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gex (3do & al.)

3DO

+ PC, PlayStation & Saturn.

Gex

F I C H A     T É C N I C A

Developers Crystal Dynamics (3DO-PC) / Beam Software (PS-SAT)

Publishers Crystal Dynamics (PC-PS-SAT) / BMG Interactive (3DO-PS-SAT) / Eidos Interactive (PC) / Sony (PS) / Square Enix (PS)

Estilo Ação > Plataforma 2D

Datas de Lançamento:

3DO – 16/11/94 (EUA-EUR); 14/07/95 (JP)

PC – 07/11/96 (EUA)

PlayStation – 13/12/95 (EUA); 08/03/96 (JP); 04/96 (EUR); 1998 (EUA-Greatest Hits); 05/11/09 (EUA-PSOne Classics); 21/12/11 (EUR-PSOne Classics)

Saturn – 29/03/96 (JP); 04/96 (EUA-EUR)

NOTAS

7.9 (3DO) | 7.5 (PC) | 6.9 (PS) | 7.5 (SAT)

Este jogo é pra…

(  ) passar longe  (X) dar uma jogadinha de leve  (  ) dar uma boa jogada  (  ) jogar freneticamente  (  ) chamar a rua toda pra jogar  (X) um tipo específico de jogador. Qual? O old school platformer.  (  ) incógnita

Venha comigo num passeio pelo Reino dos Mascotes de Videogame Excluídos da Indústria Canibal. Nessa espécie de asilo figurativo, muitos protagonistas de jogos enterrados no passado que poderiam muito bem ter sido contendores à altura de um Mario ou Sonic, se mais lapidados. Tem pra todos os gostos e tipos. Bubsy The Bobcat é um dos habitantes mais célebres desse retiro. Mais um daqueles felinos superficiais que alguns executivos rubicundos acharam que seria a nova sensação da criançada noventina. Subestimaram nossa inteligência, Einstein! Devemos confessar, no entanto, que atitude o bichano tinha. É que se esqueceram do principal: ambientá-lo num jogo ao menos semi-decente. Ah, um pouquinho mais pro lado temos Hermie Hopperhead, de que você PROVAVELMENTE jamais ouviu falar. Foi a primeira tentativa sonysta atrás de um representante para seu poderoso novo sistema, bem antes de idealizarem um tal de Crash. Seu ÚNICO jogo nem chegou a evadir o Japão, de tão ruim e malfadado. O terceiro morador do reino com que nos deparamos é Sparkster, o Cavaleiro-Foguete! Deus do céu… Esse foi uma criação da Konami, que teve a ousadia e a pachorra de estrelá-lo em TRÊS jogos, como se UMA porcaria já não fosse o bastante! (Carreguei no sarcasmo, mas a trilogia é boa.) Deve ser a franquia de menor vendagem da empresa. Pois é, cada um dos mascotes presentes neste ignominioso sítio tem um conto triste para narrar. Seus “patrões” lhes asseguraram anos de bonomia e gratidão após um pequeno esforço (percorrer algumas fases, nas mãos de uns beta testers, até derrotar o vilão final, mas morrendo algumas vezes no caminho e ressuscitando por “magia negra eletrônica”). Mas seus sonhos de glória foram abortados bem cedo. Aqui nessa espécie de casa-de-cuidados eles são dados de comer, mas se saíssem lá fora teriam de mendigar com placas no estilo “Pulo em cabeças de criaturas por uma boa quitinete!” a cada esquina ou sinal. Dura vida virtual de labuta! Para cada crônica de sucesso gamístico, são muitas mais as negras tragédias de fracassos retumbantes…

Um side-scroller com direito até a tela do mapa no melhor estilo Super Mario World!

Ei, mas quem é aquele, na ala dos piadistas irreverentes e loucões, assistindo TV, num canto, num avental branco, resmungando? Ora, se não é o Gex! Esse aqui chegou a ouvir o retinir da caixa-registradora com milhares de moedinhas prestes a ser despejadas em sua conta… Ele pôde TOCAR a fama, ao contrário de muitos de seus companheiros. Uma lagartixa falante e muito inteligente até para os padrões humanos que chegou a fincar sua bandeira em inúmeras plataformas. Seu debute dourado nos permitia antever a entrada de Gex no panteão dos quase-protagonistas, junto com um Conker, um Rayman, um Goemon e um Banjo! Mas não, ainda não! Ele precisava confirmar isso nas continuações. É sempre mais difícil acertar a mão (ou a pata) uma segunda vez, ainda mais se os produtores resolvem migrar do seguro (mas fora de moda) 2D para o incipiente e febril 3D. Duas aventuras horríveis em polígonos seriam o suficiente para sepultar a carreira de Gex. O antes afiado lagarto que mesmo metido em enrascadas preferia enxergar a situação de forma positiva sucumbiu à misantropia e à depressão. Hoje esse reptilzinho é o sossegado e introspectivo companheiro de quarto de outro ex-quase-famoso dos 16 bits, que parece lidar ainda pior com seu frustrado presente: Awesome Possum (confiram, é um jogo de Genesis extremamente mal-avaliado, e que não tem nada de awesome!). Rá, marsupiais da Austrália: qualquer idiota teria essa idéia!… Mas voltando a falar do outro, resta o consolo nostálgico de que Gex 1, o side-scrolling, era um bom jogo, e ele será o assunto a partir de agora.

* * *

O Panasonic 3DO recebeu Gex primeiro, ainda em 1994. Engendrado pela agora-defunta Crystal Dynamics, Gex foi com efeito um dos precursores no gênero Plataforma nos sistemas de nova geração (surpassando os 16 bits e inaugurando novas mídias, como o compact disc). Sem embargo, o caminho seria pedregoso: acontece que o periférico da Panasonic estava naufragando mais rápido que o Titanic, e não restava alternativa, para os criadores de Gex, se quisessem que ele ganhasse os corações dos gamers e a imortalidade em suas cabeças, senão a de exportar sua marca para a concorrência. Pouco mais de um ano depois a biblioteca do PlayStation lhe dava as boas-vindas. Era questão de tempo para aparecer também no Sega Saturn e até nos microcomputadores.

Platformers não costumam exigir mais do que um rascunho de enredo para que todos os elementos de jogo já sejam oferecidos sem sentirmos a falta de nada. E Gex não é exceção. Como dito, trata-se de uma lagartixa superdesenvolvida. Uma lagartixa sedentária e que não quer encarar as responsabilidades da vida adulta. Assim que quebra as correntes que servem de elo com seus pais, o sujeito arruma um jeito de se isolar num paraíso tropical, comprar uma TV de MUITAS polegadas e se dedicar a seu hobby predileto: esparramar-se no sofá e acompanhar religiosamente todas as reedições de programas de auditório e filmes favoritos que puder na extensa TV a cabo! É aí que o roteiro precisa fazer aquele gancho: adicionar um conflito, para ensejar nossa entrada no negócio. Uma mosca invade a sala-de-estar de Gex e se insinua, voando a sua frente. Por mais desenvolvida intelectualmente que uma lagartixa seja, não pode abdicar a seus instintos: estica a língua e engole a mosquinha. Mal sabia Gex que esse seu ato seria o maior gerador de queima de calorias em seu corpitcho dos últimos tempos! Acontece que a mosca era só um súdito de Rez, o soberano maligno de uma realidade que só existe dentro da televisão. Ele precisa de um mascote ousado e interessante para seu canal, um subterfúgio necessário para dominar o mundo (?!). Gex foi o escolhido. A mosca, no estômago de Gex, emite um pulso elétrico a Rez, a confirmação de que Gex mordeu a isca (não que o inseto se chamasse Isca – enfim, você entendeu…). Antes de Gex perceber a mancada que fez, a mão de Rez brota da tela e suga nosso herói. Nada resta ao enciclopédico lagarto colecionador mental de tranqueiras culturais além de navegar em meio a fac-símiles dos seus antigos programas não-interativos procurando controles remotos e outros itens que ajudem a enfraquecer o império de Rez. Até porque ele já está ficando com saudades do sofazinho e da rotina descompromissada de antes…

São 5 mundos principais com cerca de 6 fases cada, afora um mundo secreto. As quatro primeiras grandes áreas são baseadas em gêneros do Cinema (terror, animação, artes-marciais e aventura na selva), enquanto que o lar de Rez é uma espécie de distopia industrial. Dependendo da fase, a saída só abre se Gex encontrar o ou os controles remotos existentes dentro dela.

Fortuitamente, os movimentos de Gex são inspirados em sua natureza animal; não fosse assim, teriam desperdiçado uma ótima chance de adicionar contexto às coisas: além da clássica manobra de assassínio dos inimigos mediante pulos sobre suas cabeças, Gex pode feri-los com uma chicotada de sua cauda, ou então usá-la para ganhar impulso no ar, e ainda escalar paredes e tetos (seus membros podem grudar nas superfícies). Mas o que seria de um Plataforma, ainda mais um com aspecto old school, sem os fantásticos power-ups? Gex pode se tornar poderoso a ponto de lançar bolas de fogo, trovões e gelo de sua boca. Há ainda itens para deixá-lo mais rápido ou temporariamente invencível. E, como em toda aventura correlata, há os reabastecedores de life e as vidas extras. Para ser exato, 100 moscas douradas dão uma vida, e as fases estão cheias delas (dessa vez pode confiar, porque não se trata de nenhuma armadilha!).

Gex é divertido porque cada fase tem uma alma e uma personalidade próprias. A primeira etapa já mergulha o jogador em adrenalina, apresentando a temática horror. Maníacos segurando serras elétricas, tomates assassinos e patos frankenstêinicos são uma pequena amostra do que está por vir. No segundo mundo, o dos desenhos, os obstáculos não são menos traiçoeiros: bigornas em queda livre, rejeitados de uma produção baixo-custo da Hanna-Barbera que ejetam os próprios olhos para empregá-los como armas, super-heróis voadores de araque que usam flatulências para pegar impulso, etc.! Cada fase está apinhada de segredos, que incluem cobiçadas bonus rooms. Dá saudade dos tempos em que os designers faziam seu trabalho com gosto!

Nada disso deporia tão a favor de Gex assim se faltasse a precisão nos comandos, mas ela também se encontra aqui. Bastam 5 minutos para dominar a lagartixa. Além disso, quanto às manobras mais complexas de escalada, o jogo dá tempo ao tempo, a fim do jogador se acostumar ao nível de dificuldade, sempre crescente, para que possa sobreviver aos últimos níveis.

Não é segredo para ninguém que os gráficos de Gex são imensamente datados. Nada mudou na transposição do 3DO para as máquinas 32 bits mais arrojadas, talvez mais quadros de animação aqui e ali, e só. Mas o visual não impressiona nem em termos de primeira geração de jogos de PlayStationOne. Digamos que na época em que Gex saiu o objetivo-mor era mostrar que existiam videogames mais poderosos que o Super Nintendo! Nada de polígonos, e agradecemos, afinal isso só tornaria o visual ainda mais defasado hoje em dia! Cem por cento das construções são de sprites. O fato de os cenários serem desenhados a mão ajuda a aumentar a beleza da obra. A abertura de 1 minuto em CGI era, ainda, novidade na época e contribui para o feeling de grandiosidade do título.

No som é que os jogos tinham mais a ganhar, de imediato, ao pularem dos cartuchos para os CDs. Gex é o representante ideal dessa transição. Bem, olhando de hoje muitos dos protagonistas tagarelas foram um desastre. Mas Gex é especial. Ele é um contador nato de anedotas e piadas. E elas vieram em bom número, pelo menos o bastante para você não enjoar de nenhuma delas. A Crystal contratou o comediante Dana Gould (roteirista dos Simpsons nas horas vagas), que não só dublou como escreveu as próprias piadas que iria gravar. Ou seja, os monólogos de Gex são todinhos dele. Ao todo, Gex pronuncia mais de uma centena de frases, que dependem, certas vezes, do contexto. Muitas são referências à cultura pop ou então aspas de filmes que nem todos conhecem. No mundo de terror, ao pular sobre uma das lápides do cemitério, a lagartixa hiperativa poderá dizer “You moved the headstones, but you didn’t move the bodies!” (“Você moveu a pedra, mas não os corpos!”), uma fala de Poltergeist, um clássico. Fico até surpreso de ver que o jogo ganhou a classificação “kids to adults” da ESRB, uma vez que dadas piadas são provocantes e polêmicas por demais. Mike Tyson, se jogou Gex 1, não gostou do que (ou)viu! Pequenos exemplos: Gex se mostra resmungão a respeito da falta de pizzas no cemitério e pode até bancar o protagonista de musical da Disney/Hollywood, embalando um Kool and The Gang (tudo porque tem a ver com a fase da floresta – “Jungle Boogie” é o nome da música) ou o tema “George, George, O Rei da Floresta”

Se tem defeitos, Gex pode ser chamado de muito curto e não tão árduo assim para veteranos. Mas não deixa de ser um winner, e logo na estréia. Pena que nunca mais Gex brilharia igual. Tinham de tentar copiar o sucesso de Super Mario 64 com uma dimensão a mais, miolos de menos e muito tédio e falta de noção nos layouts das fases e definição dos objetivos para estragar tudo em Gex 2 e 3! Gex não chegou a afundar suas patas na calçada da fama dos games, mas se serve de consolo ele tem um dormitório no “asilo dos abandonados” e uma TV (de médio porte!)… Como é barato, decerto ele conseguiu arranjar também um 3DO ou um PSX para matar as saudades… de si mesmo, nos bons tempos! Hermie Hopperhead, um dos azedos personagens que tinham potencial mas também não viraram nada de importante, deve sentir uma certa ponta de inveja do menos-fracassado Gex: “Pelo menos ele estrelou três jogos, e eu só unzinho!”

“Tchau, e obrigado pela leitura!”

Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo não-praticante e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos

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