Nintendo 64

Getter Love!! Chou Renai Party Game

F I C H A T É C N I C A
Developer Hudson
Publisher Hudson
Estilos Puzzle / Miscelânea / Board game / Simulador de relação amorosa
Data de Lançamento 04/12/98 (JP)
NOTA
7
Este jogo é pra…
( ) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente (X) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Um jogo delicado… para HOMENS?!?; O “canal FX” do seu Nintendo 64; otakus; quem valoriza conceitos inovadores; quem gostaria de treinar um tiquinho seu Japonês.(X) incógnita
Alguém aí falou em Mario Party? A Hudson DESENVOLVEU Mario Party! Malhação?! “Se Beber Não Case”?! Love Hina? Tudo isso se aplica, e muito mais… Getter Love!! Chou Reinai PG é um jogo bizarro, muito bizarro. Isto é, caso você não seja um pré-pubescente oriental pervertido e doido por um saquê, hipótese na qual você estará diante apenas de fatos cotidianos! Aonde você olhe em GL!!, lá estarão pandas com cara de demente com sorrisos sinistros em estranhas chacoalhadas de dança do ventre… Se você conseguir ultrapassar a abertura sem desenvolver epilepsia, bem-vindo ao mundo que pode ser caracterizado como: BOARD GAME? SIMULAÇÃO AMOROSA? NÃO: GETTER LOVE!! Simplesmente.
A divagação acerca da nomenclatura “Getter” + “Love” (+ “!!”) não é menos profunda que outras que concirnam ao sentido da vida ou do todo cósmico. Apurei, entretanto, que certamente não se trata duma construção com contração, como seria “Get ‘er Love” (Get Her Love), nem um anacoluto como em “Get… Errr… Love”. E se invertêssemos as palavras, a fim do título ficar “Love Getter”? Nah, essa solução é precária! “Getter” não é sequer uma palavra dicionarizada em inglês. Muito menos em japonês. O que seria um “getter”? Um verbo, um substantivo, talvez até um adjetivo? Saberemos um dia? Não até atingirmos aquele grande panda no céu, mas decerto os iluminados que programaram GL e que representam a companhia Hudson Soft. com uma abelha doidona (foto abaixo) sabiam o que faziam! Ou então… … … . . . -_- u.u”

Olha só o olhar fixo e as pupilas dilatadas do inseto – tá viajando na maionese regada a mel e outras substâncias!
Mas deixemos de lado – se possível – toda a insensatez sinestésico-carrolliana do “conceito” e sigamos em frente com uma análise franca e “normal”. Getter Love!! é daqueles vários jogos japoneses exclusivos lançados para Nintendo 64. (Curiosamente, os que não chegam à América são os melhores… Contra-exemplo: Bomberman Hero, alguém?!). Alguns desses são exímios de fato, e citarei Sin and Punishment como amostra-modelo de um shooter hi-tec. Outro ícone seria o brilhante RPG-continuação-de-um-sucesso-de-Super-Famicom Wonder Project J2 (um dos únicos títulos – quiçá o único – de Nintendo 64 lançado pela Enix!). Ninguém no Ocidente que escolhesse importá-los estaria cometendo um erro… Outros reconhecidamente devem ser tão evitados nas importadoras quanto um surto de peste bubônica… E Getter Love!!? Está mais para “experiência sócio-virtual” que para jogo de videogame. Mesmo entre os amalucados asiáticos, é impossível classificar a qual dos dois grupos GL pertenceria, então optamos por um meio-termo. Você decidirá conforme suas idiossincrasias…

O público seleto desta produção só podia ser o de revisores desesperados atrás de raridades (Ó, salve os tradutores e FAQistas!). A intenção da Hudson nunca foi fazer um arrasa-quarteirão, posto que board games já são uns dos gêneros menos respeitados da indústria. Muitos deles me fazem passar batido, sem nem querer saber detalhes, muito menos revis(it)ar! E enquanto há vários itens enquadráveis no estilo “board game” para N64, só o sumo do mainstream, isto é, a trilogia Mario Party, merece algum renome (e eu – do alto de meus 11 anos – demonstrei fé e fui um dos mais entusiastas compradores de MP1 quando ele saiu, em 99, e também joguei exaustivamente MP2&3, mas depois disso, pra mim, no GameCube, a série morreu e virou uma paródia de si mesma). Getter Love!! é tributário de MP. Não tinha como não ser, pois o jogo, como lembrado na primeira linha da matéria, é filho de uma parceria entre a “Big N” e a Hudson “stoned honeybee” Soft. Mas GL recai muito mais para o lado simulador de encontros, até onde eu sei um tipo de jogo inédito para não-olhos-puxados. Mesmo no Japão, só títulos como Tokimeki Memorial (Turbo CD) conseguiram lucrar propagando essa idéia. Some-se a essa eventualidade o fato de estarmos lidando com o Nintendo 64. Vamos falar sério: se você fosse um garoto no início da puberdade, rosto oleoso de espinhas, virilidade nascente, doido pra sair com garotas de anime em duas dimensões – já que não tem coragem de tomar a iniciativa de chamar uma dessas escolares tímidas do mundo real para tomar um sorvete de duas bolas e calda de chocolate –, seria o Nintendo 64 o sistema de sua escolha? É óbvio que não: estar-se-ia mais à vontade com um PlayStation ou um Saturno. É quase como se os 32 bits viessem com um kit romântico com velas vermelhas, macarrão instantâneo e espelho no teto para ajudar…

Esse é o garanhão italiano, um dos personagens controlados pela CPU
Satisfazendo as inusitadas condições de estar apto a encarar um board game que simula namoros (ou proto-namoros, ou galinhagens) num Nintendo 64 (eu diria que toda essa situação é o cúmulo da INAÇÃO BIOLÓGICO-COMPORTAMENTAL, uma vez que se trata de ser o mais sociável possível da forma mais esquizofrênica existente) — Getter Love!! começa a fazer todo o sentido do mundo… E se alguém quer mesmo passar pela experiência, não tem nenhum concorrente no console: GL é sua ÚNICA opção. Mas, se quer saber, diante de seus antagonistas meramente assemelhados no PSOne ou no Sega Saturno, Getter Love!! não faz nada feio!
* * *

Uma coisa que dá relevo à experiência da gameplay de GL é a miríade de garotas paqueráveis. Nada de estereótipos-mores do reino dos animes, como aquelas rainhas da popularidade em uniformes à Sailor Moon cantando J-Pop, derretendo-se de dor de cotovelo aqui e ali! Ao invés disso… temos a Panda Love Unit [Unidade de Amor Panda]! Entendo perfeitamente se neste ponto da leitura você estiver se questionando se não tomou nada estranho hoje (ou, de repente, se ESQUECEU de tomar seus remedinhos que o mantêm “normal”) e se está lendo as palavras certinho, se não está invertendo a ordem das sílabas e etc. Sem embargo, eu diria que você está indo bem – PANDA LOVE UNIT: é isso mesmo! Talvez a melhor frase já cunhada pela Humanidade de escrita milenar. Esse nome resume o grupo de 7 garotas a se conquistar em Getter Love!!, ademais de servir como um designativo para a própria equipe de desenvolvedores – nem um pouco baitolas, hmm! – e estar, em japonês, no subtítulo do game – “Renai” parece Renan…

A despeito de as minas de Getter Love!! serem clichês e banais até certo ponto (como não ser?), é refrescante não lidar com as peças muito mais manjadas e imprevisíveis de outras produções. Vamos a uma listagem desses estereótipos mais clássicos, dos quais o jogo da Hudson tenta fugir a todo custo: a popular “Miss Perfect”, ao mesmo tempo nerd e bela, primeira da escola em notas, o que no Japão gera fã-clubes e não zoações e hematomas (a Amy de Sailor Moon, com seu cabelinho curto e azul); a atleta dedicada (Mako-chan, de Sailor, a ruiva grandona); a garota introvertida de óculos fundo-de-garrafa (uma daquelas 3 de Magic Knight Rayearth); a “garota da porta ao lado”, por falta de expressão melhor (Usagi e seu idealismo insuperável de princesa e príncipe encantado que surrupia seu coração?); a riquinha “boa-demais-pra-você” (Sailor Venus, ainda em Bishoujo Senshi); a tomboy dedicada às Artes (Sailor “Lésbica” Netuno e também a Sailor Marte em certa medida)… A lista poderia ser maior, mas só quis dar uma idéia. GL oferece uma mixórdia de artes-marciais, anti-sociabilidade singela, machonas delicadas, convalescentes resignadas, marijuana ladies, classe médias classudas e… líderes de torcida, ou quase, em suas formas feminis – não se pode fugir de toda personalidade já usada à exaustão, afinal!

Deixei um dos tipos de fora, intencionalmente. Um tipo de garota que merece até um parágrafo próprio. A garota que inflige pavor democraticamente entre todos os grupos sociais, seja nos corações dos homens, das próprias mulheres, das crianças e dos idosos… (Engasgo.) Teria eu a pachorra de pronunciar o nome “em voz alta” sabendo que de repente a retribuição divina poderia ser passar a ser instantaneamente perseguido por uma mulher igual, como numa maldição?! Eu tenho que… é minha obrigação… como reviewer íntegro que eu sou, arriscando a vida… Ela é…
Como a Serpente Primordial, ela o ludibriará pretendendo ser só uma aluna-padrão de ensino médio, que atende pelo nome de Reika Kongouji… Mas deixe que ela atravesse seu caminho, e o arrependimento será imediato! Não é possível levar uma rotina “desatribulada” com esta besta nos calcanhares, nem para um Aquiles em potencial… Sem princípios morais nítidos ou qualquer compaixão pelo seu status de humanidade, ela o caçará pela cidade, stalkeando cada movimento. Mexerá sem escrúpulos nos seus bolsos, te deixará molhadinho no pior sentido (transpirando frio, fedendo de preocupação!) e mentirá maliciosamente – criando bolas de neve mitológicas, boatos sem pé nem cabeça – para todos ao redor, por ciúmes, arruinando qualquer traço de amizade ou afeto que você conserve com qualquer outra moça. Uma das únicas maneiras de afastar esse Belzebu ou Maria Chiclete seria convencê-la cenicamente (com a ajuda de um amigo NPC) de que você é homossexual!

Refiro-me a Alfonso Roberto Martini (não, rapaz, volte aqui e continue lendo, você não precisa de uma prescrição do oftalmologista!), tão convincente em sua representação de bicha apaixonada que poderíamos duvidar de sua sexualidade. A Maria Chiclete acreditará que você e Alfonso têm um caso e baterá em disparada atrás de outra vítima. Alfonso, uma espécie de presidente nato de grêmio estudantil, o mais imparcial nas relações interpessoais no colégio, é quase que o idealizador da “gincana” toda. Foi num encontro à la Clube do Bolinha em sua casa que as regras duma aposta foram seladas: o primeiro que conquistar uma garota ganha o jogo. Ele não compete com você, apenas banca o juiz imparcial (o Toad de Mario Party) e o conselheiro nas horas de vacas magras. Essa storyline me surpreendeu, sendo a melhor que já vi nesse despretensioso gênero. E é melhor do que matar dragões por aí, embora possa ser traçada uma analogia bem sutil com Elder Scrolls e similares, a depender da beleza da garota em jogo!

“Ei…hmm…uh… Você sairia comigo para comer um Panda Burger terça à noite?”
Em grande parte dos dating simulators (“sério, onde você encontra esses títulos?”) a jogabilidade consiste em estar no local certo na hora certa e em ser MONOGÂMICO, obediente ao princípio de que é melhor um pássaro na mão do que dois voando (Harvest Moon já o ensinou). GL não foge à convenção. Dados complementares da mecânica incluem aperfeiçoar as estatísticas do protagonista de modo a corresponder com mais precisão à personalidade da garota alvejada. Pode parecer que Getter Love!! perde em originalidade ao se equiparar aos demais em tantos pontos, mas a boa-nova é que GL tenta ser o menos raso possível. Primeiramente, a futura dança do acasalamento, diga-se, deve ser preludiada por uma dança da côrte que consiste em visitar uma lista de locais apontados como os “preferidos da garota”, até esbarrar com ela “acidentalmente” (ah, os golpes do destino!). Alfonso dá esse subsídio, para quem não conhece nada a respeito da garota com que quer flertar, exibindo sua agenda de compromissos… AVISO: essa tática de freqüentar os mesmos ambientes da sua paixãozinha pode NÃO funcionar na vida real…
Dê tempo ao tempo, deixe que ela se familiarize com sua presença (até chamá-lo de player-kun, quem sabe?) e dê o próximo passo: chame-a pra sair. Se você for pontual e fiel aos compromissos e sempre responder a suas ligações, é bem provável que ela caia de amores (VIU COMO É DIFERENTE DO NOSSO MUNDO?). O jogo possui vários finais. Pode-se tentar a finalização mais rápida, que é confessar seus sentimentos ainda no começo das saídas, o que é meio caça-níqueis; ou esperar mais, estando mais confiante do resultado. Mas a finalização mais satisfatória mesmo é quando a própria garota já está incontível e ela mesma revela seu amor, “fechando a competição para você”.

Um dos pilares da gameplay é o Simultaneous Activity Map System [Sistema de Mapa de Atividades Simultâneas] – SAMS na nomenclatura da Hudson. Na verdade a companhia fez um intenso marketing em cima dessa mecânica como se fosse algo realmente revolucionário. Pode até ser inédito para um date simulation game, mas não é nada que o faça ficar sentado na ponta da cadeira de tão maravilhado! Consiste num mapinha tridimensional de Panda Town, onde toda a ação transcorre. Cada competidor – são 4 – escolhe sua destinação no turno (manhã, tarde, noite). O bacana da ferramenta é poder testemunhar o modus operandi dos rivais e de todas as garotas, além do seu próprio. Duas operações simplórias com o joystick, envolvendo as teclas A e B, regulam a velocidade com que seu personagem perfaz os caminhos. Os comandos são tão simples que os quatro botões C do N64 sequer são usados! Em duas situações seu boneco se dirigirá automaticamente a sua própria casa: depois do turno da noite ou após um encontro formal. Nas demais situações, o turno principia no mesmo local do turno anterior.
Hora de falar dos outros competidores. Muitos simuladores de relações afetivas são shows de um ego só, mas não Getter Love!!, um “party game”, afinal de contas! GL[BT?] atinge seu máximo potencial quando outros 3 amigos, tão nerds quanto o dono da fita, encaram a missão de conquistar uma garota virtual. Esteja preparado, porque no multiplayer as fagulhas vão saltar dos olhos de cada qual o tempo todo e transformar a sala numa oficina de ferreiro! Talvez num plano maligno para reduzir a superpopulação, a Hudson inseriu dois botões sem utilidade prática a não ser irritar e tirar sarro dos rivais pessoais, com vaias, risadinhas e até mesmo coros entusiastas (irônicos, imagino), enquanto o cara está no fogo cruzado. Quando a Maria Chiclete entrar em cena e der em cima de alguém, é bom economizar nas zoações ou você pode ficar sem seus indicadores para apertar Z e L no futuro!

Getter Love!! pode se situar num “tabuleiro” (a cidade de Panda), mas não é Monopoly, War ou Risk. Uma partida ou sessão é relativamente breve. Não vai demorar tanto até você ganhar e fazer seu Nintendo 64 ser reduzido a pedaços por um taco de beisebol de seu (ex-)amigo em fúria. GL foi configurado para não ter nenhum turno “filler” que não reflita diretamente no resultado final. Tente esse game como uma saideira para uma noite de insônia em que se o grupo de amigos arriscasse uma oitava hora seguida de Duck Hunt talvez alguém ficasse surtado ou tivesse um AVC! Só não me processe pela sugestão quando um daqueles pandas dançarinos à la Andy Warhol o enviarem numa viagem lisérgica sem volta em que você é uma laranja e tenta se auto-descascar…
Não se engane com GL: jogar de 1 ainda é divertido à beça. O número de jogadores é fixo, e até 3 computadores (na verdade 4, pois você pode se limitar a assistir partidas) podem ser escalados com o intuito de complementar o quarteto de apostadores e aspirantes a Don Juan, igualzinho em Mario Party (inclusive a casa de cada um está numa das quinas da cidade, lembrando o posicionamento dos atributos de cada jogador na competição de Mario & cia. Atenção porque a inteligência artificial não é nem um pouco jumenta! Como deixado a entender previamente, um dia consiste em 3 turnos de cada jogador. As vitórias mais rápidas possíveis, até onde eu sei, ocorrem em 4 dias, mas a disputa pode se estender por 2 semanas. A competição pode ser todos-por-uma-garota ou cada-um-tentando-a-sorte-com-a-que-quiser. Durante os jogos de sedução, pode acontecer de dois ou mais jogadores se engajarem num duelo, se atrapalharem e ajudarem com itens, etc. Mas a competição masculina é só um lado da equação. A garota, por si mesma, já será enigmática o bastante. Se você for pego sendo infiel (até em diálogos!), é casa do cachorro para você, amigão! Além disso, nem toda a diversão consiste em apenas “ganhar”. Há um vasto cardápio de eventos especiais destraváveis e metas subsidiárias a cumprir a cada jornada, então é bom aliar a serenidade do enxadrista com a agilidade de um pugilista a fim de prevalecer. Quadro desalentador? Então você nem imagina o que os outros disputantes farão com quem estiver na liderança: qualquer meio é válido para fazê-lo perder sua garota – e para os que estiverem no fundo do poço, tudo pode piorar se a Maria Chiclete ainda não bateu à sua porta!

Como em MP, alguns minigames ajudam a aliviar as tensões e salpicam esse “puzzle sentimentalóide” todo com ação em estado bruto. Eles podem ser jogados fora de uma quest ou dentro dela, afetando a performance (diminuindo sua energia ou enriquecendo-o, por exemplo). São apenas 4, basicamente 1×1 ou 2×2 (3 deles) ou 3×1 (1 em especial). Imagine um Minigame Mode de Mario Party só que com umas 10x menos opções. As premissas são as seguintes: quiz (jogo de perguntas e respostas); pique-pega (em que o “jogador a ser pego” segura um microfone dentro dum karaokê e tem de completar a canção para vencer); paintball (talvez o mais complexo, lembrando muito um battle de Mario Kart 64); alpinismo misturado com whack-a-mole, em que 3 tentam escalar uma montanha enquanto outro tem de martelar cabeças para evitar o pior!
Sobre o aprofundamento no single player mode, ademais de 4 finais diferentes para cada garota (6*4 = 24; +1, que é o único final com a Maria Chiclete/Reika = 25), são 115 features graváveis no cartucho, no menu de Memories, se – E SOMENTE SE – você puder vencer uma partida após destravar tais features durante a gameplay. Portanto, zerar mais de 50 ou 60 vezes é imprescindível para completar esse inventário de raridades. Essas coisas vão desde diálogos que aparecem pela primeira vez e são salvos num log a fotos/vídeos das garotas que apenas os mais dedicados Romeus saberão como obter. Cada nova partida tem um desenrolar completamente diverso. Tem muita cantada barata de boate que vai sempre funcionar dependendo da piriguete, mas não aqui, no reino poligonal, he-he!
Observação: embora esses recursos especiais e os rankings de finalizações sejam gravados na bateria interna do cartucho, sem um memory card será impossível gravar seu progresso in-game; e é importantíssimo poder salvar depois de 1 dia, pois resetar após um erro grave e recomeçar desde um ponto preestabelecido é um expediente muito aconselhável, além de uma partida inteira ser algo longo do prisma de “uma só sentada”, sendo o ideal dividi-la em duas metades para quem não gosta de passar mais de 3h em contato contínuo com um jogo. Vale lembrar que o game exige 18 páginas do memory card por file aberto, e que este pode ser tanto o hardware japonês quanto o americano. Já o hardware da máquina (o Nintendo 64) tem de ser japonês ou compatível com cartuchos japoneses (em outros termos, um americano “adulterado”, destravado), ou o cartucho não funcionará.

Bem podia ter um “I Spy Mode” em que o vencedor seria aquele que encontrasse mais imagens do panda!
A prova cabal de que o Nintendo 64 pode renderizar gráficos 2D com qualidade está em Getter Love!! É triste ver, em comparação, Yoshi’s Story, um game vazio esteticamente, com um 3D rechonchudo que gostaria de replicar uma diversão mais supernintendista. Cada personagem tem um largo e cativante portrait desenhado à mão, para não falar dos cenários de fundo bem “artesanais”. Dependendo do local, se for a céu aberto, são na verdade três cenas distintas o que se vê, a depender da hora do dia. Parece trivial que um console capaz de rodar Perfect Dark ou Majora’s Mask execute esse tipo de função, mas o N64 não tem uma engine poderosa em termos bidimensionais, por incrível que pareça (não tão boa quanto a do Saturno, por exemplo). Então, para evitar loading ou quedas na framerate a Hudson foi obrigada a manter a animação num mínimo. Os cenários não são muito móbeis e os personagens quase não mexem o rosto, com exceção dos olhos. As diferenças no estado emocional de cada um são expressadas mediante um rodízio de avatares. Cada garota tem uma série desses avatares, e num mesmo diálogo elas podem exibir as mais díspares gradações de humor.
O álbum virtual com imagens estáticas e seqüências animadas passível de ir completando quanto mais se joga é uma das adições mais bem-vindas. Estas cenas retratam as garotas fazendo o que mais gostam, em geral, conforme o hobby descrito em suas fichas. Tem até um evento raro no jogo (pois exige uma espécie de “convite” ou “ingresso” que o gamer tem de adivinhar como obter) em que se pode marcar um encontro na praia, e observar as minas de biquíni! Algumas poses são amáveis, noutras o ângulo ou a expressão são inconvenientes ou bisonhos. Como quer que seja, nada tão terrível quanto pêlo no sovaco, pelo menos – tirando o ending com a Maria Chiclete, mas sinceramente eu não sei se se trata de uma mera sombra ou de pelugem nasal (argh)!
Os menus são bem-coloridos e as opções de navegação apresentam ícones temáticos para facilitar ao máximo aos leigos no idioma. Umas das representações mais carismáticas e fofas são os avatares disponíveis para você customizar seu personagem, no prólogo. Os homens sempre estão em Super Deformed, ao contrário das mulheres. Os modelos estilizados, para falar a verdade, se parecem muito com os utilizados em Ogre Battle 64.

Embora curta, a trilha sonora atinge um resultado melhor que o esperado: uma mistura de Sonic The Hedgehog com Mario Kart de Super Nintendo e ainda outros jogos bem retrô que não consigo lembrar no momento! Alguns temas vinculados às garotas são capazes de emocionar. Tudo de J-Pop que há está, felizmente, avocalizado, isto é, não passa de faixas instrumentais. Os momentos ao lado da garota mais patricinha são embalados por uma peça de jazz; Shizuku – seu nome significada “cachoeira” – tem um tema plácido como uma paisagem campestre. Kiiro é a única com música cantada, num feeling mais hindu. Meifa é a lutadora chinesa que mais se aproxima duma cópia da Chun Li, e recebeu um tema composto de gongos e aquela coisa toda.
Sons como latidos de cães e miados de gatos, portas batendo e aqueles efeitos típicos de anime, inidentificáveis conforme o mundo real, mas baboseiras perfeitamente toleráveis para nós, inundam toda a gameplay. Que jogo japonês estaria completo sem sons esquisitinhos toda vez que aparecem na tela seu nano-herói em pijamas, tomando banhozinho, martelando todo mundo como se não houvesse amanhã (com um martelo maior que o próprio corpo) e aqueles cards mágicos que desencadeiam as conseqüências mais absurdas?
Eu sei que você já sabe duma coisa; mas você quer que eu diga com as próprias palavras para confirmar e sepultar suas esperanças de vez. Sei a dúvida que faz sua cabeça latejar no momento, caro gamer pervertido. Eu confesso que fui movido a fazer esse review graças à mesma curiosidade sexual, não se acanhe! Ter visto a foto de capa do jogo me fez considerar a validade da experiência, como deve tê-lo animado a prosseguir lendo esse longo tratado. Finalmente vou deixar a cadelinha poodle sair da bolsa da madame, então lá vai…: Getter Love!! NÃO é um hentai game, nem tem elementos categorizáveis no gênero. Desculpe por decepcioná-lo. Por mais que gostássemos de ver um dia isso acontecer, a Hudson produzindo um material interativo (de boa qualidade) pornográfico num periférico mainstream como o Nintendo 64 – ainda mais conhecendo a política “para baixinhos” da Nintendo – seria mais do que qualquer piada de primeiro de abril poderia comportar. São raríssimos os momentos em que se flerta com o mais velado erotismo. Com efeito, após se familiarizar adequadamente com GL o jogador perceberá que a tomada sexy da garota de minissaia na capa é só a Maria Chiclete de costas – e você não vai querer vê-la de frente (ops, transformei sua vida num pesadelo ao inserir a foto de seu avatar de rosto logo abaixo!)! Esse senso de humor dos mesmos criadores de Bomberman permeia todos os elementos do jogo e dá autenticidade a toda a brincadeira de dating. Se você procura por beldades torneadas ou uma simulação sem espaço para irreverência e piadas mil, Getter Love!! não irá satisfazê-lo. Acho que quem simpatizar com o insano panda que é o mascote do jogo e que se infiltra em quase todos os souvenires e telas da trama, estará no contexto perfeito!
Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
Lista de agradecimentos
Kristina Ann Potts (Aussie2B) e Tropicon do gamefaqs.com
mobygames.com
versão 2 – 2013; 2025.



