PlayStation

Final Fantasy Anthology: European Edition
(Coletânea dos jogos Final Fantasy IV / Final Fantasy V)
F I C H A T É C N I C A
Developer SquareSoft
Publishers Electronic Arts / Sony Australia
Estilo: Role Playing Game
Datas de Lançamento: 27/02/02 (EUR/OCE)
NOTA
8.1
Este jogo é pra…
(X) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente ( ) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Pelo interesse histórico; amantes da dificuldade; completistas (quem começou por algum FF mais novo e adquire prazer, a partir daí, em comprar todos os FF já lançados à disposição); masoquistas homeopáticos. (X) incógnita
Oseguinte depoimento é de darthjulian, europeu do GameFAQs que viveu na pele o “descaso com seu continente” (seria uma vingança da História recolonizadora dos antigos senhores do mundo?): “Naqueles tempos dourados dos 16 bits, a pior coisa que poderia acontecer era ser um fã de Role Playing Games japoneses e residir na Europa ao mesmo tempo. Por razões conhecidas apenas pela Nintendo e algumas major publishers que para ela trabalhavam, nos foram negadas praticamente todas as gemas do período do Super Nintendo, inclusive Tales of Phantasia, Star Ocean, Final Fantasy VI, Chrono Trigger e até Super Mario RPG. Enquanto que as razões do cancelamento da última citada se ligam ao avanço das discrepâncias sem volta entre Nintendo e SquareSoft (para sermos justos, a Nintendo planejava, sim, lançar Super Mario RPG no mercado europeu, mas isso porque a marca Mario já tem aval suficiente em qualquer porção do globo, como platformer, RPG ou qualquer outro estilo), para o resto não encontramos uma explicação mais direta ou satisfatória sequer. No fim das contas, não é pouco óbvio que os desenvolvedores julgassem o público da Europa superficial demais para recepcionar obras de RPG, e portanto nosso mercado era de risco. Causou furor a decisão da Square de estender ao seu braço europeu os relançamentos de Final Fantasy clássicos, mesmo que depois de cópias e mais cópias desses jogos já terem inundado os continentes asiático e americano, no fim do ciclo de vida do PlayStation1. Por que essa decisão tão repentina de trazer Final Fantasy IV, Final Fantasy V e Final Fantasy VI a uma terra de ‘gente burra que não compreende a essência dos RolePlays’? Uma mudança radical de postura, uma reestruturação analítica da situação? Provavelmente não. Temo que esse pacote de lançamentos fosse apenas parte da estratégia de marketing da empresa para divulgar melhor seus verdadeiros carros-chefes, Final Fantasy IX, principalmente, para detentores de PS1, e também Final Fantasy X, para os donos ou futuros donos, àquela altura, da nova majestade o PlayStation2. Aí então, quando falamos de games gigantes como esses, pouco importa se formos europeus ou não: isca tão chique e balouçante, qualquer bagre morde – ah, os milagres da Rainha Publicidade!… Final Fantasy VI veio sozinho e de forma mais precoce, a incluir uma demo jogável de Final Fantasy X (e não do IX, por incrível que pareça!), só para vocês verem que não estou falando nenhum impropério quando insinuo que não era pura e desinteressada bondade da Square para com os europeus, mas só uma forma de promover o novo através da evocação do velho! Depois foi a vez de FF4&5, numa coletânea análoga à americana Anthology (por isso o subtítulo diferenciador, até porque os jogos compilados nos Estados Unidos foram FF5&6, o que poderia gerar confusão na hora da compra).” Mesmo sabendo que os motivos para a existência do jogo-coletânea são pouco nobres, não custa analisar o produto pelo seu conteúdo, certo? Final Fantasy V já foi resenhado no review do Anthology americano e passou no teste; e quanto ao quarto episódio?
Final Fantasy IV é provavelmente o RPG 2D bitmap mais típico que se pode encontrar. Aspectos basilares dos RolePlays atuais, como as famosas Active Time Battles, nasceram justamente aqui. E, como não poderia deixar de ser quando se fala em old school gaming, FF4 é difícil. Radicalmente difícil. Chega a ser, aliás, desesperante! O título que os supernintendistas norte-americanos conhecem – que migrou para os States com a esdrúxula denominação Final Fantasy II, mesmo sendo o FF4 de sempre, nada a ver com o FF2 japonês (NES) – possuía uma peculiaridade: era muito mais fácil, a gosto dos “newbie RPG gamers” da região (essa Square gosta de subestimar os forasteiros!). Mas essa moleza acabou nesse remake oportunista da Square! Dá pra ver logo cedo que se trata do material original. Seus personagens começam do level 1, o que seria natural em qualquer RPG distinto, mas que no Final Fantasy II americano de SNES foi adulterado (os bonecos já davam a largada com muito mais experiência, para que o progresso fosse menos traumático). Isso quer dizer que agora são requeridas horas e horas de combates e exploração antes de se sentir corajoso o bastante a fim de explorar o world map, apinhado de inimigos cabeludos e apelões, no formato tradicional das random battles. Outro duro golpe na auto-estima dos RPGistas é que no meio da trama, dada uma estranha reviravolta, seus personagens VOLTAM ao lv. 1 depois de muito terem dele se afastado! É como um trabalho de Sísifo recolocar seus guerreiros nos eixos… Desnecessário dizer que na versão ianque 16-bit deram uma colher de chá a mais e também removeram essa parte! Para resumir a ópera, Final Fantasy IV, de nome certo e sem cortes mesmo, era inédito no Ocidente até a Square resolver maquiavelicamente brindar os europeus com esta coletânea dos deuses, em 2002! Lembremo-nos também que outro país-continente felizardo foi a Austrália/Oceania, mas lá o CD não tem a parte “European Edition” no nome, o que torna doloroso distinguir as coletâneas do Novo e Velho Mundos, para o parente-de-marsupial que lograr o acesso!
Ademais, grupos de 5 lutadores simultâneos na equipe garantem customizações raras de se encontrar em qualquer outro capítulo da série FF, e é importante lembrar que além das barras de ATB outra engine inédita é a das summons de criaturas, operação destrutiva que arranca muito HP da CPU em momentos críticos, e que ganharia continuidade por muitos e muitos Final Fantasy a fio, graças ao apelo entre os fãs!
Uma falha crítica do game: equipar novas armas e armaduras é o ápice da frustração, uma vez que não existe nenhum mostrador numérico que represente seu ganho ou perda ao trocar seu objeto atual pelo novo, do shop. A rigor, significa que não é possível dizer se uma mercadoria vai deixá-lo mais forte ou mais fraco antes de desembolsar a grana e tê-la no inventário, afora o tempo desperdiçado equipando e desequipando as coisas nas longas listas do menu, sem contar também que no meio desse pandemônio todo ocorrerão necessariamente várias mortes oriundas dos temerosos testes, quando eles falharem (a armadura for constatada como fraca demais, numa luta)!

Os mesmos problemas de slowdown e loadings excessivos do Anthology gringo infectam a contraparte européia, bem como as CGs de FF4 são de pouco agrado dos fãs, pois parecem ter sido feitas com pressa. Mas isso era previsível, já que este era só um cash-cow release (lançamento para fazer dinheiro e engordar as vacas, digo, os cofres da SquareSoft), lembra-se?
Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo não-praticante e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
Lista de agradecimentos
GameFAQs:
darthjulian
mlindstr
Inigo Pipkin
Xcarvenger
versão 2 – 2014; 2025.