PlayStation



Final Fantasy Origins
Final Fantasy I+II Premium Package (Japão)
F I C H A T É C N I C A
Developer TOSE
Publishers SquareSoft / Infogrames / Square Enix
Estilo Role Playing Game > Clássico!
Datas de Lançamento 31/10/02 (JP); 14/03/03 (EUR); 08/04/03 (EUA); 2004 (EUA-Greatest Hits); 10/01/12 (EUA-PSOne Classics)
NOTA
8
Este jogo é pra…
( ) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve (X) dar uma boa jogada (X) jogar freneticamente ( ) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Pelo interesse histórico; amantes da dificuldade (atenuada, para quem quiser, por save states e mais slots destinados a itens no inventário, dentre inúmeros outros facilitadores). (X) incógnita
No fim da vida de um console, e quando já havia até Final Fantasy ainda mais modernos para outro aparelho – seu sucessor, o PlayStation2 –, a Squaresoft opta, finalmente, por revelar aos mais novatos a genealogia da dinastia, ocorrida no jurássico Nintendo Entertainment System, que veio a receber os três primeiros títulos da saga de RPG mais consolidada em todos os tempos. Origins, o conveniente título ocidental, por algum motivo deixa o caçula da trilogia 8 bits, o episódio III, de fora em prol de uma exploração dual remixada pelos dois primogênitos. Melhor ainda para o público anglófono, já que Final Fantasy II nunca havia sido localizado do japonês até então (para ser um pouco mais preciso, a tradução e o lançamento primeiro atingiram os lares dos entusiastas em 1999, quando a Square relançou FF2 em formato isolado para o PSOne, mas esse review vai facilitar ainda mais as coisas, oferecendo a análise dessa edição dobrada, de 2002)! Como que para compensar o fato de já ser um velho conhecido do público norte-americano, Final Fantasy I foi muito mais remodelado que seu sucessor, conforme veremos.

A fórmula era inusitada, se muito, apenas para a época, quando o único sério concorrente para Final Fantasy era Dragon Quest, dentre os cartuchos nintendistas. Você tem direito a levar até 4 guerreiros em seu time, escolhendo entre seis classes. Compra armas e spells para derrotar monstros que surgem em confrontos aleatórios pelo mapa de jogo. Uma premissa que seria reprisada ad eternum no mundo dos games até os dias de hoje, mas que não teria ficado tão banal não fosse o enorme sucesso de Final Fantasy I, um legítimo definidor de gênero.
Começaremos pelas três alterações de gameplay fundamentais que mais sobressaem nessa conversão de PlayStation (já que os leitores que quiserem conhecer o FF1 de NES podem muito bem ler nosso review dedicado, escrito já há vários anos): 1) maior celeridade nos combates, muito devido aos cortes de caixas de texto emitidas após o lançamento de magias coletivas no original e a abreviações na animação dos sprites (que, nem preciso dizer, era tosca, e nenhum quadro fará falta); 2) chefes (e o WarMech) mais resistentes (HP extra, o que previne lutas de 1 turno só mais para o final da trama); 3) diga adeus às spell lists dos monstros. No original, os inimigos sempre soltavam feitiços numa ordem predeterminada. Agora, digamos que seu repertório foi jogado no shuffle, deixando a jogatina menos previsível. (A propósito, o sistema é tão clássico que não há MP, mas sim uma cota “diária” de magias, à la Dungeons & Dragons de mesa.)

Há ainda alterações de menor monta em FF1, tais quais: a possibilidade de comprar 99 potions no shop sem perder muito tempo, como no NES; os prêmios melhorados para quem conseguir completar a side quest do slide puzzle; o acréscimo de uma tecla de RUN (ufa!); a ativação do uso de itens ressuscitadores no transcurso de batalhas; e mesmo a supressão da função “ineffective”, conseqüência chatinha de quando se atacava inimigos, na escolha de turno, que depois não estavam mais lá, porque tinham morrido num ataque anterior de um aliado seu (no lugar dessa redundância, o sistema redireciona seu ataque para o inimigo mais próximo, bem simples!). Ainda assim, o purista das antigas pode ignorar todos esses “implementos para o bem” e modernizações e jogar a versão 8-bit ipsis literis. Mesmo com todas as mutações e atualizações, é preciso ressaltar que ainda assim trata-se de um RPG de ritmo bem mais lento do que o dos RolePlays modernos, encontrados nos 16 e 32 bits em diante. Quem espera massacrar todo mundo nas dungeons e cumprir o roteiro numa viagem só, ficará muitíssimo decepcionado: FF exige muitas idas e vindas, e a freqüência de batalhas complicadas e a quantidade de pontos auferidos nas vitórias são tais que demora até que seu esquadrão se equipare ao nível da CPU ao adentrar um novo ambiente. Cada seqüência lógica cidade-dungeon, por conseguinte, demanda várias sessões de jogo/dias da vida real.

Final Fantasy II, ao contrário das expectativas, é um mundo à parte da fórmula unanimemente aprovada de FF1. Mas quem já jogou os Final Fantasy Legend de Game Boy estará de antemão um tanto familiarizado com a nova (velha) mecânica. Em vez de XP e levels, os personagens progridem em função de ações bastante específicas. Trocando em miúdos: para melhorar seu ataque, não lhe resta outra coisa senão atacar; para se tornar mais seguro na defesa, nada seria útil a não ser sofrer dano, e assim por diante! Mais vanguardista ainda: não há classes em FF2. É verdade que um ou outro personagem (que ao contrário de FF1 já nasce com uma biografia) possui predisposições e inclinações mais ou menos nítidas, mas o RPGista é relativamente livre para desenvolvê-los a sua maneira. A interação com NPCs é francamente peculiar, não bastasse o resto. Há um componente da gameplay denominado keyword que deve ser colecionado pelo jogador. Para obter keywords inéditas e aprender algo mais sobre o mundo de Final Fantasy 2 é necessário dar as respostas corretas em entrevistas com NPCs. Alguns vão lembrar de Shadowrun de Super Nintendo nessas horas. Que isso deixa as conversações mais profundas que no título original, é verdade; mas também se ganha em frustração, porque caso o gamer dê as respostas erradas terá de peregrinar meio-mundo a fim de consertar a situação. O maior problema encontrado em FF2, que já à época o tornou menos querido que FF1, foi, no entanto, a falta de equilíbrio na escala de poder dos adversários; muitas vezes você se achará numa porção do mapa em que qualquer monstro é ridiculamente fraco perto de seus guerreiros, mas noutras ocasiões o efeito será inverso, com um abismo no meio desses dois cenários.

Os sons (tentativas) de sussurro deveras irritantes que tocavam em todos os diálogos no Nintendinho foram adequadamente suprimidos. A reedição do tema do Temple of Fiends, no histórico confronto com Garland em FF1, é, na outra mão, uma faixa tão sublime que deixa qualquer orquestra de Final Fantasy XII no chinelo!
Creio que na geração 8-bit os bonequinhos minúsculos da tela apresentavam uma paleta de 3 cores. Na transposição, esse número foi sensivelmente aumentado e mesmo a resolução dos heróis ganhou e muito, perdendo em pixelização. Mérito para a companhia desenvolvedora, que poderia ter feito como em Final Fantasy Anthology, outra compilação de PS1, em que na prática temos uma cópia paga de um emulador; aqui, não: é uma vera atualização do(s) clássico(s)!

É impressionante o potencial do excelente e velhíssimo Final Fantasy I de ser rejogado à exaustão! Após zerar a saga uma vez, o controlador pode voltar a fazê-lo experimentando parties totalmente novas, o que realmente muda todo o modo de atuar. Ou que tal, virando um deus da apelação, tentar com menos de 4 membros? Quem sabe sem mudar de classe. Uma surpresinha destravada após o término da aventura é o Easy Mode, ideal para facultar formações ainda mais ousadas, como “só magos negros no bando”. Isso sim é que é ORIGINAL: ao invés dos New Game+ e Hard modes da concorrência contemporânea, a Squaresoft, desde “novinha”, nos 80, já ousava indo na contra-mão! Já o sistema de jogo de FF2 é mais fechado e tende a agradar menos, então rejogá-lo será raro. No fim das contas, o dado mais relevante – para um sem-número de fãs da série – presente em Final Fantasy 2 é que pela primeira vez um dos PCs aparece com o nome de Cid!
Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo não-praticante e um tanto apaixonado pela forma velha de se programar jogos
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