review 0ldbutg8ld #1150
obs: nós não seguimos o acordo ortográfico lusitano de 2009!
Por Rafael “Cila” Aguiar
PlayStation2

Shadow Hearts
| F I C H A T É C N I C A |
| Developer(s) Sacnoth |
| Publisher(s) Midway, Aruze Corp. (JP) |
| Estilo(s) Role Playing Game > Turnos |
| DATA(S) E REGIÃO(ÕES) DE LANÇAMENTO |
| 28/06/01 (JP), 11/12/01 (EUA), 29/03/02 (EUR), 06/11/03 (JP, PlayStation2 the Best) |
Também incluso na(s) compilação(ões):
| N.A. |
Quem jogar este também poderá gostar de:
(Em vermelho, os jogos que já revisamos – se não estiver linkado, ainda não foi “upado” no novo blog.)
Baten Kaitos: Eternal Wings and the Lost Ocean (GC)
Dive Alert (NGPC)
Koudelka (PS)
Legend of Dragoon (PS)
Tales of Legendia (PS2)
| NOTA(S) |
(Cada escore é uma média dos principais portais de games na web e revistas antigas quando for o caso, e também engloba a opinião dos gamers visitantes, além da crítica especializada; não necessariamente reflete meu ponto de vista sobre o jogo.)
7.6
| ESTE JOGO É PRA… | |
| ( ) passar longe | (X) dar uma jogadinha de leve |
| (X) dar uma boa jogada | ( ) jogar freneticamente |
| ( ) chamar a rua toda pra jogar | ( ) uma incógnita |
| (X) tipos específicos de jogador. Quais? | |
- Fãs de Koudelka e Legend of Dragoon (ambos de PS1).
| FAIXA DE VIDA ÚTIL ESTIMADA | Cerca de 44h. |

Shadow Hearts é um jogo esquisito. Consegue ser uma mistura do bisonho, do misterioso e do esotérico que pode haver em J-RPGs. Tome como exemplo a ambientação da vila canibal já durante a primeira hora de jogo: todos que chegam ao local na mesma noite parecem assustados, menos os dois heróis da trama, Yuri e Alice. Há sangue em tudo à volta, as crianças que abriram o portão da cidade não são nada senão crípticas, parecendo falar em enigmas, e não obstante Yuri continua casual e com muita vontade de dormir o sono dos bons na casa da anciã do vilarejo. Essa sucessão de cenas pitorescas é que dá o tom de uma viagem excêntrica primeiro pela Ásia, segundo pela Europa, no ano de 1913, às vésperas da Primeira Guerra, lugares e tempo que podem resumir Shadow Hearts. Essa versão do mundo, entretanto, conta com a interferência do sobrenatural e de demônios.

O jogo é feio, sendo um dos títulos de PS2 com gráficos mais primitivos. O estilo cheio de backgrounds pré-renderizados nos deixa cientes de que por muito tempo SH era planejado para lançamento no próprio PS1. Apenas as cutscenes elevam o valor da apresentação. Mas não é disso que se trata: a atmosfera existe, e como existe. Eis o que realmente importa. Sobre a música, falaremos mais dela numa das legendas dessa matéria, mas podemos citar as faixas para batalhas no continente asiático e a do status berserk como as mais insuportáveis, e que se repetem muito.

Apesar de ser um RPG em turnos, dá para ver instantaneamente que a equipe desenvolvedora prezou por realizar algo diferente da média. SH estrela o que se chama de Judgement Ring System. Assim que pressiona attack no seu menu de batalha, abre-se um círculo ou anel na tela. Uma agulha ou ponteiro verde começa a rodar em 360 graus a partir do topo, exatamente como num relógio, em velocidade mais ou menos alta. Espalhadas pelo mesmo anel estão três zonas menores sublinhadas em cor diferente, ocupando de 5 a 25% da área total do círculo. Você tem de pressionar X quando o ponteiro estiver sobre a cor destacada, diferente, todas as vezes, se quiser ter o melhor turno de ataque possível. No comecinho pode parecer complicado, mas em 10 minutos o conceito estará completamente absorvido pelo player. O ataque poderá ter um sucesso crítico, um sucesso comum ou falhar. Mas não só em ataques comuns: ao convocar magia, será necessário recorrer ao mesmo procedimento, a maior diferença sendo na quantidade de zonas de cor diferente, normalmente 2 dessa vez. Nada de button-mashing tentando se salvar: o jogador terá de estar atento no decorrer de suas sessões de jogo. Qualquer vacilo ou desconcentração mínimos e o turno dará errado. Inimigos podem lançar spells que alteram as propriedades de seu ring: as áreas sublinhadas ficam com metade do tamanho; o ponteiro acelera; as velocidades se tornam irregulares e caóticas; ou o pior efeito de todos, tornar as zonas invisíveis. É bom que você tenha aprendido a distinguir as zonas, relativamente fixas, de cada personagem em cada operação, quando essa hora chegar, e que se adapte rapidamente a mudanças de ritmo ou de necessidade de precisão.

Este é um RPG surpreendentemente fácil e linear comparado a outros, sem falar que em 30 horas pode ser completado, ainda que se tenha optado por realizar side quests
Citemos os power-ups possíveis em SH. Uma espécie de massoterapeuta ou acupunturista pode aumentar sua eficácia com armas (?) ou aumentar as áreas sublinhadas/eficazes do seu judgement ring. Yuri pode (deve!) ir ao graveyard (um reino espiritual, dentro de sua cabeça) a cada poucas horas, talvez minutos, não só para derrotar espíritos com quem poderá se fundir no futuro, mas para baixar seus níveis de malice (mais no parágrafo abaixo). Yuri é um personagem jogável diferente de todos os restantes por poder mesclar seu espírito com o de inúmeras criaturas diabólicas, talento chamado de Harmonixer no mundo do jogo. Cada besta adquirida tem um elemento e ataques especiais diferentes. É uma delícia colecionar os mais díspares e usar a estratégia ideal contra os chefes. A comparação mais próxima seria com Breath of Fire, em que Ryu se funde com gemas e adquire o poder de ser diferentes dragões. Ao contrário de BoF, Yuri não encontra problemas em manter a fusão durante toda a batalha, enquanto tiver SP (Sanity Points). Ao chegar a zero pontos de sanidade todo personagem entra no modo berserk (furioso) e começa a agir por conta própria, desperdiçando itens e atacando aleatoriamente, sejam os adversários, sejam os próprios colegas. Significa que o player deverá se preocupar não só com a quantia de HP (hit points), mas com MP e SP, o que repercute em aprender a fazer microgestões a cada batalha um pouco mais longeva ou complicada.

A trilha sonora foi composta pelo mesmo responsável por Secret of Mana (Seiken Densetsu 2), Chrono Trigger, Chrono Cross, Xenogears e Xenosaga: Yasunori Mitsuda, a lenda. Não surpreende que seja boa, apesar da crítica tecida anteriormente na resenha. Ademais, o estilo das composições muda demais a partir da metade do jogo, quando os personagens migram do Oriente ao Ocidente, respeitando uma temática.
Sobre o medidor de malícia, caso se recuse a temperar seu nível de malícia, um inimigo muito poderoso com máscara de raposa ficará aparecendo em meio aos outros combates aleatórios, enchendo o saco. O medidor aparece na tela de pause e vai de azul a vermelho, passando pelos graus intermediários verde e amarelo. Essa adição é polêmica, já que quanto mais mata monstros, mais sua malícia cresce. Faria mais sentido punir o jogador que usa muito a ferramenta escape, por exemplo; porém, admito que o enredo justifica melhor a intensificação da malícia com o consumo de almas malignas… Muito inconveniente é que nas maiores dungeons os save points são esparsos e o medidor de malícia pode avermelhar muito rápido. Imagine minha decepção e surpresa quando entrei numa batalha com o Foxface a poucos passos de um checkpoint. Mas por que é tão importante chegar logo a um save point, tirando a oportunidade de logo salvar seu progresso, que é óbvia? É a única maneira, dentro de uma dungeon pelo menos, de entrar no graveyard, o cemitério na cabeça de Yuri. Uma vez dentro dele, o rapaz enfrentará um inimigo aleatório convocado pelas enigmáticas “quatro máscaras” a fim de baixar seu nível de malícia novamente até a cor azul, pois, como já dito, com a malícia no vermelho há boas chances de cruzar com o Foxface e ser obliterado!

Assim como SH é bastante linear, suas side stories são imensamente obtusas e obscuras, quase inencontráveis sem a ajuda de um guia. SH fornece múltiplos finais e, se a obtenção do melhor final via métodos quase impossíveis de descobrir sozinho o preocupa, melhor é zerar o jogo sempre acompanhado por um FAQ. Muitas das quests necessárias têm uma pequena janela na qual estão ativas, e perceber o que se tem de fazer para nelas embarcar é um autêntico pesadelo. Os pontos mais complicados de enxergar são uma dungeon optativa na primeira metade da aventura e vários itens-chave para adentrar nas dungeons facultativas da segunda metade.

Esse sentimento de estar meio perdido se estende aos tickets da loteria, artefatos muito bem-escondidos. Na verdade, mais árduo ainda do que encontrar os ditos bilhetes é chegar a todos os membros da lotérica, que permitem, afinal, o jogo. O sentido e o prazer em jogar na loteria em SH, todavia, será posto em dúvida uma vez que se dê conta de que os itens/prêmios a que se concorre não têm seu propósito revelado até a aquisição, apenas seus nomes. Caso não tenha se deparado com os mesmos itens na campanha principal, será difícil decidir se quer ou não determinado item. Novamente Breath of Fire 1 vêm à mente, já que a forma como os itens são batizados ali transmite o mesmo tipo de confusão e insegurança.

É possível barganhar nas item shops para pagar 10% a menos por uma mercadoria, mas se falhar no teste do anel você terá de pagar 5% a mais!
Shadow Hearts é um J-RPG decente que tinha um enorme potencial para ser um grande clássico. Certo é que me cativou o suficiente para que procurasse saber se suas seqüências – duas no PlayStation2 – aperfeiçoaram a fórmula. Imagino que tenha sido uma hidden gem do ano de 2001, e que é ainda hoje um objeto de cult-following, mas o fato é que o tempo não foi muito clemente com SH, que se torna, em 2025, mais uma questão de gosto adquirido, tão excêntrico e démodé que é. Além do mais, SH não alcançou boas vendas em seu próprio tempo, muito provavelmente devido ao lançamento de Final Fantasy X meros 5 dias depois, o que sem dúvida ajudou a ofuscá-lo! E contaria ainda mais em seu desfavor o fato de ser uma continuação discreta de outro Role Playing Game superdiscreto da biblioteca do PlayStation1, Koudelka (em relação ao qual pode-se dizer que Shadow Hearts é tanto uma incrível involução – na parte das cenas dubladas – quanto uma extraordinária evolução – no tocante aos combates).

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Lista de agradecimentos pela cessão de imagens e informações:
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