Categorias
Sem categoria

lunar: the silver star (scd)

Por Rafael de Araújo Aguiar

Sega CD

Lunar: The Silver Star

F I C H A    T É C N I C A

Developers Studio Alex, Working Designs

Publishers GameArts, Working Designs

Estilo Role Playing Game > Turnos

Datas de Lançamento 26/06/92 (JP), 12/93 (EUA)

NOTA

8.6

Este jogo é pra…

(  ) passar longe  (  ) dar uma jogadinha de leve  (X) dar uma boa jogada  (  ) jogar freneticamente  (  ) chamar a rua toda pra jogar  (  ) um tipo específico de jogador. Qual? ______  (  ) incógnita

Ocomeço dos 90 era um tempo sombrio para franquias de RPG no Ocidente. Como não era um negócio lucrativo nos Estados Unidos, as localizadoras não se empenhavam nos processos de tradução, se é que se preocupavam em fazer os RolePlays cruzarem o Pacífico, só para morrer nas prateleiras das lojas acumulando pó! A Working Designs –salve o pioneirismo! – sempre fôra uma exceção nesse quesito, e desde os primórdios explorou bem o nicho. Depois de alguns trabalhos competentes para o Turbografx-16, em 1993 a companhia se viu envolvida na tarefa algo demandante de portar para o inglês o sucesso Lunar: The Silver Star, em que a parte literária tem grande relevância. Sem dúvida um projeto elitista, já que os donos de Sega CD nunca foram assim tão numerosos. A conferir se uma prosa fluida era tudo o que Lunar:SS tinha a oferecer…

A versão original, nipônica, é da Studio Alex/Game Arts, de um ano antes (1992). Para a estreia da companhia na confecção de RPGs, não está nada mal! Algumas facetas mostram bem a idade do produto. O que chama a atenção logo de cara é a falta de informações, nas janelas de status, sobre a função dos itens, antes de comprá-los, no estoque das lojas. Armas e armadura não têm estatísticas exibidas antes que se execute a compra, contribuindo para a prodigalidade no uso do capital em Lunar. Aliás, itens comuns não têm seu propósito explicado em legendas nem mesmo depois de já estarem incorporados ao inventário, forçando testes e muita perda de tempo por parte do jogador, além de uma boa memória para não trocar alhos por bugalhos (para que serviam alguns itens estava relatado no máximo no manual de instruções!). Lunar:SS tem ainda sérias restrições à quantidade de itens passíveis de acumular. Sobretudo no começo da jornada essa falta de espaço poderá trazer problemas. Uma ligeira compensação é feita pela inclusão de Nall (uma criatura alada mais parecida com um gato, espécie de mascote tagarela da turma), mas ele também possui inventário restrito a algumas unidades. Fora da administração de itens e pertences, as batalhas se mostram lógicas e os menus, amigáveis.

Propriamente classificado como turn-based RPG, Lunar não deixa de se diferenciar por algumas peculiaridades em sua fórmula. Batalhas são “normais” no que tange ao uso de magia. Foge das expectativas do RPGista médio, no entanto, o cálculo do dano nos ataques físicos, que é afetado pela distância entre autor e vítima (alguém aí citou Sailor Moon: Another Story?). Se os ataques não forem adjacentes, não encaixarão. Quando a distância for acima da recomendável, o ofensor perderá turnos se deslocando. Isso não torna as coisas enfadonhas: as lutas não ficam mais longas por isso, já que bastam 2 ou 3 golpes de cada personagem da equipe (de 10 a 15 do time todo, que é no máximo um quinteto) para nocautear todos os adversários, e vice-versa. Golpes mais fortes tendem a empurrar os alvos para trás, acrescentando mais turnos de deslocamento. Um sistema que não é inédito hoje, mas que era ainda mais raro e único então. De original, tem-se, ainda, a opção de menu “flee”, que não é sinônima de “run”, até porque está listada acima dela: o personagem que a escolher correrá ao redor do campo de batalha tentando desviar do máximo número de ataques rivais, sem fugir em definitivo do combate.

Alguns PCs podem ficar bem encostados conforme o roteiro evolui. Nash e Mia ficam cada vez menos importantes e suas habilidades podem fazer cada vez menos em face dos poderes extraordinários adquiridos por Alex, Kyle e Jessica. Nada pior do que membros de equipe que sejam peso morto, ainda mais nas vésperas do epílogo! Se bem que Lunar apresenta alguns dos embates finais de dificuldade mais patética já vistos: os trechos mais exigentes estão logo no começo. O ganho de nível e experiência pelos personagens deixa a aventura como que fácil e leviana; além do mais, conseguir montanhas de ouro matando os oponentes é canja de galinha.

Alex, o protagonista, é um jovem do vilarejo de Burg. Sonhador contumaz, quer peregrinar pelo mundo em busca de aventuras, um dia. Seu ídolo é o DragonMaster Dyne. Não só seu, mas de toda uma geração. Como líder dos Quatro Heróis lendários ele derrotou o Dragão Negro que tinha ficado louco e devolveu a paz aos habitantes da terra. Dyne morreu pelos seus contemporâneos, essa é a verdade. Se de tempos em tempos um novo DragonMaster é eleito para proteger os ideais puros da deusa Althena (não seria uma paródia de Atena?), criadora do universo… quem sabe dessa vez Alex não é o selecionado? Enquanto a oportunidade não vem, ele passa bons momentos ao lado dos amigos Luna e Ramus. Ramus é o filho do chefe da vila e só o que quer é viver bem, rico e confortável; Luna mora com Alex, pois foi abandonada ainda bebê e achada pelos pais do menino e criada como sua irmã. Eles têm um certo vínculo supra-amistoso implicitamente reconhecido por todos em Burg. Faltou falar de Nall, a atípica companhia animal de Alex, um gato branco que adora planar, quase uma Navi (Zelda: Ocarina of Time), mas até mais versátil que uma fada. O mote para o começo da interação é um pedido de ajuda de Ramus direcionado a Alex referente a uma jóia valiosíssima possuída pelo Dragão Branco Quark, vivente nas cercanias de Burg. Ah, por que sempre obcecados por dragões esses integrantes de sociedades místico-medievais? Aqui o fetiche é tamanho que inventaram até que as fezes dos dragões são diamantes! A WD responde por grande parte da atração da estória tão manjada, com seus toques refinados de humor e linhas fáceis de descer pela goela, num inglês moderninho.

Nesta primeira era de animações, quando os consoles ainda engatinhavam nessa arte, o emprego de vídeos e seqüências não-jogáveis entre os desenrolares da trama está longe de freqüente, o que também não enfeza quem prefere atuar a assistir. O dado só precisava mesmo ser comentado porque são raros os games de 1993 no suporte compact disc, que podia oferecer recursos visuais mais elaborados, com mais memória de mídia para gastar.

Foi um crime o que os caras da GameArts fizeram com a versão PlayStation, de meia década depois: reciclaram toda a trilha sonora, mas, no caso, trocando o que era antológico por uma coletânea de decepções!

Encontramos aqui algumas das primeiras composições de Noriyuke Iwadare para videogames, e ele acertou o taco, para variar, apesar de certa oscilação juvenil (há contrastes entre as melhores canções e as mais infelizes, como se não fossem produto do mesmo gênio). Uma das características especiais do CD de jogo é que ele reproduz todas as faixas do título num som stereo comum, o que implica não só as BGMs mas até os diálogos (spoiler envolvido, caso você ainda não tenha contemplado as respectivas cenas), o que permite aos mais aficionados decorá-los e declamá-los por inteiro!

Lunar: The Silver Star apresenta o paradoxo de ser mais amado e odiado pela mesma categoria: os old school harcore RPG players. Uma ala adora os traços clássicos da narrativa e do sistema; outra se decepciona diante das não-tão-desafiadoras 20 horas de jogo, ou até menos, para quem ignore as side quests e siga linearmente até a zeração. Esse aspecto da duração, aliás, foi radicalmente melhorado nas versões de Lunar para outras plataformas, que vieram depois (o lado “ruim” é que desmaniqueismizaram o enredo e o último chefão ficou muito “humano”, mas isso fica para debate). De qualquer modo, LSS é um clássico do Sega CD, que sofre de uma terrível escassez de bons títulos.

Agradecimentos a JuMeSyn do RPGamer, Zigfried do honestgamers, YusakuG do gamefaqs e mobygames.com

versão 2 – 2013; 2024.

® 2002-2024 0ldbutg8ld / RAFAZARDLY!

Uma resposta em “lunar: the silver star (scd)”

Deixe um comentário