REVIEW N° 1042 DO NEWGEN
Arcade & PlayStation

LiberoGrande
F I C H A T É C N I C A
Developer Namco
Publishers Namco / Sony
Estilo Futebol > Arcade > “First-Person” view / Carreira-Solo
Datas de Lançamento:
ARC
1997 (JP)
PS
26/11/98 (JP); 1998 (EUR)
NOTA
7.2
Este jogo é pra…
(X) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente (X) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Os individualistas pouco individualistas, se é que me entendem bem! (XX) incógnita
Vida útil estimada: 9h
Quantos jogos de futebol existem no PlayStation1? De cabeça, assim, eu calculo que já joguei 33… alguns bons, outros ruins, muitos deles indiferentes e insípidos, mas um, com certeza, diferente, sem o prefixo in-, o que muda tudo na caracterização. Afinal, qual dos outros 32 ofereceria uma perspectiva em primeira pessoa (na realidade é figura de linguagem: consegue-se ver o boneco na tela, mas o ponto de vista é sobretudo o do Eu) num esporte coletivo como o futebol? Nenhum!

Nenhum até a chegada de LiberoGrande. LG permite pela primeira vez que se banque o elemento-chave, a estrela da companhia de uma equipe do esporte bretão, sendo esse esporte – que coisa, não! – o mais popular da galáxia. Uma gameplay que leva em conta todo o trabalho de operário que se executa (ou seja, que não despreza os outros 9 colegas com o mesmo uniforme em campo + o goleiro) foi especialmente talhada pelos desenvolvedores.

Para quem não sabe, o game nasceu nos fliperamas orientais. Não poderia ser diferente quando a companhia desenvolvedora é a rainha dos Arcades Namco. E a Namco nunca joga pra perder. Se a mecânica não é perfeita (apresenta-se um leve delay para o protagonista responder aos comandos), eu o atribuo mais ao pioneirismo do título que a qualquer desleixo na produção. Para não dizer que LiberoGrande seja o único do tipo na face da Terra, eu também me lembro de European Soccer Challenge (1990), no Amiga, que exibe este mesmo conceito “individualista”. Mas já que o papo aqui é PlayStation, ou quando muito “geração 32-bit”, nem conta! Digamos que a falta de uma interface 3D tornava esse gênero impossível antes de LiberoGrande, e o que houve lá atrás foi um mero ensaio malsucedido do time Smash 16…

O que mais impressiona são as dimensões das imediações assim que se adentra o gramado e a ação começa pra valer. A superfície do campo e as arquibancadas parecem dantescas vistas através dos olhos do jogador. Nisso, este arcade game é mais realista que qualquer futebol pretensioso de seu tempo. A torcida é uma das poucas desta geração que se sacode toda e tremula bandeiras incansavelmente. Logo percebemos que eles sabem se curtir (se fosse ambientado no Brasil, o jogo teria de mostrar uns marmanjos de organizada brigando)! São cinco estádios com variações de luminosidade e horário (dia, noite e pôr-do-sol). Alguns estádios são de fato tão assustadoramente colossais que mais parecem castelos que arenas, vide Foro Azzurro! Só faltou mesmo a tal da variação climática, que não marca presença hora nenhuma em LG.

Os ângulos de câmera fazem o possível. Alguns jogadores se sentirão tontos e desencantados com o resultado. É que ninguém havia tentado antes essa Resident Evil view num simples jogo de futebol, o que por si só já merece aplauso. O que eu mudaria? Talvez um cameraman mais regado a Guaraviton, porque o de LG é meio lento nas reações. O maior dilema é quando o controlador não está olhando para a direção da bola, ou seja, está perdendo lances capitais da partida. Ao girar procurando onde está centrada a ação, seu boneco vai parecer mais autista do que o Messi! Melhor ainda do que a tática dos 360° é revezar rapidamente entre os ângulos Auto e Manual até achar o que procurava. Ainda assim, não espere canjica de galinha: já ouviu falar de jogador com olho na nuca? Nem eu!

O que me deixa exultante acerca desse jogo é não possuir narração. Ou os caras que fazem esse serviço são loucos ou chatos além da conta, então acho uma ótima pedida quando o recurso já vem desligado de fábrica! Realmente não soaria agradável uma narração na cabine do fliperama aporrinhando todos da sala de jogos (que é onde nasceu Libero, como eu explicitei no princípio).

Pombo sem asa!
Os comandos não são intrincados, e nunca foi tão fácil para mim executar as gracinhas boleiras primordiais tais quais nutmeg, heel lift, loop shot, centre… Dá para aprender tudo só de ver o trailer “How to play” da apresentação. E além dos comandos típicos de qualquer futiba, quando estiver sem a posse de bola, dependendo de como está o jogo, pode-se pedir para os jogadores de defesa entrarem mais forte, avançarem ou passarem a bola, por exemplo (o popular “técnico dentro de campo”). Mas não é tão complicado quanto parece: tanto que dos 4 botões frontais do PSOne, só 3 são utilizados.

Não é só o Mario que fala italiano no mundo dos games…
Um parágrafo tinha que se dedicar ao practice mode de LG, já que ele é tão rico. Na verdade ele se chama Player Challenge aqui. Pense numa combinação do driving test de Gran Turismo e as VR missions de Metal Gear Solid. Em LiberoGrande trata-se de nove sessões no CT do seu time, cada uma com um enfoque especial num talento: drible, chute, passe, bola parada, acrobacias estilo voleio para finalizar, toques de calcanhar, etc., seja com alvos parados ou em movimento (maior grau de dificuldade). Um dos minigames é uma competição para ver quem consegue chutar o mais longe com o calcanhar! Há sempre um cronômetro nessas disputas (quase sempre do jogador consigo mesmo), e a nota dada ao final da tarefa também avalia, além da rapidez, a precisão e a acurácia. Pra se ter idéia, lembro de ter me aventurado por esta modalidade bem umas 2 horas antes de jogar uma partida tradicional sequer! Completar o elaborado training de LG habilita jogadores secretos no menu de seleção das modalidades “normais”. Um jogo dentro de um jogo, literalmente.
Para quem ainda não sacou, nunca se escolhe o time, mas sim o jogador (mas, no fim, adivinhou, dá no mesmo, porque é sempre o capitão do time que se controla!). São 24 destravados de início; eles têm atributos diferentes, o que faz desta opção algo além de simples preferência estética (e de que outra forma uma seleção como Hong Kong teria a chance de ganhar da Inglaterra ou do Brasil?). LiberoGrande oferece ainda um singular split-screen two-player mode (quem jamais imaginaria um multiplayer em futebol com tela dividida?). Um contra que alguns podem achar decisivo por conta de recorrentes bolhas nos dedos é que LG não é compatível com o Dual Shock.

CURIOSIDADE 1: Nenhum atleta é licenciado, mas todos são baseados nos craques midiáticos: Zenon Zadkine é o óbvio Zinedine Zidane; Jordan Krüger, Jürgen Klinsmann; enquanto que o simplório Raimundo é ninguém menos que Ronaldo!
CURIOSIDADE 2: Como alguns já devem ter desvendado sem minha ajuda, “líbero” é uma posição do futebol; meio fora de moda, é verdade, mas ainda utilizada para jogadores de defesa que também sabem sair jogando, sobretudo na Itália, a nação da retranca por excelência. Mas qual é a origem da palavra? Ela vem do latim. O equivalente mais próximo no atual idioma anglo-saxão mais falado no mundo seria “sweeper” (“varredor” na tradução literal, ou “enceradeira”, quase um Zinho da vida!). Arremato com uma dica para os principiantes – lembre-se: o LÍBERO não precisa se cansar percorrendo todas as jardas do gramado, ele se move com inteligência pelo MEIO, melhorando todos os setores de sua equipe – não banque o egoísta que deve fazer e participar de tudo!
Rafael de Araújo Aguiar é funcionário público na área da educação e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
Lista de agradecimentos
ABSOLUTE-PLAYSTATION.COM
MOBYGAMES:
Luis Silva
*C64*
GAMEFAQS:
The_Bowers
versão 2 – 2015; 2025.