Super NES

Ogre Battle:
The March of The Black Queen
Densetsu no Ogre Battle: The March of the Black Queen (JP)
F I C H A T É C N I C A
Developer Quest
Publishers Quest (JP), Enix (EUA), Square Enix (VC), Nintendo (EUR)
Estilos Role Playing Game / Estratégia > Tempo real > Fantasia/medieval
DATAS DE LANÇAMENTO:
SNES
12/03/93 (JP), 05/95 (EUA), 01/06/98 (JP, Nintendo Power edition)
Virtual Console
Japão – 11/11/08, 20/11/13, 23/08/17
América do Norte – 02/03/09
Europa – 03/07/09
NOTA
8.3
Este jogo é pra…
(X) passar longe ( ) dar uma jogadinha de leve ( ) dar uma boa jogada (X) jogar freneticamente ( ) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Só os hardcore fans. (X) incógnita
Hermético: essa é a definição mais precisa de Ogre Battle:MBQ. Quase todo jogo de estratégia tem esse dom de ser exclusivo para seu público-padrão. Mas Ogre chega à hipérbole do exclusivismo: é como uma partida (ou um torneio inteiro!) de xadrez elevada ao quadrado em queima de pestanas e tempo de duração. O fato de não ocorrer em turnos, mas em tempo real, só torna esse “xadrez” mais letal do que de costume: erros do jogador – em que pese inteligente – no que concerne à atenção para pequeníssimos detalhes, que em jogos como Bahamut Lagoon não custariam necessariamente a vida de suas tropas, e à falta de agilidade para executar comandos complexos em zilhões de menus, podem soterrar de vez suas chances. Às vezes a sensação é a de que acontece muita coisa em muitos locais diferentes simultaneamente, mais do que uma consciência humana poderia acompanhar. Desorientação e náusea que são normais, mas que com o tempo o estrategista aprende a dominar. Leia bem: o estrategista. Jogadores muito casuais devem fugir de OB com todas as suas forças.


A estória é basicamente liderar as forças rebeldes na reconquista de Zeteginia (o nome de um continente), que passou para mãos tiranas nos últimos tempos (e mãos tiranas femininas, diga-se de passagem). Não há um caminho linear para a realização do principal objetivo, como de praxe no estilo. Isso funciona como catalisador ou desencorajador, dependendo da personalidade do jogador! Começa-se longe da sede do império inimigo, em Zenobia. Ter-se-á o tempo adequado para organizar seu exército em várias unidades ou batalhões e planejar o progresso rumo ao denso interior do continente. Nenhuma dica muito explícita será fornecida ao jogador sobre qual é a ordem em que ele deve reconquistar as cidades, quais castelos deve sitiar e quais fortes deve demolir. O encargo do jogador (diremos isso de diferentes maneiras ao longo do review) é gigantesco. Batalhas são circunstâncias especiais e, embora ocupem, em realidade, a maior parte da ação do cartucho, funcionam de forma atípica. O mapa não é estreito: longe disso, não raro é uma área aberta. Seus inúmeros peões (continuando a analogia do jogo de xadrez) serão a linha de frente nas batalhas sangrentas. As táticas defensivas e ofensivas devem ser bem-balanceadas, pelo menos uma vez que o jogador já tenha ocupado algumas cidadelas, o que significa que haverá o que defender. É muito frustrante dirigir todos os seus esforços para retomar um setor inimigo e descobrir que nesse meio-tempo sua campanha anterior foi jogada no lixo porque outros de seus postos se encontravam desguarnecidos. Talvez nem um inseto com mil olhos e dezenas de patas tivesse a coordenação necessária para atuar de modo perfeito em Ogre Battle! A CPU – o adversário – tem de se desdobrar nas mesmas obrigações, mas não só nunca fica cansada e nunca sente fome (ao contrário de você!) como já começa com 100% do mapa sob seu poder. De fato, você comanda as tropas rebeldes e tem de começar do zero, nisso consistindo o pesadelo da sua missão. E como não se controla diretamente os soldados, fica a impressão de que o jogador se limita a torcer de braços cruzados, exceto na pré-definição tática do combate e ao manipular as cartas de tarô que podem mudar aleatoriamente algumas facetas da luta (cuidado para não desistir do combate acidentalmente ao invés de empregar uma carta – isso costuma acontecer quando o RPGista fica com zero delas!). Mas não subestime a genialidade de um strategy: trabalho em equipe, o terreno e as estatísticas dos times em contraste é que definem, no fundo, o resultado, favorável ou não.


No fim do dia, a população civil é o maior indicador de quão bem você foi. Sua reputação diante dela depende não só de se a vitória foi alcançada mas de como ela o foi. O caixa, essencial em qualquer exército, aumenta com sucessos militares, o que possibilita continuar aperfeiçoando ou simplesmente fazer a manutenção das suas forças. Recrutar mais soldados e promover os antigos é outra operação-padrão do bom general.



As batalhas são muito bem animadas. Os spells e ataques são a principal atração nos gráficos (veja as fotografias antes de desconfiar de que minto!). Mesmo os menos preocupados com esse tipo de adorno e os mais apressadinhos podem desligar as animações, o que é uma grande vantagem nem sempre disponível em títulos da concorrência. Nem tudo é uma maravilha, principalmente na visualização genérica do mapa, em que suas tropas são resumidas a ícones monocromáticos que representam os batalhões. Mas se não fosse adotada essa simplificação e metodologia talvez a mecânica ficasse confusa, a despeito da narrativa ficar mais bela. Nos combates (cada tropa conta com 5 guerreiros), a visão é isométrica e o jogador está sempre alinhado à direita. O close é suficiente para prestigiar uma boa quantidade de detalhes que fazem a diferença. Os oponentes podem ser humanóides ou criaturas fantásticas. O dia e a noite correm em Ogre Battle e mudam as estratégias e a estética das batalhas. Há efeitos como neblina e tempestades de areia. Os quadros de animação no deslocamento das tropas não são tão espetaculares quanto o restante. Mas lembre-se: não estamos no PlayStation, e como a trama é colossal não caberiam tantos implementos num mero cartucho. Outro contra é que a variedade de telas é mínima. Basicamente, visões aéreas do mapa, caixas de diálogo e o mesmo layout para as lutas. Games de estratégia, por mais que tentassem inovar, não conseguiriam evadir esse roteiro sem sofrer sérias penalizações conceituais.


Coloque “MUSIC/ON” como seu nome para ativar o music test, uma das ferramentas mais interessantes do jogo no intervalo entre batalhas muito cansativas e onerosas. A propósito, dá para ser o DJ dos próprios combates – como eles são muito longos, uma trilha sonora agradável pode ser a diferença entre o protagonista de um “D-day” americano e o completo fracasso nazista, para exemplificarmos com um pouco de História. O baixo (instrumento) é o ponto alto das faixas disponíveis. Os soldados soltam grunhidos peculiares para cada raça, ao passo que flechas e bolas de fogo, entre outros golpes, também estão sonorizados. Um cego poderia dizer o que está acontecendo e quem está levando vantagem. É possível desligar efeitos sonoros ou música (cada um de forma independente). Mais customização do que isso, sinceramente, é impossível!


O jogo funciona por point-and-click para quase tudo. Se o jogador contar com o mouse de SNES, melhor ainda (alguém aí tem Mario Paint?). Você mexe nas opções micro em que tem que mexer (essa função de “coach” dos pequenos detalhes desempenha, aliás, o papel-chave em OB) por point-and-click. Manda indivíduos para defender cidades por point-and-click. Dá orientações numa batalha, também, pelo apontar-e-clicar. O problema mesmo é ser bem rápido no gatilho. Há opções de velocidade. Se achar que a transição dia-noite está demorando, encurte-a. Ou faça o contrário, se quiser. Assim, as tropas também demorarão mais para chegar aos locais apontados no mapa. Mas lembre-se que isso serve tanto para os inimigos como para si mesmo, o que é uma espada de dois gumes. Há também o controle da duração média das batalhas, e que funciona de forma independente do controle do tempo de rotação da Terra, ou seja, do relógio interno acima comentado. A complexidade em Ogre Battle é de impressionar.


Todos os soldados têm números individuais para medir suas habilidades. Claro que não haveria como emprestar personalidade e background suficientes a cada um da tropa, mas até que há muitos elementos que não são simples serragem de canhão, considerando as limitações. As estatísticas mais importantes são Carisma e Alinhamento (talvez num grau injusto). Qualquer um que já jogou Dungeons & Dragons ou Might & Magic saberá do que se trata. Os personagens terão margem para aprender a liderar, obedecer e se tornar bons ou maus. Isso obviamente afeta na maneira como interagirão com cidades, inimigos, a passagem entre dia e noite e noite e dia e mesmo com os colegas da própria companhia (aliás, principalmente nesse aspecto, pois é com eles que passam mais tempo – mas alguns jogos simplesmente subestimam esse fator!). Você não esperaria que um Vampiro pudesse se dar bem com um Anjo, certo? Mesmo que sejam individualmente poderosos, juntar os dois nunca seria boa idéia, ao contrário de quem põe vampiros com seres malignos e anjos com holy knights, mesmo que alguns deles sejam medíocres: só assim eles poderão exercitar todo seu potencial.


Indesejavelmente difícil: essa é outra forma de caracterizar Ogre Battle, não muito diferente do “hermético” empregado no começo. Talvez o jogo mais indesejavelmente difícil de todo o console ou que você já viu! Até se você for bom de reflexo e não encontrar dificuldades em gerenciar muitos acontecimentos simultâneos durante as lutas, isso ainda não é o suficiente: aprender a tornar seus esquadrões eficientes e poderosos fora da arena é igualmente decisivo. Um file de jogo pode ficar frustrante e praticamente exigir que o jogador recomece e jogue de outra forma se a longo prazo tomar muitas decisões que comprometam os stats dos soldados e tornem os inimigos muito superiores. Acho que devemos até agradecer os produtores por terem tornado os dois primeiros estágios meros “tutoriais”; assim muita gente chega a testemunhar como é o terceiro estágio! Ogre Battle não é para meninos…


Se ainda estiver em dúvida sobre a possibilidade de jogar OB ou não, um ponto que conta a favor é que utilizá-lo pedagogicamente deve ser muito melhor que comprar aqueles livros manjados de banca de jornal de sábios do Oriente – A Arte da Guerra e por aí vai. The March of The Black Queen é uma saga que serve muito mais como instrumento para diagnosticar a eficácia das estratégias “x” ou “y” num cenário de guerra que para entreter, com o bônus de não machucar ninguém. É excelente para detectar suas próprias forças e fraquezas, bem como as da entidade chamada “inteligência artificial”! Outro fato a se observar é que as horas voarão. Os diálogos até que fogem da previsibilidade do gênero e estimulam o interesse, embora haja glitches em algumas linhas (o que sempre acontece nos jogos que dispõem de muitos menus, pelo menos é o que eu tenho reparado…). Há catorze finais diferentes a se obter. Lembrando que finalizá-lo uma vez já seria digno de troféu. Há quase 30 estágios. E deixe-me dizê-lo que uma batalha ou estágio não acaba em uma hora, sequer duas ou três horas. Leva, literalmente, um dia inteiro, daqueles em que você assume o controle depois do café da manhã, só pára para comer (ou nem isso) e finaliza, se jogou direitinho (e olhe lá!), apenas na hora de dormir. O que você esperava de um simulador à altura de uma campanha bélica? Lembre-se: cada dia desses é a luta para reaver uma cidadela. E o PAÍS inteiro encontra-se tomado. Guerras podem durar anos, esteja avisado, caro postulante a sobrevivente! Falando de forma um pouco mais literal, não espere finalizar Ogre Battle antes das 100 horas, mas conte com a possibilidade de ultrapassar as 300! Contando que são mais de uma dezena de finais, esse número pode facilmente passar de 2 mil horas se este for seu gênero de jogo favorito!…
OBS: O jogo foi portado para PlayStation (1996, 1997 no Ocidente) e Saturn (1996, apenas Japão), mas este review cobre apenas a versão de Super NES.
OBS 2: Tactics Ogre: Let Us Cling Together é a continuação de Ogre Battle, e também apareceu no Super Famicom em 1995, mas nunca seria localizado. Sua reputação é melhor que a de Ogre Battle na comunidade gamer.


Agradecimentos a Zachary Lewis do RPGamer, HKazuya e Malcedon do GameFAQs.
Por Rafael de Araújo Aguiar
versão 2 – escrito em 2012, atualizado em 2023.
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