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snatcher (scd & al.)

Sega CD

+ PlayStation, Saturn e Turbografx-16.

Snatcher

F I C H A    T É C N I C A

Developer Konami

Publisher Konami

Estilos Adventure / RPG > Sci-Fi > Texto (Visual Novel/Digtal Comic)

DATAS DE LANÇAMENTO:

PC88 – 26/11/88 (JP)

MSX – 23/12/88 (JP)

(Estas duas primeiras versões, ainda dos 80, são sem dublagem e lhes falta um “terceiro ato”, por isso são consideradas outro jogo.)

Tgfx – 23/10/92 (JP)

SCD –  30/11/94 (EUA), 15/12/94 (EUR)

PS – 16/02/96 (JP)

SAT – 29/03/96 (JP)

NOTAS

9 (SCD)

7.72 (PS)

7.76 (SAT)

7.34 (Tgfx)

Este jogo é pra…

(  ) passar longe  (  ) dar uma jogadinha de leve  (  ) dar uma boa jogada  (X) jogar freneticamente  (  ) chamar a rua toda pra jogar  (X) um tipo específico de jogador. Qual? O jogo é melhor no Sega CD, mesmo para quem entende japonês.  (  ) incógnita

Snatcher é uma aventura cyberpunk lançada para um bom número de plataformas, mas disponível no Ocidente apenas pelo negligenciado Sega/Mega CD, periférico que permitia rodar CDs no obsoleto Mega Drive. A pouca fama do videogame não evitou que Snatcher fosse bastante cultuado pelos adeptos de uma narrativa ficcional futurista. A trama foi escrita e dirigida por Hideo Kojima, o cérebro por trás de pérolas como a série Metal Gear. As influências do trabalho podem ser delimitadas por alguns livros e filmes clássicos (da literatura e filmografia pós-moderna), tais quais Exterminador do Futuro, Neuromancer (novela de William Gibson, o criador do termo “ciberespaço”), Invasion of Body Snatchers (longa do longínquo ano de 1956) e, por que não, o imensamente influente Blade Runner. Meia hora de jogo basta para detectar elementos de cada uma dessas produções, porém num mundo completamente original. Curiosidade: snatcher no dicionário significa “assaltante; seqüestrador”.

Em 6 de julho de 1996 um super-vírus construído pelo homem é liberado acidentalmente nas imediações da Rússia e causa a morte de 80% da população da Eurásia e de metade dos habitantes da Terra. Eventualmente, sem que dê tempo das autoridades tomarem as devidas precauções ou obedecerem a um plano, o vírus sofre mutações e se torna inofensivo. 50 anos depois, Neo-Kobe, cidade construída na baía de Tóquio, abriga nova ameaça, ainda mais sinistra, que guarda alguma relação com a catástrofe do passado de cujas chagas a humanidade ainda não se curou. Andróides revestidos por fora como humanos, conhecidos como snatchers, matam pessoas escolhidas a dedo e tomam seus lugares, sem que se possa saber por meios seguros quem é e quem não é snatcher. Todos os governos do mundo estão apreensivos e solicitam ao Japão a eliminação do mal. Enquanto isso, Neo-Kobe fica sitiada. O jogador será Gillian Seed, recruta das forças anti-snatcher batizadas de “The Junkers” (Mais ou menos “Os Sucatas”, por oposição aos inimigos, tão modernos e avançados, embora J.U.N.K.E.R.S. também seja uma sigla em Inglês, que não cabe aqui transcrever! Em terceiro lugar, creio ainda ser uma referência aos aviões nazistas da II Guerra). O enredo é excepcional e intrigante, e não só no princípio. Mas seria um grave atentado ao gamer continuar contando-o e estragar sua gameplay.

O visual é cheio de cores sóbrias e frias e a trilha sonora, bem gótica e tenebrosa. Embora seja em desenhos, há cenas de violência e sexo, nada que deixe a classificação etária do jogo acima de teen. A versão de PlayStation sofreu diversas censuras. E ainda que a versão de Sega CD seja muito mais explícita, ela não pode ser considerada uma “director’s cut”: já houve a supressão de detalhes mais sórdidos das edições precursoras, japonesas, em plataformas como PC Engine Turbo CD (o Turbografx-16 Turbo Duo japonês), MSX 2 e PC-8801 (as duas últimas não-cobertas por este review). A perda, todavia, não foi substancial para o consumidor americano, limitando-se a algumas tripas e vísceras a menos e certa “alusão à pedofilia” retirada (ah, esses japoneses!).

A interatividade é basicamente regulada por textos, a quem as animações complementam muito bem. Um rol de ações será sempre mostrado na tela e o jogador optará pelo seu próximo passo na pele de Gillian. Quase todos os diálogos são falados. A dupla dinâmica – sim, porque Gillian tem um robô assistente, não injustificadamente chamado Metal Gear – que protagoniza a estória (é incrível como 2 cabeças sempre pensam melhor que 1 só em toda estória de detetive, além disso amainar a solidão do explorador) estará o tempo todo em interação. Um graceja com o outro e ajuda a tornar o clima mais leve. Uma característica de Gillian, acometido por uma crise de amnésia, que adiciona humor e irreverência ao título, é seu eu-mulherengo, que não mede as palavras nas conversas com entes do sexo oposto (que no fim podem muito bem ser snatchers disfarçados!). Para quem não deixa de curtir uma ação de vez em quando, alguns episódios são mais parecidos com um first-person shooter, com o personagem envolvido em tiroteios. Quem tiver o acessório SEGA Light Gun vai se deliciar com essas partes, que interrompem a calmaria do restante, essencialmente baseado em investigações minuciosas e quebra-cabeças desafiadores. Se bem que as revelações da plot são tão drásticas que farão alguns pularem da cadeira!

O que torna Snatcher um clássico, com nota 9, são a complexidade e vida própria de que seu mundo artificial é dotado. Pode-se traçar tranqüilamente um paralelo entre ele e System Shock, Deux Ex, Crusader e Baldur’s Gate, outros games cujo forte é a imensidão e veracidade de seus ambientes. Talvez a imersão nesta saga épica de Kojima não seja tão intensa quanto nestes 4, haja vista ser intermediada por menus, mas já é o suficiente para entreter por muitas horas. Só a título de exemplo, navegando pelo sistema de computador do HQ dos Junkers, vêm à tona numerosos detalhes sobre o estilo de vida dos snatchers, os esportes mais praticados nessa era hipotética da humanidade, informações sobre turismo e partidos políticos, economia, entre outros. É como se revistas semanais e jornais fossem acessíveis nesse pequeno mundo alternativo e juntos oferecessem um panorama não tão menos rico assim do que o que construímos no dia a dia lendo nossos jornais e revistas, tirante que já vivemos nessa realidade desde que nascemos!

As versões PSX e SAT estão longe de ser consideradas “definitivas”: mudanças mal-recebidas na OST e aberturas em CG no lugar do charmoso anime original, mostrando como a indústria ainda não estava madura o suficiente para os gráficos poligonais!

CURIOSIDADE: Snatcher deveria ter uma seqüência, planejada desde o início, pois os executivos da Konami veteram 4 dos 6 “atos” ou capítulos do primeiro Snatcher, alegando que ficaria muito caro e grande demais para um só jogo; eventualmente, a partir da versão Turbo CD, pelo menos o terceiro ato serviu como um epílogo satisfatório para a trama; ainda aguardamos, entretanto, a segunda metade! Outra fonte que li disse terem sido concebidos originalmente 8 atos, mas não posso confirmar esta informação! Enfim, levando em conta só o que temos (que já é considerada uma obra-prima), este ainda é, tragicamente, um jogo que nós só podemos experimentar no Sega CD, enquanto que os japoneses, que ironia, perderam sua melhor versão!

Agradecimentos a Niall Macdonald do consoleob.com;

elwittlif, FRIEDSTRUCK, noidentity, OuterHeaven2040 e Tachibana Ukyo do GameFAQs.

Por Rafael de Araújo Aguiar

versão 2 – escrito em 2013, ampliado e republicado no rafazardly em 2023.

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