REVIEW N° 1077 DO NEWGEN
Por Rafael “Cila” Aguiar
Genesis

Crusader of Centy
Soleil (Europa)
Shin Souseiki Ragnacenty (Japão)
Ragnacenty (Coréia do Sul)
| F I C H A T É C N I C A |
Developer NexTech
Publishers Atlus (EUA) / Sega (AUS/EUR/JP) / Samsung (COR)
Estilos Role Playing Game / Ação / Adventure / Puzzle
Datas de Lançamento
16/06/94 (EUA)
17/06/94 (JP)
1994 (EUR/COR)
1995 (AUS)
| NOTA (este escore é uma média dos principais portais de games na web e revistas antigas quando for o caso, e também engloba a opinião dos gamers visitantes, além da crítica especializada; e não necessariamente reflete meu ponto de vista) |
8.14
| E S T E J O G O É P R A . . . | |
| (X) passar longe | (X) dar uma jogadinha de leve |
| ( ) dar uma boa jogada | ( ) jogar freneticamente |
| ( ) chamar a rua toda pra jogar | ( ) uma incógnita Observações, quando necessárias: |
| (X) um tipo específico de jogador Quem? Iniciantes em Action RPGs; Zelda-maníacos procurando dungeons e puzzles simples. | Quem jogar este também poderá gostar de: Alundra (PS) Beyond Oasis (GEN) Diablo (PC) Landstalker (GEN) The Legend of Zelda: A Link to The Past (SNES) Phantasy Star IV (GEN) Pokémon Crystal (GBC) Pokémon Gold & Silver (GBC) Shining Force CD (SCD) Shining in The Darkness (GEN) Soul Blazer III: Terranigma (SNES) Super Mario Kart (SNES) Super Mario World (SNES) Sword of Mana (GBA) Sword of Vermilion (GEN) |
| FAIXA DE VIDA ÚTIL ESTIMADA |
4-19h
Crusader of Centy, batizado de Soleil na Europa (o nome da cidade central do jogo, “Sol” em Francês), ou Ragnacenty e uns trocados no Japão, é um dos exemplares do extinto gênero old school Action RPG, cujo epítome foi Zelda: A Link to The Past, há 27 anos da data desta resenha (e há 34 anos, agora da sua republicação no rafazardly). Zelda era o líder de vendas (ao lado de Mario & a sua turma, que não são RPG a menos que se trate de spin-offs) no Super Famicom, o grande concorrente do Sega Genesis ou Mega Drive na América do Sul e Europa. Não havia nada que se comparasse, no console do porco-espinho azul, pelo menos em números, o que começou a mudar com alguns hits ideados pela Sega, ampliando bastante sua biblioteca de RPG/Ação. Vide Beyond Oasis, Light Crusader e este que vos rouba a atenção agora. A fórmula era sempre a mesma: originalidade próxima de zero; o negócio era emular a qualidade suprema da obra-prima de Shigeru Miyamoto do jeito que desse e apenas modificar engines secundárias. Nada de ruim poderia resultar disso.

O bacana dessa época é que a Sega of America era bem entrosada com a Sega of Japan, e os lançamentos nipônicos eram devidamente traduzidos e lançados com pompa na América e demais países com penetração anglófona, sem muito retardo. Os times encarregados eram competentes o bastante e considera-se que não havia qualquer censura ou corte em partes capitais. Os diálogos sobreviviam relativamente intactos. O mesmo não se pode dizer, por exemplo, da era Saturn, malquista pelos seguidores da Sega, com games como Riglord Saga 2, Grandia e Dragon Force II praticamente negligenciados no mercado ocidental. Dependia-se de importadoras e de FAQs para lidar com menus com caracteres completamente ininteligíveis para a massa considerável dos detentores do periférico, ou então contava-se com meses ou até anos de atraso nessas conversões (Magic Knight Rayearth), que ainda por cima saíam com qualidade abaixo da esperada. O maior culpado dessa “idade média” para os fãs de Role Playing Games e consumidores da Sega enquanto hardware house era Bernard Stolar, presidente da companha no Ocidente, que realmente achava que RPG não era coisa de americano e fez muita gente pagar o pato por suas convicções furadas. Mas chega de história dos games.

Adolescentes crêem-se verdadeiramente o centro do universo: mas será que eles são mais marrentos que o Sonic?
CC pode ser considerado pela crítica como parelho em fama e qualidade aos acima citados Beyond Oasis e Ligth Crusader. Mais do que uma mescla entre o Jogo de Interpretação de Papéis e Ação, há um balanço, na mecânica, entre combate, resolução de quebra-cabeças e sessões Plataforma (aspectos inicialmente não evidenciados pelo simples rótulo “Action”). Há até mini-jogos durante a exploração (consideravelmente linear) que fazem com que comparações com Super Mario World (vide, ademais, o overworld map!) e Super Mario Kart não sejam desprovidas de sentido.

Seja como for, no tipo de jogo que Crusader é, conversar com NPCs e arriscar a vida do personagem no simples pulo ou ataque é normal. Os Action/RPGs modernos, estes, longe da extinção, só se expandiram depois do sucesso modelador de Diablo nos PCs. Neles a criatividade e multiplicidade de tipos de ações deu lugar a um hack ‘n’ slash ad infinitum de inimigos com geração espontânea no campo de jogo que não demandam sequer uma estratégia mais elaborada para ser vencidos. Homogeneidade e monotonia viraram a regra do jogo. Que bom, portanto, e que sorte, que se trata esta de uma resenha dedicada ao público retrô!

Saindo da história dos 16 bits e de como os Action RPGs se desenvolveram na posteridade para o conceito in-game, Crusader of Centy sai um pouco das premissas óbvias do estilo (acordar um dia na pele do herói que iria salvar uma terra medieval do demônio e resgatar uma princesa, não necessariamente perdendo a virgindade com ela!) e nos brinda com respostas para espécies de dúvidas milenares universais do gênero humano, tais como: “Como seria se pudéssemos nos comunicar com os animais?”. Arrisca uma resposta dual: ou seria uma chatice extrema ou algo perigoso e arriscado. Felizmente, para os old gamers, CC traz algo mais similar ao segundo cenário que ao primeiro. E o melhor é poder experienciar tudo virtualmente, sem arriscar a integridade física de verdade. Outro aspecto de relevo deste game é que ele não é exatamente recomendado para veteranos (a não ser que o critério “nostalgia” fale mais alto): sua dificuldade baixa faz dele ideal para ser o primeiro passo na escada dos iniciantes no ramo.

Soleil previu o Minha Casa Minha Vida!
ENREDO
O “Link” da estória é um pouco mais velho, mas, igual Crono, outro arquétipo do estilo, inicia a “jornada de sua vida” justo no dia de seu aniversário, o 14º. Seu falecido pai havia legado uma espada de herança, e ordenado que ela lhe fosse entregue somente nesse dia especial em que os pelinhos da adolescência começam a se fazer mais proeminentes (hehe). É como o Tio Ben sempre dizia (ou disse uma vez, salvo engano), “grandes espadas trazem grandes responsabilidades”! Você não poderá mais se restringir a sua cidade natal e terá de investigar certas “ocorrências bestiais” mundo afora. Os non-personal characters são profusos mas: 1) não ajudam tanto assim na hora de dar conselhos; 2) cedo, o gamer perceberá que há algo de estranho com eles, e então uma reviravolta ocorrerá…

–Semi-spoiler–: Com meia hora de jogo transcorrida, o protagonista perde a habilidade (?!) de conversar com humanos, mas, para compensar, ganha a de entender a fala dos animais, sejam eles criaturinhas amistosas ou os próprios oponentes com quem não se cansará de medir forças. Só Deus (ou o Game Master) sabe se você vai conseguir falar com bípedes sem penas novamente em Crusader of Centy! Prepare-se para ouvir (ler, já que as falas não são dubladas, seria o mais correto) muita fofoca anti-humanidade: porque o homem não presta, ele é o lobo da natureza, etc., etc.!
–Fim do Semi-spoiler–

Desafios simples como 2 e 2 são 4
SISTEMA DE JOGO & AS INEVITÁVEIS COMPARAÇÕES COM ZELDA
A travessia entre os cenários, principalmente entre aqueles pacíficos e aqueles belicosos, não se dá como na “matriz” Zelda. Você entra em estágios diferentes a partir de uma “tela do mapa” bastante similar àquela de Super Mario World ou Super Mario Bros. 3. Para alguns, economia de tempo e frustração com batalhas inúteis e dezenas a centenas de respawns que sequer dão pontos de experiência (já que estamos falando de um A-RPG na mais pura acepção do termo). Nada de se sentir perdido, perambulando sem bússola por um mundo como Hyrule. Ao mesmo tempo, tudo fica mais claustrofóbico e amarrado. A exploração “vadia”, aquela de quem vai descobrindo o que fazer no meio do percurso, é um dos fortes de A Link to The Past, aventam os fãs.

Seria muito mais empolgante poder usar mais do que duas armas simultâneas, ainda que combinadas, sendo, na maior parte das vezes, duas espadas (ainda que algumas se comportem como martelo ou bumerangue, por exemplo). Arco e flecha? Esqueceram de “rippar” essa weapon do kokiri… Essas duas armas estão representadas por dois avatares de animais que você pode conduzir consigo. Não são exatamente companheiros de luta autônomos, mas realmente “relíquias vivas” que emprestam-lhe mais poder, e essenciais para galgar novas seções nas dungeons. Esse caráter de “ser mestre de bichanos” é que me remete a Pokémon no título, fora o fato de este ser um T-RPG de portátil (Traditional RPG, com batalhas em turno). Cada animal é “temático”, ou seja, um elemental. Exemplos típicos de qualquer RolePlay que se leva a sério (e leva os clichês do gênero a sério) são o fogo, o gelo e alguns outro skilled animals que correm por fora, apresentando técnicas como a espada ricocheteadora. Use o pingüim-espada de gelo para congelar sua passagem no meio da lava: a progressão pelos obstáculos é tão intuitiva quanto parece! O leopardo é como os tennis shoes de Link, isto é, dão um boost na velocidade. Com eles, é possível superar abismos antes intransponíveis, pegando-se impulso (essa faceta Plataforma estava ausente em Zelda:LtP). É divertido testar todas as combinações de duplas animais possíveis para ver o que resulta em cada contexto.

Como em muitas instâncias em Zelda (no 2D ou no 3D), puzzles de empurrar e puxar blocos (até sob a água!) marcam presença; numa das ocasiões, será necessário vedar uma corrente fluvial contrária que impede seu progresso, usando desses enormes e pesados blocos, já consagrados pelos RPGs. Dar espadadas em switches para abrir passagens secretas não é nada novo, idem, e é visto com certa recorrência. Por isso, não se trata de um jogo a ser visitado por anti-nintendistas, apesar de estarmos falando de um produto exclusivo for Sega.

Sua energia vital (HP) é exibida, veja você, em uma fileira de maçãs (não confundir com CORAÇÕES), como aliás tudo na tela lembra Zelda; e cada maçã dourada concede um novo coração permanente, aumentando sua stamina. E se eu dissesse que cada chefe, derrotado, deixa uma golden apple para trás, isso pareceria êmulo ou baseado em Zelda? Ná, impressão sua!… Uma das poucas side quests dessa aventura um tanto linear se chama training school, onde seu personagem ganha recompensas e o jogador pode se aperfeiçoar em fundamentos básicos encarando desafios variados a fim de atingir uma das posições do pódio entre os competidores e receber um prêmio à altura (bronze, prata ou ouro).

São 4 as cidades de CC, só uma delas abastecida com um comércio, e na verdade o comércio fecha assim que vende seu ÚNICO produto. Então, não há por que se dar muito ao trabalho de coletar malins (a moeda corrente) pelo mato, já que o uso é escasso (qualquer semelhança com a forma como Link destrói arbustos com sua lâmina atrás de rúpias é só mais uma coincidência inocente). Mas então não há a variante compra-e-venda neste A-RPG? Ela existe sim, mas o conceito é um pouco mais contingente, nômade. Há NPCs espalhados pelo mapa-múndi, e eles sempre trocam de lugar após uma compra realizada. Acaba que não se torna necessário perambular atrás deles: onde quer que se esteja, a probabilidade de topar com um “mercadeiro” é considerável. Há mesmo a possibilidade de aluguéis de mercenários, e não falo dos animais, que são aquisições fixas, mas eles não dão o ar da graça no seu time por muitos minutos. Dotados de funções muito específicas, eles abandonam seu time humano-feral assim que conseguirem realizar o que nenhum mascote faria no lugar.

LOCALIZAÇÃO PARA O OCIDENTE & NÍVEL DE DIFICULDADE
A tradução é capenga em alguns trechos (O Elefante diz: “Ora, ora, faz tempo que não nos vemos, hein?! Como você está?!” As respostas possíveis são: “Sim” e “Não”. Eu estou não! Há diferenças sutis mesmo entre as versões americana e européia, afora personalizações de idioma (nesta matéria você verá fotos em que os menus estão em Espanhol, Alemão, Francês…). Algumas dessas mudanças parecem mais invencionices sem-sentido do que adaptações culturais. Exemplo: o Paraíso da versão britânica se torna o Lugar da Paz na de inglês ianque. Trata-se da discricionariedade que foi concedida à Atlus para a adaptação.

–Segunda notificação de spoiler [pule até o texto em branco se não quiser ler]–: na dungeon do céu, um animal específico é requerido para abrir uma passagem; este animal segue incógnito a não ser que se proceda por tentativa-e-erro ou se percorra alguns dos espaços do chão (do céu), durante uma queda do personagem, a fim de revelar letras invisíveis. Pois bem, essas letras são MAC na versão norte-amricana (o nome do seu cão); e DOG na versão européia, sabe-se lá o porquê; talvez porque DOG ao contrário seja GOD e além de tentarem dificultar um pouco o enigma para os desapercebidos ainda colocaram uma pitadinha de humor simbólico! A Atlus visivelmente escolheu um friendly-approach, focando o jogo nos baixinhos, jogadores (idealmente) menos serelepes.
–Fim do spoiler–

CONCLUSÃO
Embora seja o parecer hegemônico da crítica, eu não situo Crusader of Centy como um clássico do console. Ele deixa a desejar em aspectos demais para ser considerado um cartucho obrigatório até mesmo entre os amantes do (sub-)gênero. Considero-o mais um Zelda Lite Version que “o Zelda de Mega Drive”. Outros clones foram mais bem-sucedidos na tarefa, como Alundra (1, PS), Beyond Good and Evil (uma espécie de crossover entre Zelda e Metal Gear Solid da geração PS2) e Sword of Mana (Game Boy Advance), para não citar os melhores A-RPGs do Mega Drive.

Na parte de trás da caixa os desenvolvedores prometem uma experiência de pelo menos 80 horas de jogo. Mas, sendo o mais generoso possível, esse tempo deve ser cortado em no mínimo 75% para salvar a veracidade da informação. É uma aventura de tiro curto, independentemente do ritmo do jogador em questão. Exemplo: familiarizados com o estilo podem derrotar o último chefe em meros 3 minutos, à primeira tentativa. E, como o jogo é curto, quem adora chefes de fase se sentirá um pouco decepcionado pela sua pequena quantidade.

Lista de agradecimentos pela cessão de informações e imagens
SHINFORCE.COM:
Geoffrey Duke
RPGFAN:
Dancin’ Homer
GAMINGSINCE198X.FR:
kwyxz
GAMEFAQS
Joe the Destroyer
VelnR
BigCj34
SinReVi
TeraPatrick2008
The_Mighty_KELP
jh51681
MOBYGAMES:
GTramp
versão 2 – 2018; 2025.
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