Game Boy Advance

International SuperStar Soccer
Jikkyou World Soccer Pocket (Japão)
F I C H A T É C N I C A
Developer Konami
Publisher Konami
Estilo Esporte > Futebol
Datas de Lançamento 23/11/01 (EUR), 13/12/01 (JP)
NOTA
6.5
Este jogo é pra…
( ) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve ( ) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente (X) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Adivinha… ( ) incógnita
Costumeiramente, tentativas de recriar o “mais belo dos esportes” nas pequeninas telas dos videogames portáteis chegam a dar vergonha, de tão patéticas. A falha abjeta da Codemasters em reconhecer como seria interessante um Sensible Soccer para Game Boy Advance deixou uma enorme brecha de mercado para uma companhia competente explorar. É aí que entra em campo o time da Konami, sempre favorito quando a partida é justa. O perigo era investir horrores numa adaptação de sua renomada franquia ISS/PES ao aparelho sendo que a virada do milênio vinha rendendo prejuízos e vendas apáticas às corporações do ramo esportivo, haja vista o fracasso retumbante da EA Sports com seus FIFA Soccer da época. E já vou avisando que quem esperava um remake de International SuperStar Soccer 64 ou 2000 vai achar que ficou muito mais parecido com International SuperStar Soccer Deluxe… o que pode nem ser tão ruim assim, convenhamos!

Numa rápida comparação com ISS Advance, de 2003, título praticamente igual, tanto que nem seria necessário um outro review dedicado, este ISS de 2001 fica em vantagem graças, por exemplo, à questão da licença da FIFPro (que cuida dos interesses dos atletas ao redor do mundo), pois a continuação não tem nenhum nome original/real. Algumas das soluções mais criativas (?!?) e engraçadas dos produtores, especialmente para o time da Inglaterra, nessa continuação: Syelma (Seaman?), Bohaen (Michael OWEN?), Dekkaan (Beckham?), Eescei (Heskey?!)… Seja como for, é falso que a versão de 2001, a que analiso aqui, está integralmente em sintonia com os nomes do mundo real. Muitas seleções continuam alvo de improvisações, as exceções pertencendo, majoritariamente, à Europa Ocidental: Inglaterra, França, Itália, Alemanha… Ainda assim, casos pontuais não puderam ser resolvidos pelo departamento jurídico e fictícios como F. Neville tiveram de participar do elenco veraz dos subordinados à Rainha Elizabeth, por exemplo.

Como é difícil achar foto pra esse joguinho!
Quanto a nós e aos hermanitos, ao nosso lado, o jeito é rir para não chorar de nomenclaturas como Batasta (Batistuta!), Faron (“La Brujita” Verón), Rivasko (Rivaldo!!!) e Ronaho (o Fenômeno). Poder-se-ia considerar essa quase-homonímia generalizada como uma evolução, mas para quem já havia se acostumado com o matador Allejo, Redonda e Beranco, é de cortar o coraçãozinho! Apesar de todos os selecionáveis de cada país, da época, estarem presentes (ou semi-presentes, como queira), o que incomoda os mais certinhos é que muitos deles estão dispostos em posições equivocadas em campo ou com numeração trocada. Ilustrando: o galã Beckham, veja só, veste a 6 e começa as partidas como volante centralizado ao invés de atuar pela direita e ofensivamente, vestindo a 7! E não há nenhum menu para consertar essas lambanças… Mas tudo bem: acontece nas melhores franquias!

Faltam modos – onde estão as World Series?
Os modos de jogo deixam a desejar. A variedade é bem enxuta: amistoso, a célebre International Cup, penalty shoot-out e versus entre 2 jogadores via cabo link. Não estão presentes modalidades tradicionais do universo ISS como Scenarios nem World League/Series. Uma excelente novidade é a narração + comentários de John Champion, surpreendente para um periférico de áudio teoricamente tímido. Aqui no Brasil esse nome seria zoadaço, já que João Campeão não me parece muito melhor que João Sorrisão, mas o que importa mesmo é que o cara é competente no microfone! Os infames Chris James e Terry Butcher, de edições passadas do jogo (em videogames domésticos) receberam um merecido pé na bunda.

40 seleções – tem Canadá e Peru e não tem Colômbia nem Paraguai… Mas o que é que dá na cabeça desses caras?!
Todo fã de SuperStar Soccer já deve saber que antes de cada partida é possível customizar uma série de elementos, tais quais formação (aqui os professores do tatiquês encontram seus 15min de fama), clima (sol ou chuva, embora não tenhamos detectado diferença tangível na jogabilidade), dificuldade (1 a 5), cor dos uniformes, ligar/desligar faltas/cartões amarelos/impedimentos/morte súbita e duração das partidas, entre outras minúcias. O número de equipes é de 40, uma amostra respeitável, ainda mais para quem jogou ISS no Super NES e tinha acesso a 24 ou 32 no máximo. Há ainda 5 seleções de All-Stars continentais e do mundo destraváveis por dicas. São 4 estádios, mas eles me soam muito similares, não fazendo a menor diferença na prática. Ficou faltando também uma nevezinha para os jogos invernais do hemisfério norte…
Quem só conhece a série dos anos poligonais de N64 e PS1/2 vai estranhar os controles. Apesar da falta de botões no GBA, o conceito não está comprometido. Além disso, já é o dobro do que no GBC! “A” é usado para passes; “B” para chutes ou cruzamentos; na parte superior do console, num plano vertical – ao passo que as teclas A, B, start e a tela de cristal estão num plano horizontal para quem está jogando com o console no colo –, “L” segurado faz correr e “R” alterna o jogador sob seu domínio, quando sem a posse da bola. As funções de roubar a bola não-violentamente e com carrinho estão trocadas – antigamente roubar a bola mais passivamente era com o mesmo botão do passe (só que sem a bola), enquanto entradas desleais (necessárias!) eram com a tecla de chute. Agora acontece o contrário. Combinações dos botões referidos possibilitam jogadas mais elaboradas como voleios, cabeceios, tabelinhas, balãozinho (sempre meio lambreta, no ISS), embaixadinhas e até o obrigatório passe em profundidade.

Ver um jogo entre duas CPUs – que tal? Pode esquentar a pipoca e… dormir.
Em que pese usar o L para correr tenha sido a pior idéia imaginável (uma vez que ele deve ser acionado com o indicador e não com o polegar), é melhor ter um botão para acelerar o passo do que não ter, que o digam os veteranos! Enfim: prepare-se para as inevitáveis cãibras que daí advirão. Outra nota infeliz fica por conta dos tiros livres: é extremamente difícil, senão impossível, converter um tento de bola parada nessa série… Algo surreal é a física implementada pela Konami: raramente um chute na direção do gol vai por cima do travessão, é bem verdade, mas por mais que num só tempo de jogo 20 bolas sejam disparadas de longe, o goleiro rival dará conta de todas elas, porque os goalkeepers são sempre sobre-humanos. A solução? Tem de ser efetuada uma aproximação para tentar driblá-lo ou aproveitar rebotes.
Os jogadores são suficientemente detalhados e repletos de quadros de animação. Comemoram personalizadamente seus gols, discutem com o (invisível!) juiz e depois dum carrinho rolam dramaticamente em agonia perpétua e ainda por cima resguardando a parte errada do corpo (à la Rivaldo contra a Turquia, hahaha!), não por defeito de programação, mas por manha inerente ao ofício de jogador mesmo. Os números nas costas dos atletas podem ser enxergados sem dificuldade, o que seria de apreciar ainda mais se um de nós fosse narrador, o que não parece ser o caso…

Essas escalações são idênticas às convocações médias dos técnicos inglês e alemão em 2001. O jogo se refere a um período pré-pentacampeonato do Brasil, portanto. Analisando a escalação à esquerda, me espanto por quão pouco a Inglaterra mudou esses anos todos! E, no time da direita: ainda bem que o farsante Ballack já sumiu dos holofotes!
Seguindo a tradição mesmo dos ISS mais arcaicos, alguns jogadores se distinguem bastante dos demais logo à primeira vista pelo corte de cabelo, por exemplo o de Francesco Totti. Meu deus, como o Totti é velho – neste momento em que escrevo, mais de década depois, ele ainda está na ativa, e em alto nível! Bizarrices, contudo, sempre roubam a cena em ISS, e a da vez é que Chrissie Powell, da Inglaterra, negro, no jogo tem a pela branca! Apesar dos detalhes em profusão e dos bons gráficos, teria sido preferível uma tomada de câmera com menos zoom, para se ter uma melhor visualização da disposição dos jogadores no gramado e arquitetar as jogadas mais “cerebralmente”. Às vezes ter-se-á a sensação de estar jogando cabra-cega ao mesmo tempo que futebol! A situação pode ser remediada com visualizadas no útil “mapinha” com cursores na beira da tela.

Revivendo as recordações de Super Nintendo
Se você passou a infância jogando Deluxe ou o piratão Campeonato Brasileiro ‘96 no Super Famicom (ou mesmo no PlayStation, que recebeu um relançamento com algumas melhorias), então sabe o que está à espera nesse título, com a exceção principal de que tem um narrador decente agora, que inclusive cita todos os nomes de jogadores licenciados (o que não chega a ser metade dos atletas, mas já adiciona elegância e charme às transmissões!). Quanto ao contexto da máquina, embora ISS seja medíocre comparado a outros jogos muito mais divertidos pertencentes a outros gêneros, trata-se da melhor opção futebolística de GBA.
Rafael de Araújo Aguiar é sociólogo
Agradecimentos a Kristan Reed e Abhisara
versão 2 – 2013; 2025.