REVIEW N° 994 DO NEWGEN
PC, PlayStation, Saturn
+ PS4, Switch, XONE & XSX.


PowerSlave
Exhumed (Europa)
Seireki 1999: Pharaoh no Fukkatsu (Japão)
PowerSlave: Exhumed (relançamentos digitais)
F I C H A T É C N I C A
Developer Lobotomy Software, Nightdive Studios (relançamento)
Publishers Playmates / BMG / Nightdive Studios (relançamento)
Estilos First-Person Shooter / Adventure / Plataforma 3D
Datas de Lançamento:
PC – 31/12/96 (EUA); 1997 (EUR); 10/02/22 (EUA, Steam)
PS – 10/96 (EUR); 28/02/97 (EUA); 10/07/97 (JP)
SAT – 31/10/96 (EUA); 29/11/96 (JP); 04/97 (EUR)
PS4 – 10/02/22 (EUA, EUR, JP)
SWI – 10/02/22 (EUA, EUR)
XONE – 10/02/22 (EUA, EUR, OCE, JP)
XSX – 10/02/22 (EUA, EUR, OCE, JP)
NOTA
7.82
Este jogo é pra…
( ) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente ( ) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Qualquer FPSista a fim de algo totalmente inusitado no gênero; o egresso do estilo com um mínimo de vontade de embarcar numa aventura temática! (X) incógnita
Vida útil estimada: 30h
OBS: Fotos de PlayStation, exceto 2 delas, propriamente assinaladas na legenda.


Portando-se a handgun, parece até que se está diante de um mod de Doom!
Não tenho certeza absoluta do que estou falando, mas os criadores dessa obra pseudo à la Doom (logo veremos o porquê!) devem ser uns heavy-death metaleiros grindcorers do caramba – olha só pros DOIS títulos do jogo no Ocidente: Powerslave e Exhumed! — Mudando de assunto completamente, e agora assim entrando no mérito, assim que pus as mãos em Powerslave me imaginava defronte a mais um eterno clone de Doom, o rei dos FPS, ainda mais no ano de 1996! Quiçá houvesse também muito de Hexen misturado no CD. Isso era no que os viciados de LAN house (ei, espera, já havia LAN houses?) do período se fissuravam. O diferencial? A priori, apenas a abordagem egípcia! Em suma, me imaginava diante de tudo, menos um título original. Avante para conferir se essa primeira impressão se confirmou depois do teste…


Desenvolvido pela Lobotomy Software (nome sugestivo, pois veremos que Powerslave foi capaz de “fazer a minha cabeça!”) e chegado primeiro no Saturn, depois PlayStation e enfim PC, primeiro na América e Europa e só depois, ocasionalmente, no Japão (mas não no caso dos computadores pessoais), Powerslave é mais do que um jogo de tiro em primeira pessoa. Mas, para simplificar, aceitemos esse primeiro rótulo. O enredo é uma loucura só, misturando o auge do Império do Egito com a modernidade (já que utilizamos armas de fogo na jogabilidade) com invasão alienígena (eita porra!). Os ETs Kilmaat se apossaram da cidade de Karnak e seqüestraram a múmia (sem ofensas, o corpo preservado!) do Rei Ramsés, tirante sua cabeça. Aparentemente alheio a tudo isso, seu personagem cai de helicóptero na região e tem de se virar, inicialmente, sozinho contra todo um exército de monstros bizarros que ele jamais havia visto. Fortuitamente, o curioso e intrépido herói acaba indo fundo demais na sua correria e trombando com a tumba do rei falecido e desditoso que foi espoliado. Sua cabeça (!), animada pelo que se julga ser seu espírito (o Faraó é, depois de tudo, a extensão de um Deus na Terra), começa a palestrar: você é a última esperança de todo um povo, talvez mesmo dos terráqueos. Se os restos mortais de Ramsés não forem recuperados a tempo, os alienígenas pretendem usá-lo como fonte de poder para dizimar todos os outros espécimes. Com a ajuda de um guia tão ilustre, cabe ao apócrifo e corajoso protagonista fazer sua parte, como soldadinho de massa de manobra disposto a levar chumbo grosso!


Uma peituda numa catacumba? Só pode ser a Lara Croft! Tira essa máscara que já te descobrimos, mulher!
Apesar do script levemente cinematográfico (O Retorno da Vingança do Casamento da Minha Melhor Amiga Múmia, alguém?!?), na superfície estamos diante de mais um first-person ordinário. Mas e se, hipoteticamente, esse formato de gameplay fosse só uma desculpa para implantar uma outra filosofia de jogo? É esse o caso! Discernimos, em meio ao bangue-bangue, elementos de Plataforma e alguns bem remotos vestígios de RPG! Digamos que PowerSlave aprofunda o que Hexen já continha em semente: mescla o FPS mais feijão-com-arroz com o estilo mais free roam dos Adventure. Os diferentes níveis são até interconectados por um mapinha no melhor estilo Super Mario World ou Donkey Kong Country, como preferir. Bifurcações são banais. Não é raro que um mesmo estágio apresente 4 saídas distintas, uma em cada ponto cardeal! Para chegar ao “final ruim”, não será obrigatório desvendar todas as rotas. Mas quando o gamer se dá conta dos estímulos que ele tem para voltar a jogar em fases já “parcialmente debulhadas” é que as coisas começam a ficar interessantes de verdade…

O Saturn apresenta pequenas diferenças em relação às outras 2 rendições, com power-ups exclusivos, por exemplo: invisibilidade, invencibilidade e até dano dobrado.
Os labirintos sombrios e reverentes desse esquecido passado de grandeza do Egito estão repletos de itens colecionáveis. Relíquias brilhantes concedem poderes especiais ao jogador. Sandálias fazem com que seus pulos atinjam alturas maiores. Só pelo fato de ter um botão de pulo PowerSlave já seria um FPS digno de nota. Outras habilidades incorporáveis graças a bugigangas e artefatos incluem nadar e combater debaixo d’água (igual em Turok!), planar em pleno ar, lançar poderosos encantamentos sobre as criaturas mortas-vivas (em sua maioria) e uma porção de outras coisas que eu acho muito melhor o próprio explorador descobrir!


Chefão
E é por essa razão (tornar-se mais forte e mais completo o tempo todo) que sempre faz sentido voltar atrás e visitar câmaras antes inacessíveis em busca de novos segredos. Ankhs são objetos que aumentam a energia vital do personagem, fazendo face aos perigos cada vez mais vultosos dos últimos níveis. Até um transmissor que o guerreiro levava consigo no helicóptero que se partiu em mil pedaços na queda pode ser remontado, achando-se parte por parte, permitindo assim a obtenção do true ending.


O elemento Plataforma pode deixar o gamer tão confuso e desorientado quanto em shooters tridimensionais revolucionários das antigas como Descent por alguns segundos, mas não se engane, pois os controles são sólidos!
O arsenal em si, que é o que mais importa para a “galera da matança”, compõe-se do facão básico, fuzil pequeno, metralhadora (machine gun modelo M-60), lança-chamas, bombas e um ou outro artefato mais fantasioso que a feliz ambientação do jogo permite. Em que pese a variedade ao seu alcance, me encontrei a maior parte do tempo mandando ver mesmo com a machine gun, que dava conta dos adversários comuns muito bem. Contra demônios cascas-grossas ou em casos de racionamento de munição, eu pulava para outros equipamentos. E claro, os chefes requerem armamentos bem pesados! Munição é suprida por orbes azuis que os inimigos deixam quando morrem (o truque é equipar a arma sem balas, que na hora de tocar a esfera ela é que vai ser alimentada). Orbes vermelhos cá e acolá correspondem aos med kits de outros jogos. Ficar à espreita e fuzilar os inimigos é satisfatório, claro, mas estranhamente (para acostumados com shooters standard), não é o foco – o que, aos olhos de muitos resenhadores ortodoxos, baixou bastante a nota de PowerSlave. Uma indústria que requer inovação constante mas em que boas idéias são severamente castigadas, eis o cruel mundo dos games!


Nas últimas fases há magias – o Anel de Rá, por exemplo, é do elemento fogo!
O que me irrita mais até do que os comentários menos nobres acerca de PowerSlave é, na realidade, o silêncio. Isso mesmo! Para encontrar qualquer análise de PS já é uma luta encardida com a internet! Cheguei a ler o (mini-)review (não acredito que ele receba para escrever 200 palavras amargas sobre um jogo, e eu aqui com meu trabalho beneficente!) de Jeff Gerstmann, do Gamespot (ressalva: versão Saturn), o portal mais mainstream existente no ramo. Jeff menoscaba o título do início ao fim (não que seja um artigo comprido, mas tudo bem), mostrando todo seu “amplo conhecimento” na área: os FPS devem ser todos como Doom, inspirados na mesma mola, replicando a mesma engine ad eternum. E que não inventem de se aproximar de outros estilos, “FPS é FPS” (não com essas palavras, mas querendo dizer o mesmo)! Eu diria que PowerSlave, de uma produtora desconhecida, desempenha o mesmo papel – agora sim louvado como pioneiro – de Metroid Prime, só que incríveis 6 anos antes! Mesmo a página da Wikipédia com uma lista de “1st Person Adventures” negligencia a existência de Powerslave: http://en.wikipedia.org/wiki/Category:First-person_adventures!


Este inimigo escorpião só existe nas versões caseiras
Para quem ainda não captou direito a importância de revisitar fases passadas, vou falar ainda das “Team Dolls”. Estas são bonecas com a efígie da empresa dona do jogo as identificando e que estão espalhadas por aí. Uma vez abatidas, destravam special features. A única coisa que me aflige nisso tudo é que depois de chegar ao fim da trama, de um total de 23 team dolls, tinha conseguido encontrar apenas 3! O pior é que eu revirei e remexi cada saleta que encontrava, pensando conhecer de coração cada metro quadrado dos templos! Isso mostra que nem sempre são necessários cenários colossais para abrigar um bom número de coisa de valor. Prato cheio para os FAQistas!


A Lobotomy é mais ou menos reconhecida por ter feito um port bem decente de Duke Nukem 3D para o Saturn. Mas com PowerSlave ela fez mais do que isso, fez história – por enquanto ignorada. Uma experiência equilibrada e memorável! Pude reparar que reviews DA ÉPOCA criticavam os gráficos, mas análises CONTEMPORÂNEAS tendem a enaltecê-los, o que prova que não só julgamos de forma imediatista e leviana como somos maus estetas e não entendemos ainda tão bem que um hardware possante pode fabricar artes efêmeras tanto quanto um hardware tímido pode oferecer uma forma cristalizada de arte para anos e anos de apreciação (fora que não vi nenhum review dos anos 90 valorizando o fato de a taxa de frames permanecer constante nos 60, feito notável nos 32 bits, o que significa que a beleza ainda por cima fôra sacrificada em prol da fluidez perfeita)! PowerSlave é mais atemporal do que seus naysayers de 1996 gostariam que fosse, o que o faz objeto de consumo ainda hoje.


Cruz egípcia!
CURIOSIDADE 1: Importante lembrar que, estando no seu Pentium 90MHz curtindo este jogo (hehe!), com acesso a um modem (SERÁ QUE VOCÊ TEM UM?!), será possível jogar PowerSlave em rede com até 8 pessoas – uhul!
CURIOSIDADE 2: Antes de PowerSlave, o jogo iria se chamar Ruins: Return of the Gods. Foi aí que contrataram um sonoplasta metaleiro para mexer com a trilha do projeto e a nomenclatura mudou. Ok, tirando essa mentirinha básica da última frase (a rigor, pode até ser verdade, nós não sabemos!), o resto é autêntico. O título japonês como que preserva, ainda, essa idéia passada pelo nome mais remoto.

Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo não-praticante e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
Lista de agradecimentos
QUEBECGAMERS.COM:
Bryan Lajoie
MOBYGAMES.COM
GAMEFAQS.COM:
alchief
BlooditeDrakan
SEGA-MAG.COM:
Slaine
GAMESCOLLECTION.IT:
GendoIkari
SHINFORCE.COM
revista Joystick
versão 2 – 2014; 2025.