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o bosque preto-e-branco e a floresta vetorial

O bosque preto-e-branco e a Floresta vetorial:

Um videogame diferente de tudo o que você já viu (e jogou)!

Vectrex

Dark Tower

FICHA TÉCNICA

Developer GCE

Publisher Bootleg

Estilo Adventure

Data de Lançamento N.A. (não houve – o jogo foi cancelado em sua versão beta)

NOTA

4

Este jogo é pra…

(  ) passar longe  (X) dar uma jogadinha de leve  (  ) dar uma boa jogada  (  ) jogar freneticamente  (  ) chamar a rua toda pra jogar  (X) um tipo específico de jogador. Qual? Fãs de raridades extremas do mundo dos games. (X) incógnita

Dark Tower: o único game do gênero “Aventura” para o extremamente raro Vectrex, um videogame contemporâneo dos Atari 2600 e 5200, além do ColecoVision e Intellivision. Diferentemente de todos os demais, o Vectrex oferecia gráficos vetoriais, e não baseados por pontos na tela (pixels), o que aumentava a potencialidade de seu processamento gráfico, embora tornasse o mecanismo de display de imagens mais esquisito e, para todos os efeitos, meramente bicolor (lembra, num contexto um tanto diferente, é verdade, o Virtual Boy, maior fracasso da história da Nintendo). Como todas as telas de televisão comercialmente disponíveis trabalham por pontos, o Vectrex já continha seu próprio monitor, de 9 polegadas, parecido com a tela dos fliperamas, pois era maior latitudinalmente. Dark Tower, como um dos menos de 30 cartuchos existentes para Vectrex, é ambientado numa floresta dividida em 4 partes, cada uma contendo uma chave e muitos baús com outros power-ups e riquezas. Mas é fora da floresta que se encontra o elemento fulcral do jogo, capaz de gerar algum suspense momentâneo: a Torre Escura. Desnecessário dizer que ela precisa de 4 chaves para ser acessada…

Será que o cabeça-de-hexágono marciano vai conseguir sair dessa encrenca?

A caracterização da floresta é extremamente simplista. Se há alguma beleza que possa capturar a atenção dos gamers, está nos personagens com que o protagonista – um soldado sobre quem não constam maiores detalhes – vai interagir, como o mago ou o cangaceiro. Na realidade há um minigame recorrente em DT que transporta o jogador, ao abrir baús, da floresta a cômodos com figuras retilíneas, em que se deve brincar de pique-esconde – uma variedade mortal dele – com alguns entes misteriosos. Cada parte poderá arremessar flamoids (que palavra amável, não?) na oposta. A jogabilidade é tridimensional, sendo possível evitar os flamoids (bolas de fogo, supõe-se) recuando, adiantando-se alguns passos ou se locomovendo para as laterais. O prêmio é um verdadeiro coringa. Na pior das hipóteses, o jogador se dá mal justamente por ter uma boa pontaria e conseguido ganhar a partida: espalha-se uma fumaça assassina ou teleportadora, no melhor estilo L O S T, que pode bagunçar ou terminar com a aventura num piscar de olhos! Os perigos não são exclusivos das salas contidas nos baús mágicos. Há ainda monstros que se escondem atrás das árvores e gostam de atirar estrelas-ninja.

Agora, vamos a uma lista de bizarrices que todo gamer sadista adora ler nos meus reviews: observe que o protagonista foi renderizado sem roupas (ressalvamos que se trata de uma versão de jogo em tese inacabada, mas que pode ser inclusive finalizada pelo jogador; então, é até razoável pensar que não mexeriam mais nos gráficos, a partir do ponto em que se encontram), exceto por algo em sua cabeça, ou um capacete romano ou um moicano (como a estrutura é iconizada por uma linha grossa vertical e o boneco é visto de cima, como que pela visão de um cinegrafista alado, não podemos cravar uma resposta). Não é altamente imoral e suspeito que exista um cara correndo pra lá e pra cá em uma FLORESTA sem nada que tape suas pudicícias, mas que tenha se dado ao trabalho de passar gel no cabelo ou vestir seu capacete?!

Andar, andar, abrir baús, jogar o minigame das flamoids, desviar de shurikens… A variedade não é das mais intensas. Ainda mais porque a velocidade é inacreditavelmente ridícula: 2 ou 3 frames por segundo. Talvez as mortes ocorram por falta de agilidade do boneco em responder os comandos, mas jamais por falta de reflexo. Não com seres humanos normais controlando!

Pode-se até tolerar a idiossincrasia do “pelado taradão” (o que, para quem não percebeu, não passa de uma descarada exageração de minha parte, mas realmente as fotos indicam que a roupa do herói não foi trabalhada pelos designers), a lentidão de lesma da ação e os BEEP BEEP primatas do hardware (1983, lembra?), mas o que ficou decididamente fora do lugar é o título Dark Tower. Para um jogo cuja duração quase que integral transcorre em um bosque, chamar os poucos minutos (em que você tem de resolver um puzzle) que se passam dentro da torre de CENTRAIS na narrativa é como que admitir que ele fracassou, porque, se era para haver um clímax, como a aparição de um chefão ou qualquer reviravolta digna de se testemunhar, esse ficou de fora do produto final! Ou do produto não-finalizado que temos em mãos. Um melhor título de batismo (se é que o jogo foi mesmo batizado) poderia ser “The Forest Wanderer”, que tal?

Não se exige muito nos comandos: uma tecla mostra o inventário – como na tela mais acima –, outra abre baús, o direcional movimenta. E na tela basta um dos pontos cardeais ou colaterais (southeast, SE, norwest, NW, etc.) e um número como “bússola”.

Ainda com todos os defeitos, DT é uma das primeiras tentativas de oferecer uma aventura estilo RPG medieval em formato tridimensional, e merece nosso reconhecimento pelo pioneirismo. Além disso, parece ser o título mais raro entre os já escassos para Vectrex, o que o torna sinônimo de cobiça suprema por parte dos colecionadores. Alertamos que mesmo pelo emulador (que não é nem mesmo ilegal baixar e usar ilimitadamente, já que uma empresa comprou os direitos do Vectrex e liberou sua encarnação digital, com todas as ROMs, para download) a experiência não seria rigorosamente a mesma, já que monitores, não importa qual, hoje, são baseados em pontos para mostrar imagens, então as linhas do jogo serão estruturas improvisadas, visivelmente quebradas, e não vetores em si. Isso dá uma idéia do quanto o Vectrex, que existiu comercialmente por no máximo 2 anos, adquiriu um status de cult entre os idólatras da história dos games, cheia de capítulos sui generis como o da incursão pelos gráficos vetoriais!

Agradecimentos a Wyrdwad e Kestrel

Por Rafael de Araújo Aguiar

versão 2 – escrito em 2012, editado em 2022.

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