendo das escolhas do jogador. O trágico ou cômico disso é que Yumi se parece bastante com Kana!

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Parecer n. 6

“Kana” pode ser áspero algumas vezes, a tradução pode ser diabolicamente patética, algumas das CGs podem ser de arte inferior à das still-pictures, Miki pode ser uma peituda de cabelo verde (o que é de mau gosto), mas esse é definitivamente um jogo que ajuda as pessoas. Ensina. Cura. É arte. Ok, está longe de um Shakespeare, Beethoven, Van Gogh… Mas cumpre o que todo projeto de artista pensa em realizar: fala ao coração da audiência. Primeiro a obra arranca um pedaço da sua vida, brinca com você num carrossel de emoções, depois devolve bem mais do que esse simples pedaço e essa simples viagem giratória. Mostra o lado agônico e o êxtase, inerentes à vida, face a face. Que outro país senão o Japão para fazer de um café com alguém especial o paraíso na terra; que outro país lançaria um jogo em que a dor de perder alguém se torna boa, de tão catártica? A dor é a alegria. A alegria é a dor. Mas a alegria é ainda assim maior que tudo. Ok, feche este review e vá ler a quarta parte de Assim Falou Zaratustra, onde Nietzsche diz a mesma coisa só que com mais refino.

Personagens tendo uma DR…

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Parecer n. 7

Maioria dos hentai games possui vozes. “Kana” não. Nunca entendi o porquê. Se a dublagem irrita alguém, basta colocar uma opção para removê-la, ora! Mas omitir o elemento por completo?

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Parecer n. 8

Bishoujo games são como filmes de James Bond. Não faz sentido comparar 007 com Missão: Impossível, Ultimato Bourne ou, mais temerário ainda, Beleza Americana, O Show de Truman, longas do Gus Van Sant: muito mais apropriado seriam fãs de 007 discutindo qual a hierarquia entre os próprios filmes da franquia! Nesse terreno, KLS é “o melhor James Bond”, o melhor “bishoujo game que já aportou na América”. O restante da indústria dos videogames, sobretudo a ocidental, é dissemelhante demais para merecer ser chamada de melhor ou pior.

* * *

Parecer n. 9

Considero KLS menos um jogo e mais uma peça de teatro em que o público se envolve em pontos focais. Nenhum problema pra mim, até porque, ao meu ver, mais funções de jogabilidade frustrariam o enredo, que é o aspecto mais forte do título.

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Parecer n. 10

Temas como vingança e bravura são brilhantemente captados em séries tais quais Final Fantasy, mas há uma dificuldade única, concreta, em transpor respostas emotivas mais complexas, associadas por exemplo aos limiares da vida e da morte. Pior ainda se formos considerar fazer essa transposição com poucos recursos e sem o apoio da mídia. No meio de tantos rumores, má-fama e fofoca, desafiando todas as expectativas (“só mais um hentai game…”), Kana Little Sister obteve êxito técnico. Claro, gamers pouco despojados que não conseguem se livrar do embaraço que sentem ao jogar “porns em cartoon” não usufruirão desse clássico B. Céticos, no entanto, tentai: quanto menos se espera da trama de “Kana”, mais se cai sob seu efeito hipnotizante!

Kana ainda menina

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Parecer n. 11

Se procura por um jogo com sexo gratuito e violência, revire outros becos sórdidos, no bairro do bishoujo genre mesmo. Até aqueles que só buscam replay value devem tratar de caçar em outras searas, por mais que “Kana” ofereça 6 finais [ou mesmo 7, de acordo com alguns, mas isso é surpresa, e não vou contar nem na seção de spoiler!]. Você pode jogar Final Fantasy VII 100 horas e então iniciar um outro arquivo, com coisas novas para fazer; interagir com todos os polígonos dos cenários de Grand Theft Auto: San Andreas (o que deve levar anos); passar os 4 ou 5 anos de faculdade no hack ‘n’ slash desenfreado de EverQuest (e suas inúmeras expansões)… não vou impedi-lo. Mas Kana Little Sister é diferente: leva de 4 a 6 horas pra completar (na verdade depende da sua agilidade como leitor)…

Existem 30 slots de salvamento. Pode-se, ainda, ler perfis de todos os personagens significativos e reassistir os finais já destravados.

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Parecer n. 12

Após desvendar cada um dos finais, confesso: sendo ou não o intuito original dos developers mexer com os brios dos consumidores, alguns dos desfechos fazem-no perder o sono, e não importa que você tenha arrematado o game ao meio-dia. Assustador ou amedrontrador não seriam bem as palavras, mas você começa a pensar que nem doido nas coisas! Na verdade eu acho que o sono só volta a ser satisfatório outra vez quando o jogador obtém os finais restantes, após o primeiro achado, e reflete até reencontrar a paz interior. E lembre-se: Kana Little Sister não é para gente feliz!

Kana hospitalizada tendo de dizer adeus.

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Parecer n. 13

Não importa se a última vez que o leitor chorou foi aos 13 anos ou 10 minutos atrás. “Kana” nos remete de volta ao momento do ápice do sofrimento. Pânico, raiva, remorso, intensa melancolia, tudo se mescla num inominável compêndio. O ser humano é carente, delicado: precisa desse boost irracional aqui e acolá. De fato, poucos outros jogos superam o realismo intenso de “Kana”, a metalinguagem vital. Assim que você decidir fazer parte do clube dos jogadores de Kana LS, vai, como eu, passar a expressar sua admiração por essa estória-jamais-contada-de-partir-o-coração os quatro cantos do mundo afora!

Kana já em casa, pouco depois do início do jogo: pouco à vontade no quarto de Taka, embora quisesse muito estar com o irmão…

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Parecer n. 14

Um fator importante no “sentir pena de Kana”, preocupar-se com ela, comover-se com sua personalidade tão tímida, é a imagem, para além da narração (textual): nem todas as palavras do universo nos derreteriam tanto quanto um olhar cabisbaixo ou um sorriso. Artwork nota dez, que faz qualquer bastião sobrevivente do machismo se esmilingüir em lágrimas!

– E se eu morrer?

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Parecer n. 15

Nunca me fiz tantas perguntas existenciais quanto tantos fãs de KLS pela internet, nem nunca tratei o jogo como uma lição de moral em forma de entretenimento. Continuo exatamente como era, porque o roteiro não me nutriu de aviãozinho, colherzinha e papinha de coisas de que eu nunca houvesse ouvido falar. É claro que um jogo com valores um pouco mais enaltecedores já destoa do mar de fezes do h-game médio. Como peça de ficção, é comovente; e no meu entender a ficção deve desafiar os tabus. Não deve tentar ser apologética com o público. Kana Little Sister, apesar de alguns solavancos, merece uma nota alta na avaliação.

Excursão divertida para esquecer os problemas

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Parecer n. 16

Bishoujo games sempre se concentraram no sexo. “Kana” também tem, embora muitos argumentem que tirando as cenas eróticas o jogo continuaria “completo”, já que não é um pornô, e sim um drama. Talvez os gráficos, nessa parte, sejam um pouco mais explícitos do que seria o ideal numa obra-de-arte tão sutil, mas eu sustento impreterivelmente a não-exclusão de qualquer cena eroge, pelos seguintes motivos: a) uma parte importante da história envolve o despertar sexual dos protagonistas, que afinal passam pela puberdade. Censurar este tópico seria carola e estúpido, tendo em vista a intenção maior por trás do projeto; b) quer queira, quer não, este é o ato que consuma com perfeição uma relação amorosa; c) sendo o cúmulo da intimidade entre dois seres vivos, quando acontece uma tragédia, a posteriori, com um primeiro amante – e estou quase ultrapassando a fronteira do país do spoiler aqui! –, o efeito dramático é ainda mais avassalador sobre o segundo amante.

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Parecer n. 17

A decepção é que mesmo sendo 6 os finais só há realmente 2 “caminhos”, pois 3 endings pertencem a cada um. As escolhas existem, mas são pouco relevantes. Seu controle sobre o protagonista não é amplo a ponto de podermos chamar “Kana” de um jogo.

Reparou como sua irmãzinha cresceu?

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Parecer n. 18

y bnnujujeray45hjsy q4arthkqth… ó, desculpe! Essa era minha cabeça acertando o teclado depois de cair de sono, refletindo sobre o tédio querij0g5jg5 q-0000000eqae5th54, ops, aconteceu de novo, estou mortificado. Mas falando sério, e antes de chapar uma terceira vez, leva uns 45 minutos ou mais de cliques, de batidas no Enter (ou seria a barra de espaço?) e de páginas e páginas de texto (na maior parte das vezes fúteis) até encontrar a primeira opção de mudar minimamente o curso da estória. Se já houve um game superestimado, seu nome é Kana Little Sister.

Tia Sumako, outra que fica doente…

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Parecer n. 19

Eu acredito que a falta de voice acting em KLS é de fato um ponto positivo. Pelo menos não temos que escutar “onii-chan” naquele tom fanho um milhão de vezes! O problema que eu encontrei está atrelado aos efeitos sonoros. O jogo congela alguns segundos para reproduzir pequenos sons, lag irritante e inaceitável.

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Parecer n. 20

Sua irmã é chata, todas as conversações com ela terminam do mesmo jeito. Me pareceu que Taka vivia num círculo vicioso.

Cana é quase a xará e quase a única parceira de brincadeiras de Kana. Decerto, é a única na família, já que ambas são primas!

SPOILERS (abaixo) — se não quiser ler, siga até a próxima palavra SPOILERS, em vermelho.

Novamente, separei os depoimentos de diversos resenhadores do jogo:

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Minha primeira run em Kana Little Sister durou 4 horas; agi como o irmão perfeito e fui “premiado” com uma plot tão triste que três dos principais personagens ficaram doentes terminais: Kana, tia Sumako e a prima Cana. Senti um nó na garganta enquanto assistia a zeração desse cenário, algo inédito em termos de bishoujo gaming. Mas não importa qual dos outros 5 você experimente, sempre achará algo pungente e calamitoso. Mesmo o ‘final normal” (na nomenclatura do próprio jogo) foi, não obstante, produzido com muito esmero, e é contraditoriamente especial! Nenhuma das cinematics de epílogo possui menos de 10 minutos. O ending perdura por uns 40, para se ter idéia. Você pode até salvar seu jogo durante a exibição do final, se tiver um compromisso ou quiser fazer um intervalo para chorar e melecar seu lenço!

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Agora, se você me perguntar o mais fundamental na narrativa, responderei sem pestanejar: sim, é possível salvar a vida de Kana! Esse pode até ser o “melhor final”, mas não é o mais belo…

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O cast de Kana Little Sister, que dá o leitmotiv que faltaria caso fossem retratados apenas os dois irmãos, é amável. Miki é a enfermeira estereotípica de Kana, uma velha conhecida da família (mas ela é novinha, fique descansado). Ela é meiga como manda a profissão e está sempre pronta a auxiliar Taka e Kana. Sumako é a tia dos dois, e já foi acometida de câncer no seio. Com sua sabedoria de vida e altruísmo, ela desempenha um papel importantíssimo nos chamados “finais intelectuais” (3 deles). Em seguida, vêm Yumi e Yuta, os “vilões” da trama. Yumi é uma academic overachiever (i.e., nerdona pra caralho) que sempre foi uma stalker obcecada por Taka desde os primeiros anos do ensino fundamental e até os tempos de faculdade ainda tem algo irresolvido com/por ele (o “com” ou “por” depende do seu livre-arbítrio). Yuta, por sua vez, é seu companheiro de classe que se apaixona por Kana, e consegue o milagre de ser mais superprotetor ainda do que você, embora dê para analisá-lo psicologicamente e concluir o seguinte: ele não ama Kana, só quer alguém fraco e vulnerável para ser o dominante da relação, e quem sabe aliviar alguma grande culpa que ele carrega em sua consciência por causa de eventuais escolhas frustradas no passado. Resumindo, Yuta e Yumi não são antagonistas à la Disney, com aquela risadinha maligna e mil planos demoníacos, mas são, cada um a seu próprio modo, pessoas cruéis, intransigentes e manipuladoras que só querem dar vazão a suas pulsões ególatras, afetando a vida do casal de irmãos em variados graus.

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Para calcular seu destino, as minúcias também são importantes: presentear Kana com um livro, um brinquedinho Pokémon ou uma luminária erótica (!?!) no seu aniversário produzirá conseqüências díspares…

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Aqui vai uma situação do jogo, para demonstrar de forma mais concreta como ele funciona:

Você está voltando a pé da escola com Kana depois de buscá-la na reunião de pais e mestres (porra, cadê seus pais?). Nem sei se você podia comparecer como o responsável legal de Kana, já que neste ponto da história você ainda é um pré-adolescente, e Kana basicamente uma criança (13 e 11, ou por aí). Kana parece ansiosa durante o passeio. Na verdade, como a reunião terminou tarde, o sol já está se pondo, e Kana nunca voltou para casa tão tarde. Ela está agradecida que você pôde vir. Conversa vai, conversa vem, Kana flagra um gato nas sombras. Então ele sai do esconderijo e se revela: um felino raquítico, com uma patinha quebrada. A atmosfera muda completamente. Kana não está mais fitando um gato, mas a própria morte, um reflexo da vida de doente renal dela. Até as coisas ruins fascinam as crianças, que preferem sofrer do que não matar a curiosidade. Ela quer seguir o gato para onde ele vai (um beco sem-saída). Cambaleando, lá vai a criatura ferida e maltratada. Você, Taka, hesita; deveria preservar a inocência de Kana ocultando-lhe esse tipo de verdade? Onde há inocência há esperança? Relutantemente, você aceita que sua irmãzinha corra atrás do gato. Mas vai com ela, vigiando-a de perto. Depois de alguns segundos de procura pelo gato, ele aparece estirado no chão, imóvel. Kana chora. Você fala que eles têm de sair daquele lugar, que é perigoso. Ela obedece; você, penalizado, perde um tempo fazendo um túmulo para o pobre gatinho. Em seguida ambos retomam a marcha para casa, em silêncio lutuoso. Taka, tendo de pensar no gato, nele mesmo e em Kana, se bobear está se sentindo ainda pior que ela…

Só um questionamento, já ensaiado no parágrafo anterior: onde raios estão os pais de Taka e Kana? O jogo não chega a explicar, por isso subsiste sempre o mistério – mas, ancorado no forte drama da narrativa, eu não duvidaria se eles já estivessem mortos. Ou seriam só dois pais abusivos de que você se desligou ou milionários que viajam muito e são bastante negligentes?

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Yumi, a tarada por Taka, é realmente um ser persistente, para não dizer bizarro. Mesmo quando ela descobre que você esteve fornicando com sua irmã (se você escolheu fazê-lo) ainda quer ser sua “namoradinha”. Dos 6 finais, um é batizado de “Yumi ending”. Ironicamente, é o pior de todos para quem sentiu alguma simpatia por Yumi: nele, Taka se torna ainda mais obcecado pela irmã, se é que era possível…

* * *

Incidentalmente, essa história de cada final ter um nome oficial não me agrada. Por exemplo, tem o “Good Ending”, ou coisa que o valha. Mas a denominação NUNCA corresponde ao teor do fim em si! Sem revelar muita coisa, mas revelando, nesse desfecho Taka termina com a pessoa menos provável. Até entendo a intenção dos programadores, a mesma de quando colocaram a música alegre na cena escabrosa, porém deveriam deixar para o juízo de cada um opinar sobre o que é bom ou ruim para cada personagem… A propósito, esquecendo os títulos dos finais, mas falando deles próprios, um apenas me desagradou por completo, já que parecia implausível, fora da Gestalt do jogo inteiro.

* * *

Yumi realmente chamou minha atenção. Ela é alegre, expansiva, mas tem um lado de respeitar as opiniões dos outros e de demonstrar afeto de forma contida [temos aqui um ponto de vista BEM diferente dos demais!]. Talvez seja o oposto exato de Kana. Yuta também não é ruim [!]: respeita Taka, tanto é que pede sua autorização antes de sair com Kana. Mas mesmo se o jogador opta por “Vá em frente, eu te dou permissão”, Kana, adivinha só, é que não quer sair com ele – rááá, que perdedor! Fica aqui a sugestão para um script menos falho: qual é o ponto em me fazer escolher uma entre duas respostas quando você direciona a estória para o mesmo desfecho de se eu tivesse escolhido a outra resposta?

SPOILERS acima!

Sorria, você está na zona de segurança. Nestes próximos parágrafos, nenhuma revelação crucial acerca do enredo.

CENAS PORNÔS

Mais opiniões dos nossos “especialistas”, em meio à galeria de algumas das imagens mais explícitas do game:

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Parecer n. 1

“Kana” se concentra mais na nudez acima da linha da cintura e em expressões faciais de prazer, mesmo que contenha penetrações. As cenas regulares possuem o mesmo problema de Kango Shicyauzo — os contornos são embaçados e quase se confundem com o plano de fundo [problema já comentado na parte gráfica].

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Parecer n. 2

Não é um sexo feliz, não é como o romance de Seasons of Sakura. É até “feio”. É como uma descarga temporária de sentimentos, um resíduo de falhas de comunicação entre os personagens. Pense em O Último Tango em Paris. Na verdade, isso acentua o drama psicológico e torna-o melhor, então não é uma crítica. Quem quer feijão-com-arroz que vá ao mercado!

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Parecer n. 3

Como produto hentai, Kana Little Sister é um winner, de longe. Se o que você quer é cenas hentai de ótima qualidade (embora quase todas estáticas), “Kana” entrega. Bishoujo famosos como Cobra Mission ou Knights of Xentar, ou mesmo Illusion, não conseguem competir com esta produção da D.O. E não há quase nenhuma cena de sexo, vale lembrar, comparando com a extensão do enredo: coisa de 5% da narrativa; o sexo é quase um prêmio de consolação para a maratona de leitura do jogador e de sofrimento dos personagens. Aflora nestas cenas uma paixão desesperada. Muito mais convincente que essas heroínas dadas dos animes com peitões de “quanto vale ou é por kilo”… Se for pra dar uma masturbada, tenha certeza que você estará diante de uma sessão 5 estrelas!

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Parecer n. 4

Tem pornografia demais. Talvez porque eu seja uma mulher eu senti isso. Não são ruins, é verdade. As garotas são sexy. Muitos homens comprarão o jogo só para olhá-las. Mas, como mulher, não achei interessante. Joguei estritamente pelo enredo.

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Parecer n. 5

Só há umas 5 ou 6 cenas de sexo o jogo inteiro, e no máximo com 2 mulheres (uma a cada tempo) – uma delas sua irmã biológica. A enfermeira gostosa do começo da aventura serve apenas para comer com os olhos… Quando joguei “Kana” pela primeira vez, prometi a mim mesmo que só pararia depois da primeira cena de sexo. Comecei 10 da noite e só fui para a cama às 2 e meia da manhã. Pois é, 4 horas e tanto pra dar umas metidinhas! Não interprete esse comentário como uma negativa de que há qualquer coisa sexual ou apimentada fora das cenas clássicas de sexo, entretanto: tem muitos “panty shots” (roupa íntima, elementos fetichistas, etc.) e pensamentos como o do protagonista: “Uau, os peitos da minha irmã tão crescendo!”. De qualquer modo, é um prato de comida decente para quem não gosta de práticas hardcore: o negócio em “Kana” é o sexo consensual.

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Parecer n. 6

Se eu pudesse escolher, eliminaria os elementos eróticos; parecem fora de lugar neste game, mesmo que apareçam tão tarde. Não dá para extrair prazer deles quando se sabe que os personagens vão morrer. Além do mais, Kana Little Sister foi com certeza malvisto pela imprensa graças a essa abordagem erótica. Desmereceram seu real valor só por causa dessas cenas. Pode até ser babaquice, eu sei, mas tem uma conotação muito forte sobre representação de sexo nos Estados Unidos da América. Tudo bem se esparramam baldes de litros e litros de sangue em Doom, mas o segundo em que alguém tentou mostrar um mamilo em Snatcher (uma aclamadíssima graphic novel da era 16/32-bit) logo caíram DE PAU, e no sentido mais cricri e moralista. O mesmo aconteceu em BMX XXX. Claro, se eu pudesse, escolheria cortar as ditas cenas, mas ainda assim, sobre Kana: Imouto, prefiro corpos nus, mesmo descontextualizados e fúteis, amando-se carinhosamente, do que maníacos com uma AK-47 disparando para todos os lados!

Devo mencionar que há funções de fast-forward e rewind para quem já estava ficando preocupado com ter de “re-jogar” (re-assistir, mais francamente) tudo de novo a fim de obter os finais alternativos.

RECOMENDAÇÕES

Tem ainda uma versão de PSP (exclusiva do Japão) que refez alguns artworks, removeu todas as cenas de sexo, acrescentou pequenas nuances ao roteiro e censurou qualquer nudez ou insinuação de nudez (que existiam fora das cenas de sexo, em contextos não-eróticos, inclusive). Um pouco mutilado, como se vê, mas se for a única opção viável, ainda vale a pena para conhecer-se Kana Little Sister e toda sua magia emocional. Por fim, se aceita minha sugestão sobre outro jogo a respeito de gente doente e morredia, tente o bem mais recente Narcissu (lançado em abril de 2014), gratuito na Steam.

CURIOSIDADE 1: Um remake estava sendo desenvolvido pela Panther Software para rodar no Xbox. Chegou a haver anúncios e a criação de um site oficial, em 27/05/05, mas o lançamento foi cancelado pouco tempo depois.

CURIOSIDADE 2: No Arcade, dentro do jogo, uma das ações interativas de Taka será jogar um strip mahjong game (mahjong é um puzzle, mas agora aditivado com striptease). Infelizmente, você não joga, apenas lê uma descrição de Taka fazendo-o!

Lista de agradecimentos

mobygames:

אולג 小奥

Shazbut

Eurythmic

Daniel Anderson

Melody

dave H

kana fan

Paranoid Opressor

Titi Ung

Noah Kilian

gamefaqs:

alicefujimori

TheSAMMIES

purXtaC

Kid Einstein

Sanction

Bobo The Clown

Ecchifan

hempick

Lee1

Lunion

Tiexandrea

Big Daddy Bowser

Crimon_Hitman

Elestata

Elisabetta611

Emma_C

HHAZE

ina300

Raqia

Reverent

Satoshi_Miwa

Sephlock

Sosseres

supearmy

Yoko

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Sorbet_T_Moogle

animetric.com:

Rowena Lim Lei

versão 3 – 2013, 2020, 2024.

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One reply on “kana little sister (pc/psp)”

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