Nintendo Entertainment System

Wolverine
F I C H A T É C N I C A
Developer Software Creations
Publisher LJN Ltd.
Estilo Ação > Side-scrolling 2D
Data de Lançamento 10/91 (EUA)
NOTA
5.5
Este jogo é pra…
(X) passar longe (X) dar uma jogadinha de leve ( ) dar uma boa jogada ( ) jogar freneticamente (X) chamar a rua toda pra jogar (X) um tipo específico de jogador. Qual? Fãs de X-Men que haviam experimentado Uncanny, de ‘89, da mesma produtora, e esperavam por uma redenção, ainda que mínima. ( ) incógnita
De uma coisa os marvetes, cinéfilos e gamemaníacos já devem saber: os X-Men não têm muitos inimigos. Ou macro-vilões. Pelo menos quando se trata de adaptações. Em todos os três filmes clássicos da série, nos anos 2000, Magneto era “o cara mau”. Nos jogos, ou é ele quem cumpre o papel ou o Apocalipse. Bem diferentes são os quadrinhos, pelo menos em quantidade. Mas só de contarmos as capas em que o rei do magnetismo aparece entendemos por que ele acaba sendo tão valorizado nas outras mídias. Como um dos últimos games lançados para Nintendo System, Wolverine, uma aventura-solo do herói mais carismático do time democrático de mutantes de todas as regiões do planeta e com os talentos mais diversos e bizarros, não foge à regra e traz Eric “Magneto” de novo no papel de carrasco, mas desta vez há outro sujeito que é ainda mais primordial e cabalmente odiado pelo protagonista, o que já está avisado na capa do jogo: Tigre Dentes-de-Sabre, um “sósia” um pouco mais feinho e peludinho de Logan! O objetivo-mor é, sem muitos rodeios, chutar seu (presumivelmente) peludo traseiro de uma vez por todas, justo na ilha demoníaca que o crápula preparou para ser o túmulo de Wolverine…
A melhor decisão da LJN, depois do fiasco da produção licenciada anterior, foi mudar o estilo de jogo para um horizontal-oriented action. As chances de se complicar na jogabilidade são invariavelmente menores quando se encurta uma dimensão. Essa medida, apenas, não torna um jogo perfeito. Wolverine é, aliás, cheio de falhas. Mas sua nota nos diz que ele é no mínimo duas vezes mais jogável que seu antecessor, The Uncanny X-Men, de dois natais passados. Progride-se tipicamente da esquerda para a direita pulando sobre abismos, matando “Surfistas Prateados” em série (outros dizem ser bonecos-de-massa da Rita Repulsa, só que com vitiligo!) nos dois primeiros estágios, alguns punks com shotguns (quem sabe Morlocks revoltados!) e Frankensteins com máscaras de ferro (é sério!), enquanto se desvia de espinhos, tenta-se não morrer afogado em áreas aquáticas e assim vai.

É isso mesmo que você está pensando: além de fumar charuto cubano, o cara gosta de junk food: muito bom poder regenerar os pulmões e os intestinos…
O ataque comum de Wolverine, o que deve ser empregado com regularidade, não são as esperadas garradas com o afiado adamantium retrátil de cada punho: usar essa técnica é um movimento final de desespero, terminantemente proibido caso o jogador não queira diminuir sua barra de vida, pois é o que essa função, estupidamente, provoca! Infidelidade total aos quadrinhos, no quesito… Chega a insultar o fã! Dá no mesmo acertar algo sólido com a garrada ou simplesmente golpear o vento: o aconselhável é não usá-la. Sobram apenas socos e chutes, que são péssimas ofensivas.
Outra invencionice, não-desprovida de qualquer nexo com o enredo original da série, mas um tanto mal-utilizada, é o medidor de berserk de Wolverine, ou seja, o indicador de quando o rapaz ficará furioso e incontrolável de verdade. Ele socará e chutará e se movimentará de forma aleatória durante alguns segundos, cabendo ao gamer um esforço extra para intentar não cometer nenhuma ação verdadeiramente prejudicial ao progresso no jogo. O que está em questão aqui não é a idéia de existência da barra, que até é uma boa idéia, mas a forma como ela vai se enchendo: Quanto mais acerta adversários ou quando o personagem consegue recarregar sua vida (hit points, o que é diferente dos berserker points) mediante bebidas energéticas (álcool?) e hambúrgueres, mais propenso à loucura ele está! Não deveria ser o contrário, para contrabalançar a dificuldade do jogo, com o auxílio de rompantes e combos executados por um guerreiro-animal acuado que sucumbe aos instintos de sobrevivência?! Contraditório ao extremo que Logan só possa usar seu lado animal quando menos precisa dele…

O que torna este jogo “coisa de doido” (e nem estamos falando do estado abilolado de Wolverine) é seu sistema de dano. Passar dois segundos em contato com um inimigo ou obstáculo pode reduzir sua barra de energia pela metade, porquanto não existe aquela invulnerabilidade temporária usualmente empregada nos jogos para dar tempo do controlador se recuperar! A melhor solução é sempre correr e sair de perto dessas coisas, quando móveis, porque elas não emitem pistas de estarem de fato sendo agredidas ou não pelos seus golpes, enquanto que a vida de Wolverine vai drenando rapidamente… Isso porque ele deveria ser um mutante com capacidades regenerativas excepcionais, imagina se não fosse! Curiosamente, a maneira de infligir mais dano é ajoelhando-se (para baixo no direcional) para acertar os adversários. A enorme desvantagem é na hora de se reerguer: demora um milênio! Portanto, ajoelhar-se em meio a um combate frenético é meio-suicídio. Não há o menor equilíbrio na mecânica, porque todos os movimentos se parecem mais com prejuízos insanáveis que com ferramentas para levar o jogador à vitória final.
O que torna Wolverine – o produto, não o homem – progressivamente mais intolerável e exasperante é o acúmulo de situações absurdas sem traços de planejamento (falhas de design). Tem um trecho em que Wolverine deve tentar empalar uma caveira (restos mortais) arremessando-a num pau a fim de usá-la como arma contra outros foes que estão nas cercanias. É mesmo a única maneira de agredir esses inimigos. Mas chegar perto demais da caveira significa sair-se, você mesmo, bastante ferido! Por que uma caveira inerte incrustada num pedaço de madeira, repousando no chão, pode ser tão perigosa assim para um sujeito virtualmente imortal (pelo menos nos quadrinhos)?! Irritação e frustração similares tomam conta do jogador quando ele tem de estacionar num dado lugar esperando o inimigo se locomover antes de poder saltá-lo ou desviar dele, contudo, no meio do processo, a plataforma em que está Wolverine cede sem aviso – e não há tempo algum para reagir. Resultado: uma vida a menos!

Uma mão adolescente também é bem-vinda! Para quem não sabe, Jubilee foi criada para a séria animada clássica pelos executivos da FOX, que queriam uma personagem de etnia chinesa entre os protagonistas; ela fez tanto sucesso que acabou sendo incorporada posteriormente no lore da HQ.
Como é possível constatar, o jogo deve muito mais de seu conceito visual e (parco) enredo às HQs que à série animada que se veiculou por muito tempo no Brasil na Fox Kids e na Globo (por meio da qual, confesso eu, apaixonei-me primeiramente pela marca, ainda criança), alguns anos depois. É por essa razão que o herói principal porta seu uniforme mais sóbrio em marrom e laranja, ao invés do azul-amarelo-preto que o caracterizou e o popularizou ainda mais no decorrer dos anos 90 (até que, no primeiro longa, de 2000, todos apareceram de preto). Mas por alguma razão inexplicável, Psylocke, que aparece para ajudar em momentos pontuais da narrativa, surge trajada como no show televisivo, ou seja, como se ambos os personagens estivessem em eras distintas do arco de estórias! Deve ser coisa do Bispo, que andou interferindo na timeline! Outro dado incompreensível é a presença de Havok (Destrutor no Brasil) como personagem secundário, que substitui Wolverine em alguns trechos da ação. Irmão caçula de Ciclope, com certeza Alex Summers não era o indivíduo mais indicado para acompanhar o desafeto de seu irmão, que sempre quis dar uma escapada com a Jean “Fênix” Grey, a cunhada de Alex/Destrutor. Por que consideraram Havok como o melhor amigo de Wolvie nesta adaptação, isso continua um mistério para mim!
Outra hipótese em que se controla Destrutor é em jogatinas para dois, que o cartucho possibilita. Uma terceira membro do time dos mutantes que faz ponta no jogo é Jubileu, como visto acima. A animação de Wolverine é fluida, seu correr é convincente e o título passa uma ótima impressão gráfica, principalmente para aquele período de fim de carreira do NES, em que os protagonistas ainda não costumavam ocupar grandes espaços na tela.

As músicas lembram as do jogo Alien 3 (da própria LJN que, aliás, comprava muitos direitos para fazer videogames de nomes consagrados, se dando mal quase todas as vezes), sombrias na medida certa, embora sejam poucas.
Wolverine poderia ter sido um senhor jogo, se o processo de produção não fosse tão negligente em aspectos decisivos como a resistência do personagem e seus heterodoxos e ineficientes modos de ataque. Poderia ter sido o primeiro jogo eletrônico a fazer real justiça ao selo X-Men. Ainda não seria dessa vez, na era 8-bit. Mas o saldo é positivo, se pensarmos em quem estava por trás do projeto: vindo dos caras da LJN, um side-scrolling jogável até a quinta fase (mais ou menos a metade) é um completo sucesso!
Agradecimentos a Braben, evilbacteria, dead_assassin e eekos do gamefaqs;
Eileen “Raptor Red” Stahl do somethingawful.com;
e ao manual de instruções oficial do jogo.
Por Rafael de Araújo Aguiar
versão 2 – criado em 2012, atualizado em 2022.
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