REVIEW N° 1018 DO NEWGEN
PC & PlayStation
FIFA 2000
F I C H A T É C N I C A
Developer EA Sports
Publisher EA Sports
Estilo Futebol > Arcade
Datas de Lançamento:
PC
30/09/99 (EUA-EUR); 17/07/00 (EUA-Classics); 22/02/02 (EUR-Classics)
PS
09/10/99 (EUA); 26/10/99 (EUR); 30/03/2000 (JP); 30/03/01 (EUR-Platinum)
NOTA
6.93
Este jogo é pra…
(X) passar longe ( ) dar uma jogadinha de leve ( ) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente (X) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Quem curte goleadas fáceis. (X) incógnita
Vida útil estimada: 36h
Devo admitir que está cada vez mais cansativo e laborioso vir com introduções inéditas para as infinitas edições anuais de FIFA. Até porque, se os meus reviews são bem originais, o mesmo não pode ser dito de cada atualização da série. Como sempre, o FIFA ANO X saiu no mercado no ANO X-1, isto é, o FIFA 2000 do qual falamos é um produto que certamente começou a ser concebido já em 1998, e foi finalizado e jogado nas prateleiras mundo afora no finzinho de 1999. Este é o 7º na franquia principal (não estou contando com spin-offs tais quais Fifa 64 e World Cup 98) e pode ser considerado o último FIFA produzido com os hardwares 32-bit em mente. A responsabilidade era grande, uma vez que o PlayStation1 já vinha dando seu adeus, sofrendo o assédio dos novatos Dreamcast (em plena forma e atividade) e PlayStation2 (por ora apenas “ideologicamente”, já que o videogame estava sendo preparado para lançamento no Japão e a comunidade gamer já salivava, impaciente). O fato de haver no mínimo 2 consoles mais poderosos que o encardido PSOne não descaracteriza o fato de que aSony, com seu periférico de estréia, estava no pico da dominância de mercado, tendo varrido o Saturno e o Nintendo 64 do mapa, reinando praticamente sozinha, tirando o Game Boy Color da Nintendo, que era, afinal, um portátil, ou seja, não concorria de forma DIRETA com a “caixa cinza”. Por todo esse contexto favorável a EA sabia que não devia mudar muita coisa na fórmula de sucesso do constante Fifinha. De fato, Fifa 2000 é quase um recorde de “falta de criatividade” mesmo dentre as continuações da própria EA. O FIFA 99 pode ser quase sempre pressentido por tabela quando se fala de seu primeiro irmão mais novo. Maior quantidade em opções, número de times e outras coisitchas, é óbvio que deveria haver; mas a gameplay, o fulcro, mantém-se firme, inamovível, em suas virtudes e fraquezas.
Dureza para a EA Sports era a concorrência interna dentro do aparelho 32 bits, isto é, a qualidade de clássicos como Winning Eleven 4 (Japão/Europa à data, mas já com previsão de lançamento nos States) e International SuperStar Soccer Pro Evolution (o início de uma grandíssima franquia) assombrava a companhia. Eu mesmo considero esses dois últimos o ápice técnico em termos de futebol na máquina PlayStation.

De acordo com muitos “popistas” (lamento, mas eu jamais vou curtir os temas escolhidos pelos mainstream buddies da EA), este F2000 é o melhor de todos os FIFAs em termos de trilha sonora. Além de Robbie Williams (vide CURIOSIDADE 3 no final), Gay Dad e Reel Big Fish. Já que tocamos no assunto “áudio”, fora da Europa (versão PAL) a dupla narração-comentários foi modificada: Phil Schoen e Julie Foudy substituem os legendários John Motson e Andy Gray. Foi uma decisão pouco técnica e muito midiática, para atrair o consumidor norte-americano.
Sobre Julie Foudy, cabem comentários à parte: NÃO É UMA COMENTARISTA! Ela jogou na seleção americana de futebol feminino. Ok, ganhou uma Copa do Mundo. Parabéns. Mas sua voz… Seu conteúdo verbal… Err… Que ela mesma deponha em meu lugar, pois aqui vão alguns foudysmos (quase um palavrão) para seu deleite:
“It looks like an anvil? or piano? Fell from the sky. As my teacher Mrs. Twisdale used to say: What!”
TRADUÇÃO: Parece uma bigorna? Um piano? Caiu do céu. Como minha professora Senhora Twisdale costumava dizer: O quê!
“He’s in some pain & I don’t think it’s from indigestion either.”
TRAD.: Ele está urrando de dor e eu não acho que seja indigestão.
“It looked more like a wrestling move than a tackle.”
TRAD.: Me pareceu mais um golpe de MMA que um simples desarme.
Só não dou um chute no saco dessa mulher vocês sabem bem por quê!

Graficamente, distinguimos em especial menus e in-game: os primeiros ora pastéis demais ora italianos em excesso (porque vermelhos, brancos e verdes); no segundo, o que posso eu dizer na data em que escrevo, 2014? Até em relação a FIFA 98 a torcida sofreu uma decisiva queda de qualidade. Jogadores – Salou, do Eintracht Frankfurt, está ERRADO! Ele é negro, negrão!, mas no jogo apareceu como caucasiano!!! Porra, EA! E à época os usuários deviam implorar por um face&texture-mapping correlato ao de séries com visual bem mais aperfeiçoado (para o mesmo hardware), como NBA Live. As comemorações, embora legais do ponto de vista da emoção, são engraçadas de doer, pois a cara e a expressão dos jogadores parecem saídas de um vulcão!
Poucas coisas refrescam um pouquinho a engine em relação ao quase idêntico FIFA99: nova é a possibilidade de proteger a bola, impedindo que seja roubada pelo adversário (mais comentários na seqüência); em dados momentos o gamer poderá usar Triângulo, Bola e Quadrado a fim de passar a bola para jogadores pré-indicados em legendas na tela; o que aumenta muito as chances de gols em bola parada.
Quanto às competições, a European Dream League foi substituída pela Copa do Mundo, que em 1999 havia se ausentado. UEFA Champions e Europa League seguem intactas. O maior implemento foi a “temporada integrada”, isto é, pela primeira vez num FIFA, ao escolher um clube, o controlador poderá atuar conforme o calendário, revezando-se entre as principais competições de pontos corridos e mata-mata, locais e continentais. Ainda não é um manager propriamente dito, porque você não cuida da parte dos dirigentes. Há restrições para jogar a integrated season: não podem ser escolhidos times estadunidenses, por exemplo, uma vez que a MLS (Major League Soccer) não co-participa desse circuito (não tem a Concacaf Champions no jogo, etc.). Apareceu também, pela primeira vez na série, o customizador de notas de jogadores, o que não impede qualquer um de colocar “99” para todos os atributos de QUALQUER jogador!

Os rostos dos jogadores parecem tirados dum filme do Alien(mais feios que o Tom Cruise em Vanilla Sky). E jogos realizados na neve são quase impossíveis de observar. Ou seja: os gráficos são uma piada.
Essa novidade não “estraga” a brincadeira nem altera muito a jogabilidade como se poderia pensar… O jogo foi claramente produzido às pressas e não há muita diferenciação individual entre os atletas, que contam virtualmente com as mesmas habilidades, não importa a posição e o nome. As exceções são raras.
São os mesmos 3 patamares de dificuldade de sempre, Amador, Profissional e “Classe Mundial”, mas a clivagem entre um e outro ficou mais pronunciada. É lugar-comum marcar mais de 10 gols no Amateur e depois levar um chute no traseiro ao pular de súbito para o Professional. World Class não é tão mais difícil que o Pro quanto o Pro em relação ao Ama, mas o suficiente para ser tratado como um respeitoso “very hard”. Sem embargo, como todo outro FIFA anterior, uma vez aprendendo o caminho do gol, não tem como perder. Por isso, não existe jogo impossível: muito treino e o “estar condicionado para reagir da forma certa” são determinantes na experiência. Quanto às novas ligas nacionais (todas européias), estas são: Dinamarca, Grécia, Israel, Noruega e Turquia. A parte mais sensacional sem dúvida é a incorporação de seleções clássicas, para jogos dos sonhos. Talvez seja o único fator de replayability no título (entro em maiores detalhes no próximo parágrafo). Sobre o precursor nessa história de manager, sem que o game fosse inteiramente voltado para isso, acho que os donos de PlayStation irão encontrar o marco zero em Pro Evolution Soccer, de 2000, portanto um pouco depois deste Fifa. É que até então (anos 90), CM (club management) era bem coisa de jogador de PC!

Alguns dos times do passado presentes no modo especial deste Fifa: o AC Milan de 1988-1990 com Franco Baresi, Ruud Gullit, Paolo Maldini e outros; a “Dinamáquina” (1989-92) de Peter Schmeichel, Brian & Michael Laudrup; o tricampeão continental Bayern Munich de Franz Beckenbauer, Gerd Mueller e Sepp Maier; e até times “lado B” como o Hamburger SV, campeão europeu de 1983! São 41, o suficiente para atender praticamente todas as preferências.
Se a bola é chutada alto, o framerate vai para as cucuias. A torcida é a razão da animação cair bastante de velocidade. O processador do PS1 é utilizado até o talo nessas horas. Num escanteio, a mesma coisa, pois a galera das quinas dos estádios estará bem próxima. São poucos segundos de incômodo, mas farão a diferença, ao menos no psicológico, quando você estiver numa decisão perdendo por 1 a 0! O verso da caixa do produto – se não fosse praxe essas coisas serem enganosas – devia trazer a mensagem: “24fps com um jogador na tela; 20fps com 11 na visualização; 15fps com todos os 22 sendo mostrados; agora, boa sorte se a bola subir demais e você vir a arquibancada inteira…”.

Mas voltando a falar da altíssima e irreal média de gols do jogo, o artilheiro de uma temporada, tendo jogado 30 jogos, termina com um recorde absoluto atemporal, de 90-120 tentos. Ridículo! Suarez com esteróides! Outra coisa que agride qualquer sensação de realismo, sem necessariamente agregar diversão, é a ênfase quase que exclusiva no processo de ‘atacar’. Não deixar o rival conseguir seus gols também faz parte do esporte – ou será que não?! A EA tem uma concepção peculiar a respeito, tanto que a única forma de ganhar e não sofrer reveses é atacar o tempo todo. Homens postados, pressão? Isso é para os fracos, e se você quiser contrariar o ditado e tentar, boa sorte, porque sempre que o adversário chega à sua área, consegue marcar! Ademais, o spin move, comentado acima, é apelão demais: transforma qualquer striker chinfrim num perfeito Messi!
Consideravelmente inútil é um marcador de tela que avisa se o passe é “fácil”, “médio” ou “difícil” tanto quando o jogador destinatário não pode ser visto na tela como em passes realmente curtos. As cores verde, amarelo e vermelha fariam sentir essa gradação, mas o sistema é assaz mentiroso. Irritante é que “passe” é um fundamento descartável (!!) neste jogo de futebol (!!!) em que podemos chegar a incríveis 14-0 sem muito esforço… 90% dos passes estarão sinalizados como vermelho, de qualquer modo, antes de ser realizados, o que nos desencorajaria, se não soubéssemos o real resultado (o mais das vezes, acertar sem problemas): o indicador só vai esverdear se você der a bola direto nos pés do cara, isto é, encostar nele com o outro jogador! Além do mais, com o movimento de giro e retenção de bola tocar perto da área adversária se tornou dispensável.

Recapitulando algumas coisas graves e inserindo outras informações de relevo num “resumão” da gameplay e da parte técnica:
- A idéia da bola parada com jogadas ensaiadas é muito boa, mas a execução peca um pouco. A flecha (o cursor da direção do chute) está sempre levemente angulada, o que prejudica a mira. Além do mais, ou você aperta bem fraquinho a tecla e o goleiro salva, num tiro direto, ou soca forte mas será como umfield goal de gridiron, muito acima das traves.
- A FIFA gosta de se vangloriar de ser a rainha dos licenciamentos, então aqui vai uma pisada no calo gostosa: os elencos estão incompletos. Levaria um só dia para pesquisar na internet (mesmo em 2000) e fechar todos os nomes bonitinho, mas FIFA 2000 é cheio de buracos nessa parte! Muitos reservas e até alguns titulares de equipes importantes são desfalque…
- A comentarista é delirante… “Wrestling”? Lembre-se de deixar no mudo!

- Tamanho do gramado: outra aula elementar de futebol em que os babacas da EA Sports faltaram, porque não são dimensões FIFA, que ironia! Péssimos de escala…
- 5 estádios, somente?! Não interessa se forem licenciados ou não, mas por favor incluam mais estádios para os jogadores de PSX! Mas sabe do que mais? Nem ao menos são inspirados em estádios do mundo real, estes cinco! Todos fictícios…
- Um conselho: deixe o jogo MAIS LENTO (tirando a parte dos slowdowns, que seguirá incorrigível e idêntica, qualquer que seja a configuração), porque o esporte jogado na velocidade-padrão deste CD não é futebol, é como um indoor soccer super-apelão de um filme inspirado em Space Jam! Se deixar a peleja mais lenta, a velocidade se tornará, finalmente, realista.
- Bicicleta: um dos movimentos mais elaborados do futebol. Se não for o mais elaborado de todos, quando sai perfeita. E no entanto os atletas de F2000 são 100% precisos em uma, e aliás adoram mandar ver nas magrelas…
- Por que a CPU não faz substituição a não ser por lesão? Que em 2000 o computador ainda não promovesse reformulações táticas durante as partidas era um dado vexatório…

Se você possui os FIFA 98&9, nem se incomode, pois no 2000 não poderá fazer coisas incríveis como levar Tonga a uma Copa ou jogar com os portugueses (vide explicações suplementares em CURIOSIDADE 2).
CURIOSIDADE 1: No lançamento brazuca, a EA deu azo a uma parceria com uma ONG de dois craques locais, Raí e Leonardo, a Fundação Gol de Letra, que reverteu alguns dos lucros com vendas no país para esta organização beneficente que ajuda crianças carentes a se alfabetizarem. Raí foi capa de alguns dos milhares de cópias comercializados, justamente devido a esse consórcio.

Jogaço!
CURIOSIDADE 2: Devido ao trauma dos problemas jurídicos enfrentados pela EA quando utilizou a liga portuguesa sem licenciamento em seu FIFA 99 (que malandrinha!), F2000 carece de qualquer referência a times portugas. Nem mesmo a seleção de Portugal entrou na festa! Ainda assim, o jogo foi vendido no país dos gajos e, para alavancar as vendas, optou-se por uma capa personalizada (com Simão Sabrosa, já que ele jogava pelo Barça). O que é bizarro e desonesto é que a parte de trás da caixa assegura que o comprador vai poder “aprender a construir a liga portuguesa” nas opções. Na verdade, tecnicamente, não é uma mentira: o jogador pode fundar sua própria liga; depois reeditar o nome de clubes e atletas para que “se pareçam” ou “sejam” as “equipas da Terrinha”. Mas que fica feio apelar para esses discursos, ah, fica!

JGR é um time criado pelo próprio jogador
CURIOSIDADE 3: Como já tecido nos comentários acima, Robbie Williams tem alta participação em Fifa 2000. A começar pelo tema-título, It’s Only Us. Em troca de uma boa bufunfa e do registro liberado da música para os donos do CD, Robbie pediu um favorzinho inusitado aos produtores: a inclusão do Port Vale, time da terceira divisão inglesa, a Division Two (abaixo da Premier e da Division One). Desde fevereiro de 2006, o fanático pelo Port Vale Robbie é, até mesmo, investidor majoritário do clube! Neste Fifa, embora não figure na luxuosa liga da primeirona inglesa, o Port está na “liga do resto do mundo”. Mas ainda há mais: R.W. foi incluído como atleta num dos times secretos do jogo, além do quê seus dois últimos álbuns de estúdio de então, Life Thru A Lens e I’ve Been Expecting You, receberam publicidade na última página do manual de instruções! Negócio da China para inglês ver…
Rafael de Araújo Aguiar é um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
Lista de agradecimentos
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